A Missionária E O Dono Do Morro
img img A Missionária E O Dono Do Morro img Capítulo 2 O Preço do Amor
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Capítulo 6 A Redenção img
Capítulo 7 A Esperança Renascente img
Capítulo 8 O Retorno ao Passado img
Capítulo 9 O Fim do Império img
Capítulo 10 Visitas e Esperança img
Capítulo 11 Cicatrizes e Recomeços img
Capítulo 12 A Maré de Desconfiança img
Capítulo 13 Conflito nas Ruas img
Capítulo 14 A Guerra Não Terminou img
Capítulo 15 A Emboscada img
Capítulo 16 Uma Luta Desigual img
Capítulo 17 O Jogo Psicológico img
Capítulo 18 A Morte de um Monstro img
Capítulo 19 O Retorno ao Crime img
Capítulo 20 A Última Cartada img
Capítulo 21 A Visita de Sofia img
Capítulo 22 O Apelo Final img
Capítulo 23 O Desfecho Imediato img
Capítulo 24 O Retorno à Realidade img
Capítulo 25 O Último Desafio img
Capítulo 26 A Última Corrida img
Capítulo 27 Declarando Guerra img
Capítulo 28 O Resgate Impossível img
Capítulo 29 A Falsa Paz img
Capítulo 30 O Peso da Escolha img
Capítulo 31 Quando a Guerra Não Termina img
Capítulo 32 Escolhendo o Caminho img
Capítulo 33 A Recuperação de Sofia img
Capítulo 34 O Conflito Interno de Sofia img
Capítulo 35 Sofia – Entendi que Era Julgo Desigual img
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Capítulo 2 O Preço do Amor

A tensão no morro aumentava a cada dia. Marcos, o Capitão, sentia o peso da responsabilidade que carregava sobre seus ombros, e Sofia, a missionária, continuava a sua jornada, espalhando sua mensagem de fé. Ela não sabia como, mas algo nela ainda acreditava que ele poderia ser salvo. No entanto, à medida que seus caminhos se cruzavam mais frequentemente, ela também começava a perceber que não seria fácil; ele era um homem marcado pela dor, pela violência e pelos pecados que cometera.

Mas, ao mesmo tempo, havia algo mais em Marcos, algo que Sofia não conseguia deixar de notar - uma fragilidade oculta, algo que ele tentava desesperadamente esconder.

Naquela noite, a escuridão do morro parecia mais densa do que nunca. O cheiro de fumaça e a tensão no ar indicavam que algo grande estava prestes a acontecer. Sofia estava em sua pequena igreja improvisada no centro do morro, orando silenciosamente. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas sentia que a guerra entre o bem e o mal estava prestes a atingir um ponto sem retorno.

Foi então que Marcos apareceu na porta da igreja. Ele estava tenso, com o olhar endurecido, mas havia algo diferente nele - uma dúvida, uma indecisão.

- Você aqui? - Sofia disse, surpresa ao vê-lo. Ele nunca havia vindo até ali, nem mesmo para desafiá-la.

- Eu preciso falar com você, missionária, - disse ele, a voz grave, mas com uma leve hesitação.

Sofia, sem saber o que esperar, acenou com a cabeça e indicou que ele entrasse. A igreja, que estava vazia, parecia ainda mais silenciosa com a presença dele. Ele se aproximou, como se fosse inevitável, como se soubesse que não poderia mais fugir daquilo.

- Eu estou perdendo o controle - Marcos admitiu, seus olhos desviando para o chão. - O morro está começando a desmoronar, Sofia. Os outros traficantes querem me derrubar. As coisas estão fugindo do meu controle. Eu... eu não sei o que fazer.

Ela o observou atentamente. Não era a primeira vez que ele expressava sua insegurança, mas sempre com uma camada de arrogância ou desdém. Desta vez, ele parecia vulnerável. O que ela via em seus olhos não era o líder impiedoso do tráfico, mas um homem à beira de um abismo, alguém que tinha perdido o rumo e não sabia mais como voltar.

- Marcos, - disse Sofia, com a voz suave, - você não está sozinho. Pode não parecer, mas há um caminho para você sair disso. Não importa o que tenha feito, há sempre a possibilidade de começar de novo. A fé é a chave para isso. Deus nunca abandona quem realmente busca a mudança.

Ele a olhou, os olhos escuros penetrando os dela, tentando entender se ela realmente acreditava naquilo ou se apenas dizia as palavras para aliviar sua consciência.

- E o que você acha que Deus vai fazer por mim, Sofia? - perguntou ele, rindo com amargor. - Me salvar? Depois de tudo o que fiz? Eu sou um monstro. Eu sou o mal, o pior tipo de homem. Não existe perdão para mim.

