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O sol ainda não havia nascido quando Mia acordou com o alarme. Ela pulou da cama, vestiu-se às pressas e saiu correndo para a empresa, sem tempo sequer para o café da manhã. Havia ajustes de última hora para o evento beneficente - detalhes que só ela e Cassandra conheciam e que precisavam ser resolvidos antes do grande dia.
O escritório estava vazio, exceto pelo segurança noturno que a cumprimentou com um aceno sonolento. Mia mergulhou nos arquivos, revisando contratos e confirmando horários. Cassandra chegou por volta das dez da manhã, vestindo um tailleur impecável e com seu habitual olhar afiado.
"Ainda bem que veio cedo", disse Cassandra, sem sorrir, mas com uma nota de aprovação na voz. "Os fornecedores de flores enviaram a nota errada."
Mia suspirou aliviada. "Já resolvi. Eles vão cobrar apenas o valor combinado."
Cassandra ergueu levemente uma sobrancelha. "Bom trabalho."
Era o máximo de elogio que Mia poderia esperar dela.
O dia passou num turbilhão de atividades. Às três da tarde, finalmente tudo estava resolvido. Mia olhou para o relógio e sentiu um frio na barriga. O evento começaria às oito da noite, e ela ainda precisava se transformar de funcionária dedicada em convidada elegante.
A corrida contra o tempo começou. O salão de beleza era um luxo que Mia normalmente não poderia permitir-se, mas esta noite valia a pena. Cabelo escovado até brilhar, unhas pintadas de vermelho escuro, sobrancelhas perfeitamente delineadas - cada detalhe foi cuidadosamente executado. Ela saiu do salão às seis e vinte, com o coração acelerado. John viria buscá-las às sete e meia.
Quando chegou em casa, encontrou o apartamento em relativa desordem, mas Sophia já a esperava, vestindo um roupão e com um pincel de maquiagem na mão.
"Você parece uma louca!", riu Sophia, puxando Mia para dentro. "Vamos, eu te ajudo."
Em dez minutos, Sophia transformou o cabelo ainda úmido de Mia em ondas perfeitas. Em quinze, a maquiagem estava impecável - um olho esfumado que realçava seu olhar, batom combinando com as unhas. Mia vestiu o vestido preto de alcinhas finas, elegante e justo ao corpo, com um decote discreto que sugeria mais do que mostrava.
"Você está incrível", disse Sophia, girando-a para frente do espelho. "Pronta para conquistar o mundo."
Mia sorriu, mas o toque da campainha a fez saltar.
"É ele!"
John Locke esperava ao lado do carro, um sedan preto e luxuoso. Vestia um smoking que, mesmo em seus sessenta e poucos anos, o fazia parecer um homem de presença marcante. Seus olhos percorreram Mia de cima a baixo, e um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios.
"Você está deslumbrante, Mia."
Ela sentiu o rosto esquentar. "Obrigada. Você também está muito elegante."
Ele abriu a porta do carro para ela, e Mia quase engasgou ao ver Cassandra já sentada no banco de trás.
Cassandra estava irreconhecível.
O habitual coque severo dera lugar a cachos soltos que caíam sobre seus ombros nus. O vestido vermelho que usava era justo, o tecido brilhando como sangue sob a luz do entardecer. Seus lábios, normalmente franzidos em reprovação, estavam pintados da mesma cor intensa, e seu olhar - normalmente tão impiedoso - agora era intenso, quase desafiador.
"Você... está linda", Mia não conseguiu evitar dizer.
Cassandra sorriu - um sorriso genuíno, raro. "Você também."
John entrou no carro e, sem mais palavras, partiram.
O hotel Laurent era um monumento de mármore e luzes. Fotógrafos se aglomeravam na entrada, flashes disparando a cada novo convidado que chegava. Quando o carro de John parou, Mia sentiu um frio na espinha.
"Não se preocupem", John olhou para as duas. "Apenas sigam meu exemplo."
E elas seguiram.
Os flashes explodiram quando saíram do carro. Mia manteve a postura ereta, sorrindo naturalmente, mas por dentro seu coração batia acelerado. Cassandra, ao seu lado, parecia nascida para aquilo - cada movimento era gracioso, cada olhar calculado.
Dentro, o salão era um sonho. Lustres de cristal pendurados no teto alto, mesas cobertas por toalhas brancas e arranjos de flores caríssimos. Pessoas vestidas com trajes que custavam mais que o salário anual de Mia circulavam com taças de champanhe, rindo de piadas que ela não entendia.
John as apresentou a algumas figuras importantes - um magnata do setor imobiliário, uma herdeira de uma fortuna farmacêutica, um político sorridente cujo aperto de mão era firme demais. Mia sorriu, acenou, fez pequenas conversas, mas sentia-se como um peixe fora d'água.
Foi Cassandra quem a salvou.
"Precisamos de um drink", disse ela, puxando Mia para o bar, longe dos olhares curiosos.
"Obrigada", Mia respirou fundo. "Eu me sinto tão... fora do lugar."
Cassandra olhou para ela, e pela primeira vez Mia viu algo parecido com compreensão em seus olhos.
"Eles não são melhores que você", disse Cassandra, entregando-lhe uma taça de champanhe. "Apenas nasceram em berços diferentes."
Mia sorriu, aliviada. Talvez Cassandra não fosse tão má assim.
O evento continuou, a música suave enchendo o salão, as risadas se misturando ao tilintar de copos. Mia começava a relaxar, até que, em meio à multidão, viu John acenando para elas.
"Preciso de vocês", disse ele, sua voz séria. "Agora."
Mia trocou um olhar com Cassandra. Algo estava prestes a acontecer.