Capítulo 2 Alivio - Cristian

Meu pai é a pessoa mais bondosa que conheço, e não digo isso apenas por ser meu pai, mas porque é a verdade. No entanto, quando o assunto são negócios, ele se transforma em alguém implacável. Não hesita em arriscar tudo para manter o legado da família intacto. Tenho orgulho de ser seu filho, mas esse orgulho é testado quando suas decisões afetam diretamente a minha vida.

Hoje foi um daqueles dias intermináveis, cheios de discussões, incertezas e pressões que parecem não ter fim. E agora, de forma repentina, estou indo para Roma. Sim, assim do nada. Uma das vantagens de ter dinheiro é poder fugir sem grandes planos ou explicações.

Roma sempre foi o lugar favorito da minha mãe. Sempre que preciso de um refúgio, um lugar para pensar e me sentir acolhido, é para lá que eu vou. Tenho ótimas memórias de lá. Talvez, no fundo, eu esteja tentando me reconectar com ela. Ou talvez esteja apenas fugindo das responsabilidades que me sufocam.

Sem querer, esbarro em uma mulher enquanto caminho apressadamente, derrubando o que ela segurava. Ela reage com certa irritação, sua voz carregada de frustração, mas consigo entender. Está claro que o dia dela também não está sendo fácil.

Abaixo-me para pegar o papel que caiu, e, ao me levantar, fico completamente sem reação quando nossos olhos se encontram. Seus olhos cor de safira contrastam com os cabelos escuros, que caem em ondas suaves, emoldurando um rosto delicado, marcado por cansaço. Sua pele clara reluz sob a luz do ambiente, com uma leve vermelhidão nas bochechas - talvez resultado do nosso encontro inesperado.

Temos uma breve interação, claramente desconfortável para ela. Entrego-lhe o papel, e, quando nossas mãos se tocam por um instante, há uma faísca sutil no ar.

Fico parado, observando-a se afastar. Um sorriso bobo surge no meu rosto, e, por um momento, me sinto estranho por estar tão encantado com algo tão simples. Mas não consigo evitar.

Os alto-falantes anunciam meu voo, me trazendo de volta à realidade. Acelero os passos, percebendo que estou quase atrasado para o check-in. Passo pela segurança e sigo para o portão de embarque. Quando encontro meu assento, vejo que é ao lado da mulher que, minutos antes, se apresentou como "não te interessa".

Sento-me ao seu lado e, antes que consiga me conter, solto uma piada. Ela revira os olhos sem dizer nada, mas não consigo ignorar o leve brilho divertido que surge em seus olhos safira. Meu coração acelera, e uma vontade inesperada de ouvir mais da sua voz me invade.

Ela parece determinada a me ignorar, mas tento iniciar uma conversa.

- Eu sou bom de conversa, você vai ver - digo com um sorriso leve, tentando quebrar sua resistência.

Ela me lança um olhar fulminante, como se estivesse me estrangulando mentalmente. E, de alguma forma, isso só me deixa mais fascinado.

O avião decola e o silêncio se instala entre nós. Vinte minutos depois, ela já está apagada como uma pedra. Aos poucos, vai se aproximando e, sem perceber, deita a cabeça no meu ombro. Por impulso, passo o braço ao redor dela, e ela se aconchega no meu peito, respirando profundamente.

"Que porra eu tô fazendo?" penso, mas não consigo afastá-la. O calor do seu corpo é reconfortante, e algo em mim se recusa a interromper o momento.

Sem perceber, também acabo adormecendo. Quando acordo, minutos antes da aterrissagem, ela ainda dorme, relaxada contra mim. Para dormir assim, deve estar exausta há dias. Uma mecha de cabelo caiu sobre seu rosto, entrando levemente em sua boca entreaberta. Com cuidado, coloco-a atrás da orelha, roçando os dedos em sua pele macia.

Um som estranho escapa dos meus lábios, um misto de surpresa e... algo mais que prefiro não nomear. Ela se mexe, ajustando a cabeça, mas não acorda. Fico ali, parado, observando-a, com o coração completamente fora de ritmo.

            
            

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