Capítulo 5 Ligações - Louise

Acordo com o som insistente do meu celular. Ainda grogue de sono, estico a mão até a mesa de cabeceira e vejo o número do meu pai brilhando na tela. Respiro fundo antes de atender.

- Alô? - atendo com a voz rouca de sono.

- Louise, onde você está? - Ele pergunta de forma fria.

- Estou bem, pai. Não se preocupe. - Tento manter a calma ao falar.

- Não me venha com essa! Você tem ideia do que está fazendo? Fugir do seu próprio noivado, como uma criança mimada. Eu não acredito que você fez isso! - A raiva transborda na voz dele.

- Pai, eu não podia... Eu não quero casar com um completo estranho e ser infeliz. - Tento explicar, mas sei que ele não vai aceitar isso como resposta.

- Isso não é questão de querer, Louise! Você sabe muito bem disso. - Ele pausa. - Você nos envergonhou, Louise, na frente dos Wills. O filho deles se sentiu tão humilhado pelo que você fez que saiu sem que pudéssemos nos desculpar. - Ele rosna ao telefone, e eu posso imaginar a expressão cortante de seu rosto.

- Você vai voltar para casa agora mesmo ou não respondo por mim.

- Eu não vou voltar, pai. - Minha voz treme, mesmo com a tentativa de me manter firme.

- Se você não voltar, não tem mais lugar nesta família. Está me ouvindo? - Ele ameaça. Eu acredito em suas palavras, pois, como ele mesmo vive dizendo: "a dignidade do homem depende da sua palavra, um homem incapaz de cumprir sua palavra é apenas um covarde."

- Se é isso que você quer, então eu aceito. - Minha voz é tão fria quanto a dele.

- Louise, não seja estúpida! Se eu cortar seus cartões, você vai voltar igual um rato para casa - sua voz carregada de frustração e raiva.

Eu sei que minha família é dona de três das maiores cadeias de hotéis do país, e que eu poderia passar o resto da minha vida sem precisar trabalhar, mas, sem que meus pais soubessem, encontrei um emprego há pouco mais de um ano como produtora musical, um campo que, apesar de não ser o mais seguro, permite uma satisfação que só a faculdade de música me proporcionou nesses últimos anos.

Tenho uma boa reserva financeira, o que me permite ter um certo nível de independência, mesmo longe do conforto que minha família poderia oferecer.

- Eu não me importo. - Retruco com sinceridade.

- Não seja ridícula, Louise. Você sabe o que está em jogo aqui.

- Dinheiro. É só isso que sempre está em jogo.

- É isso que está pagando seus luxos, não é mesmo? - silêncio - Você vai fazer vinte e cinco anos em um mês, e o testamento deixa claro que, se você não estiver casada, não terá direito a um centavo. Aí eu quero ver como você vai continuar se bancando, porque eu me recuso a ajudá-la, depois dessa vergonha que você está me fazendo passar.

Ele não está errado em relação ao testamento. Meus avós realmente colocaram uma cláusula com idade máxima para que eu me casasse. A parte mais injusta de tudo isso é que meus tios e primos receberam a parte da herança estipulada sem qualquer impedimento. Mas, para minha alegria, além de deixarem cinquenta por cento de tudo para mim, me deram um legado para seguir e algumas imposições - e casar é uma delas.

Sinceramente, não quero ouvir mais nada. Sem hesitar, desligo o telefone.

Sinto a adrenalina da raiva correndo nas minhas veias, seguro o impulso de gritar ou de quebrar qualquer coisa ao meu redor. Me jogo na cama e olho para o teto como se isso fosse ajudar a amenizar a raiva.

Preciso respirar antes que eu fique louca por pensar demais. Visto a primeira roupa da mala, escovo os dentes, pego minha bolsa de mão e a chave do quarto e saio em direção à rua.

O ar fresco da manhã romana é bem-vindo. Ando pelas ruas de paralelepípedos, sem destino em mente, deixo meus pés me guiarem até minhas pernas queimarem. O cheiro de café fresco e de pão recém-assado invade meus sentidos. Sem pensar muito, entro em uma fila que se forma em frente a uma padaria.

Peço um suppli. De acordo com o panfleto, é uma especialidade romana que consiste em um bolinho de arroz frito, recheado de queijo derretido. Não tem como essa combinação dar errado.

O sabor quente e reconfortante começa a suavizar a raiva que ainda sinto. O sol já está mais alto, aquecendo a cidade e iluminando cada detalhe das construções antigas. Quando resolvo sentar em um dos bancos espalhados pelas calçadas, fico admirando tudo ao meu redor com um sorriso bobo. Já viajei para muitos lugares lindos e, em nenhum momento, pensei em conhecer Roma. Se eu pudesse voltar no tempo, teria escolhido ela em primeiro lugar com toda certeza.

