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Ao longo da semana, ele voltou.
Com desculpas diferentes. Às vezes observava, às vezes treinava. Levava cafés, fazia perguntas. E ela, por mais que tentasse manter distância, sentia o campo magnético entre eles crescer a cada dia.
Os olhares duravam segundos demais. As palavras vinham com duplo sentido. Ele elogiava suas aulas, mas o tom... dizia outras coisas.
Ela corrigia a postura dos alunos com toques firmes e profissionais, mas sentia a pele queimar sob o olhar dele. Quando demonstrava os exercícios, ele a assistia como quem presencia um espetáculo íntimo.
Na quarta-feira, o treino havia acabado. Os alunos tinham ido embora. Só restavam os ecos das conversas, o cheiro do suor e da borracha dos colchonetes empilhados.
Ela limpava os halteres quando ouviu a voz dele atrás de si:
- Está fugindo de mim, Giovana?
Ela virou lentamente.
- Talvez.
- Por quê?
- Porque você me desestabiliza.
Guilherme sorriu de canto, se aproximando devagar. Um passo, depois outro. O som das gotas da chuva recém-iniciada batendo no telhado ecoava no espaço quase vazio.
- E se eu dissesse que você faz o mesmo comigo?
- Eu duvidaria.
- Por quê?
- Você tem controle demais sobre tudo. Pessoas como você não se desestabilizam.
Ele parou a menos de meio metro dela.
- Com você... eu perco o eixo.
Ela riu, nervosa.
- Eu sou uma mulher que aprendeu a desconfiar do fácil demais.
- Mas nada em você é fácil. Nem um pouco.
Ele a tocou. Primeiro, de leve, com os dedos na linha da cintura. Depois com mais firmeza. Os olhos mergulhados nos dela. Ela podia sentir o cheiro dele: amadeirado, com fundo cítrico e suor recém-seco. A pele quente, a respiração controlada.
- Se me beijar agora... - ela sussurrou.
- ...não vou conseguir parar - ele completou.
O silêncio se estendeu entre os dois como um fio prestes a romper.
E foi ela quem rompeu.
O beijo começou como um choque. Denso. Urgente. Mas depois... foi crescendo. A boca dele era intensa, exigente, mas respeitava o ritmo dela. As mãos seguravam sua cintura com precisão. A língua dele explorava como se já soubesse o caminho. Ela gemeu baixo, e sentiu o mundo girar. O corpo dele pressionando o dela contra a parede da sala. As mãos firmes, mas cuidadosas. Os lábios dele escorregando pelo seu pescoço. O calor subindo entre as coxas. O desejo tomando forma, pulsando sob a pele.
- Isso... - ela arfou. - Isso não devia estar acontecendo aqui.
- Mas está - ele sussurrou. - E não vou pedir desculpas por te querer.
Ela o empurrou de leve, ofegante. Os olhos ardiam.
- Isso não muda nada.
- Não?- Ele sorriu. - Muda tudo!
Nos dias que seguiram, o jogo continuou.
Guilherme passou a convidá-la para sair. Cafeterias, um restaurante tailandês escondido num beco em Pinheiros, um rooftop com vista para o Ibirapuera. Saídas que começavam com conversas sobre fisiologia, empreendedorismo, e terminavam com olhares longos, mãos que se tocavam por acidente, promessas silenciosas de noites por vir.
Numa dessas noites, jantavam em um bistrô discreto em Higienópolis quando Carla apareceu.
Ela estava estonteante. Vestido justo vermelho escuro, salto agulha, maquiagem impecável. E claro, acompanhada por dois assessores e um fotógrafo.
Ela se aproximou como uma atriz em cena.
- Guilherme - ela disse, beijando o rosto dele. E então virou-se para Giovana. - E você deve ser... a acompanhante da vez?
Giovana não se intimidou.
- E você, a ex que ainda não entendeu o que a palavra "fim" significa?
Carla riu. Mas havia veneno no riso.
- Espero que ele não canse de você tão rápido quanto com as outras. Boa sorte com isso.
E se foi.
Guilherme quis falar algo, mas Giovana já havia voltado a olhar o cardápio. Não precisava de defesa. Sabia se virar.