Sofia deu um passo à frente, seus olhos fixos nos dele, firmes e seguros.

- Não há pecado que seja grande demais para a graça de Deus, Marcos. Eu entendo o que você pensa de si mesmo, mas a única coisa que você precisa fazer é dar um passo de fé. Você já deu tantos passos no caminho errado, mas se você mudar sua direção, Deus te ouvirá.

Marcos sentiu um nó na garganta. Ele sempre foi o homem forte, imbatível, que comandava tudo. Mas aqui estava ela, uma mulher pequena, sem poder algum diante de seu mundo, oferecendo-lhe algo que ele jamais imaginou querer: perdão e redenção. O que ela dizia parecia impossível, mas ao mesmo tempo, fazia sentido. O peso do que ele carregava, as mortes, as traições, as escolhas erradas... tudo aquilo começava a parecer insuportável.

- Eu não sei se sou capaz disso, Sofia, - disse ele, mais para si mesmo do que para ela. - Não sei se posso mudar. Não sei o que fazer com tudo o que sou.

Sofia estendeu a mão para ele, seu gesto simples, mas cheio de uma sinceridade que Marcos não conseguia ignorar.

- Você não precisa saber de tudo, Marcos. Você só precisa dar o primeiro passo. O resto, Deus se encarrega.

Por um momento, eles ficaram ali, em silêncio. O barulho distante da violência do morro parecia afastado, como se o tempo tivesse parado. Marcos sentiu uma confusão intensa, um turbilhão de emoções que nunca havia experimentado antes. Ele estava dividido entre seu orgulho e o que sentia dentro de si. Poderia confiar em Sofia? Poderia confiar nela o suficiente para seguir seu caminho? E, mais importante, ele poderia acreditar que sua vida ainda tinha valor?

Antes que ele pudesse responder, o som de tiros ecoou ao longe, interrompendo o momento silencioso entre eles. Marcos olhou para Sofia, e a expressão em seu rosto mudou rapidamente para uma de preocupação.

- Não é seguro aqui, Sofia. Você tem que sair. Eles estão vindo.

Mas ela não se moveu.

- Eu não vou a lugar nenhum. Estou aqui para ficar. Aqui é o meu lugar, Marcos. E você também pode encontrar o seu, se realmente desejar isso.

Ele sentiu uma raiva súbita, uma revolta que o consumiu momentaneamente. Mas, antes que ela pudesse perceber, a raiva se dissolveu. Ele não sabia mais o que estava acontecendo com ele. Ele nunca havia se sentido assim - confuso, vulnerável, inseguro. Mas, ao olhar para ela, algo dentro dele dizia que ela estava certa. Havia algo mais além da violência, da dor, do medo.

Ele olhou para ela mais uma vez, e, sem dizer uma palavra, se virou e saiu da igreja, seu coração acelerado com o peso da decisão que estava tomando.

Os dias seguintes foram difíceis. O morro estava mais violento do que nunca, e a guerra pelo controle estava em seu auge. Mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação estranha de que algo estava prestes a mudar. Sofia continuava sua missão, levando fé e esperança a quem queria ouvir. Ela sabia que sua missão estava apenas começando, mas também sabia que ela não estava sozinha nesse caminho. Algo mais a guiava, algo maior que ela mesma.

Enquanto isso, Marcos se via cada vez mais perdido em sua própria mente. Ele tentava afastar os pensamentos de Sofia, mas não conseguia. As palavras dela, sua presença, o desafiaram de uma forma que ele não imaginava. Ele sabia que, se realmente queria mudar, teria que lutar contra tudo o que havia sido. Mas será que ele conseguiria? O preço de mudar era alto, e ele sabia que sua vida no tráfico não o permitiria fazer isso sem consequências.

Mas, no fundo, ele sabia que a verdadeira batalha não estava no morro, não estava contra seus inimigos. Estava dentro dele mesmo. Ele teria que escolher: continuar sendo o homem que todos temiam ou tentar ser o homem que Sofia acreditava que ele poderia ser.

A guerra que se travava no morro não era nada comparada à guerra que se travava dentro de Marcos.

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Este é o ponto de virada da história, onde a jornada de Marcos começa a tomar um novo rumo, e Sofia continua a ser a força silenciosa que pode guiá-lo, se ele escolher seguir a luz. A luta por sua redenção é uma batalha interna e externa, onde a verdade, o amor e o perdão terão que se confrontar com a violência e o pecado que definiram sua vida até então.

            
            

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