Um grupo de pessoas está reunido, escutando atentamente o guia que fala com entusiasmo sobre a história da Fontana di Trevi. Me junto a eles, meio distraída. Tudo ali parece mais fascinante do que qualquer coisa que o guia esteja falando.

A fonte é composta por várias esculturas de figuras mitológicas. No centro, encontra-se a estátua de Netuno, de pé em uma carruagem em forma de concha, puxada por dois cavalos-marinhos, um conjunto de figuras femininas ao redor, colunas... não se sabe o quão lindo é até ver pessoalmente. A água da fonte reflete o céu acima, com tons de azul e verde. Alguns lançam moedas na água. Algo nas palavras do guia me traz de volta.

- De acordo com a tradição - ele diz -, você pode jogar uma moeda para garantir que voltará a Roma.

Me inclinei um pouco para frente, curiosa.

- Mas, se você jogar duas moedas - continuou o guia, com um sorriso quase suspirante -, encontrará o amor.

Levantei as sobrancelhas, tentando disfarçar minha descrença com um leve sorriso. Amor? Eu não acreditava muito nessas coisas, mas a ideia era interessante. Um simples gesto e, duas moedas depois, de repente o destino poderia ser de outra maneira?

Peguei duas moedas da minha bolsa e me aproximei da fonte. Fechei os olhos e, com um desejo mudo, lancei as moedas na água.

- Se você jogar a terceira, terá um casamento abençoado.

A voz masculina soou atrás de mim, fazendo meu coração bater descompassado. Me virei, deparando com Cristian.

- O quê? - perguntei. O fato de ele mencionar casamento me deixou perturbada, como se soubesse que eu iria me casar, algo que apenas as duas famílias envolvidas estavam cientes. Era um segredo bem guardado, e que só seria publicado após a oficialização.

Cristian sorriu levemente, os olhos brilhando como os de uma criança. - Jogue a terceira moeda para ter um casamento feliz.

- Eu não vou me casar.

Cristian arqueou uma sobrancelha, com um sorriso que misturava diversão e certeza. - Você não vai ser uma solteirona para o resto da vida, Louise.

Ele tem um ponto, mas a verdade é que eu vou casar sim, infelizmente daqui a algumas semanas.

Cristian retirou três moedas do bolso da sua calça preta e as lançou na fonte. - Viu? Não é tão difícil, Louise.

Havia algo no tom dele que parecia entender a minha situação mais do que eu gostaria.

Peguei a terceira moeda da minha bolsa, hesitei por um momento e, com um suspiro, a lancei na fonte.

- Satisfeito?

- Muito.

Ele se acomoda ao meu lado, o perfume amadeirado se espalhando ao meu redor. Ele tem um cheiro diferente. Eu reconheço o perfume - muitos homens adoram a fragrância -, mas, nele, o cheiro é viciante. Dá vontade de ficar horas ao lado dele só para continuar sentindo a essência.

Um silêncio confortável se instala entre nós. Eu não o conheço e deveria levar em consideração o que os pais falam sobre não conversar com estranhos. Ainda assim, estou interagindo com um cara que vi mais vezes em algumas horas do que meu noivo.

- Você vai fazer alguma coisa à noite? - Ele pergunta, enfiando as mãos nos bolsos.

- Se eu disser que não, você vai me convidar para um encontro? - provoquei.

Ele me observa com um olhar curioso. E lá está ele, o sorriso com covinha que faz o tempo parar.

Merda, se ele continuar sorrindo assim para mim, vou acabar dizendo sim para qualquer coisa que ele quiser.

- É isso que você quer? - A pergunta sai séria, os olhos castanhos escuros me encaram. De alguma forma, sinto minha garganta secar.

- Bom, se esse for o caso, estou ocupada. - De alguma forma, sinto minha garganta secar.

Ele ri, um som suave e encantador. - É só um passeio, e você pode chamar seus amigos. Prometo que não é um encontro, mesmo porque uma mulher bonita como você dificilmente estaria solteira.

Uau, ele acabou de me elogiar.

Dou um leve sorriso, tentando disfarçar a surpresa. - Bem, se você insiste... Talvez eu considere. Mas só se for realmente um passeio.

- Não se preocupe, Scartt, eu sei ser cavalheiro. - Ele pisca, um brilho malicioso nos olhos. - Às oito estarei esperando por você.

A voz dele é sexy e rouca, e, ao ouvir essas palavras, sinto um calor repentino se espalhar pelo meu corpo. Ele sai, sem dar qualquer chance de eu responder, o que só aumenta a sensação de excitação no meu corpo.

Fico ali por um momento, absorvendo o impacto do que acabou de acontecer. Ele se distancia, e o ambiente ao meu redor parece voltar lentamente ao normal. O burburinho ao meu redor aumenta, trazendo-me de volta à realidade.

                         

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