Capítulo 3 Sussurros na chuva

A chuva começou a cair forte e, em poucos minutos, a tempestade rugia com uma fúria quase cerimonial. O som da água batendo no teto do café de Lila era ensurdecedor, e as luzes piscavam, deixando a atmosfera suspensa entre a realidade e o sonho. Os três estavam lá dentro, presos em um abrigo improvisado, enquanto lá fora o mundo parecia derreter na água.

Aroon pareceu não ser afetado. Com seu sorriso habitual, despreocupado e quase insolente, ele se aproximou do bar. Ele deslizou uma cadeira para trás com elegância casual.

-Parece que estamos presos. - disse ele, servindo-se de um copo de água. Ficamos esperando a tempestade passar ou saímos e fazemos papel de bobos, encharcados como crianças?

Lila o observou. Aquela mistura de humor e atrevimento que o cercava como um escudo a fez sorrir, mas também despertou nela uma ansiedade que ela não conseguia nomear. Aroon tinha um jeito de desarmar os silêncios que às vezes machucavam demais. Entretanto, o que a perturbava agora não era ele, mas a maneira como seu coração batia cada vez que seus olhos encontravam os de Thanom.

Thanom ficou afastado, encostado na parede como se o tempo não tivesse efeito sobre ele. Seus olhos seguiam a chuva com uma concentração quase dolorosa, como se procurasse algo perdido em cada gota. Havia uma quietude nele que não era indiferença, mas algo muito mais profundo, algo que a convidava a ficar perto mesmo que ele não dissesse uma única palavra.

Aroon quebrou o silêncio, como se o momento pesasse menos para ele do que para os outros.

"Um pouco de ar fresco nunca faz mal a ninguém", disse ele, abrindo um pouco a janela. A chuva molhava seu rosto, mas ele não parecia se importar. Ele fechou os olhos, como se deixasse beijar pelo caos.

Lila não se moveu. Em vez disso, ela atravessou a sala em direção a Thanom, como se fosse guiada por uma corrente invisível. A tempestade rugia, mas o que rugia dentro dela era mais alto.

-Por que você não se junta ao Aroon? - ele perguntou, sem muita intenção por trás das palavras. Era uma pergunta que escondia outras.

Thanom lentamente virou o rosto para ela. Seus olhos não eram uma resposta, eram uma promessa: silenciosa, inevitável. Neles, Lila sentia uma ternura perigosa, dessas que tocam onde a gente não sabe mais se proteger.

E então, sem pensar, ele pegou a mão dela.

Foi um ato pequeno, quase tímido, mas pareceu um salto no vazio. Os dedos de Thanom eram quentes, firmes, e sua imobilidade só intensificou a tensão entre eles. Eles não disseram nada. Não era necessário. Ela caminhou com ele até a porta dos fundos do café. Lá fora, a tempestade parecia dançar com fúria.

Ali, abaixo do limiar, a chuva os envolveu. O vento batia em seus rostos e a água deslizava sobre sua pele como uma carícia desconfortável. Thanom não soltou sua mão. Sua proximidade era um refúgio diferente, onde Lila se sentia nua, sem máscaras.

-Você nunca tem medo? - ela perguntou num sussurro, surpresa com a própria voz. Eu não sabia se ele estava falando sobre a chuva ou o que ele sentia.

-Sim. -respondeu ele, com uma honestidade que a desarmou-. Mas há medos que prefiro não enfrentar.

Lila engoliu em seco. Seu corpo estava encharcado, mas tudo o que ela sentia era o calor que emanava da conexão entre eles. Ele fechou os olhos. Não por causa da chuva, mas porque olhar para Thanom naquele momento era demais.

E naquele momento, uma risada os trouxe de volta à realidade.

-Você vai ficar aí a noite toda ou quer companhia? -Aroon apareceu na porta atrás deles. Sua figura silhuetada pela luz do quarto, seu sorriso tingido de sarcasmo... e algo mais. Algo que ele não conseguiu identificar.

Lila soltou a mão de Thanom, mas o fez lentamente, como se não quisesse. Aroon não os julgou, mas o brilho em seus olhos não era mais apenas diversão. Eu tinha visto algo. E Lila sentiu isso como um golpe forte no peito.

-Não estou surpreso que você tenha encontrado uma maneira de fazer até uma tempestade parecer... interessante. - Aroon acrescentou, aproximando-se, com um tom leve, mas com o olhar fixo nela.

Lila não respondeu. Ele simplesmente voltou para dentro, caminhando lentamente em direção à janela. Ele sentou-se na cadeira que Aroon havia deixado vazia. A chuva continuava a bater no vidro, mas agora, cada gota parecia lhe dizer algo. Um eco distante de tudo o que eu estava começando a sentir e não sabia como parar.

Thanom e Aroon eram como dois extremos da mesma história que estava apenas começando a ser escrita.

Ela não conseguia escolher. Ainda não. Mas algo dentro dele já estava começando a se inclinar.

E enquanto a tempestade continuava a devastar o mundo, Lila sabia que aquele momento - tão breve e tão intenso - nunca a deixaria.

            
            

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