A Missionária E O Dono Do Morro
img img A Missionária E O Dono Do Morro img Capítulo 5 O Caminho da Transformação
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Capítulo 6 A Redenção img
Capítulo 7 A Esperança Renascente img
Capítulo 8 O Retorno ao Passado img
Capítulo 9 O Fim do Império img
Capítulo 10 Visitas e Esperança img
Capítulo 11 Cicatrizes e Recomeços img
Capítulo 12 A Maré de Desconfiança img
Capítulo 13 Conflito nas Ruas img
Capítulo 14 A Guerra Não Terminou img
Capítulo 15 A Emboscada img
Capítulo 16 Uma Luta Desigual img
Capítulo 17 O Jogo Psicológico img
Capítulo 18 A Morte de um Monstro img
Capítulo 19 O Retorno ao Crime img
Capítulo 20 A Última Cartada img
Capítulo 21 A Visita de Sofia img
Capítulo 22 O Apelo Final img
Capítulo 23 O Desfecho Imediato img
Capítulo 24 O Retorno à Realidade img
Capítulo 25 O Último Desafio img
Capítulo 26 A Última Corrida img
Capítulo 27 Declarando Guerra img
Capítulo 28 O Resgate Impossível img
Capítulo 29 A Falsa Paz img
Capítulo 30 O Peso da Escolha img
Capítulo 31 Quando a Guerra Não Termina img
Capítulo 32 Escolhendo o Caminho img
Capítulo 33 A Recuperação de Sofia img
Capítulo 34 O Conflito Interno de Sofia img
Capítulo 35 Sofia – Entendi que Era Julgo Desigual img
Capítulo 36 A Luta Contra a Desobediência img
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Capítulo 5 O Caminho da Transformação

A batalha no morro havia se intensificado. O tiroteio não dava trégua e a fumaça que se erguia do asfalto queimado parecia engolir o céu. Marcos, imerso na violência de sua própria escolha, sabia que estava diante do maior dilema de sua vida. A luta que se desenrolava ao seu redor era a representação física da batalha que se travava dentro dele.

Ele havia mandado seus homens para frente, enfrentando os inimigos com a feroz lealdade que sempre os motivara. Mas, enquanto liderava a ofensiva, seus pensamentos estavam com Sofia. A imagem dela, aliada à sua fé, o acompanhava por toda parte. A sensação de que, apesar de tudo, ela ainda acreditava nele, lhe dava forças, mas também lhe dava uma dor aguda. Como ele poderia ser o homem que ela via, o homem em que ela acreditava, se suas mãos estavam manchadas de sangue?

A dúvida o corroía, mas a decisão que ele tomava a cada movimento em campo era de um homem que ainda não sabia quem realmente era. O grito de seus subordinados, a ordem para avançar, a adrenalina da batalha, tudo isso ainda o envolvia. Mas uma parte de sua mente estava em Sofia. Ele sabia que, se quisesse, poderia fugir, poderia abandoná-la e sua fé, retornando ao seu império de terror. Mas algo dentro dele já não mais queria isso.

Quando a luta se acalmou, e a poeira das ruas começava a se dissipar, Marcos se viu em um momento de trégua. Seus homens estavam abatidos, alguns feridos, mas ele havia vencido a batalha. No entanto, a vitória estava vazia. Ele não sentia a satisfação do poder que sempre tivera. Em vez disso, sentia um peso em seu peito, um vazio, como se tudo o que ele conquistara ao longo dos anos fosse insignificante diante de uma decisão muito maior que ele ainda não sabia como tomar.

Marcos se afastou dos seus homens, retirando-se para um canto isolado do morro. Sua mente estava tumultuada. Pensava em Sofia, em suas palavras, em sua fé. Pensava também nos rostos daqueles que ele havia destruído ao longo dos anos, nas vidas que ele havia tirado. Ele sabia que não podia continuar daquela forma, mas estava com medo do que sua transformação significava. Seria possível deixar para trás tudo o que ele era e começar de novo?

Enquanto caminhava pelos becos, pensando em tudo o que aconteceu, seu celular vibrou. Ele sabia que poderia ser algum dos seus aliados ou um informante. Mas, ao ver o nome no visor, seu coração parou por um momento. Era Sofia.

Ele hesitou. Sabia que ela provavelmente estaria em algum lugar esperando por ele, talvez na igreja, como ele havia pedido. E no fundo, ele desejava ir até lá, procurá-la, dizer-lhe que ele estava pronto para lutar, não contra os outros, mas contra si mesmo. Contudo, a dor e o medo da rejeição tomaram conta de seu corpo.

Com a respiração suspensa, ele atendeu.

- Sofia, - ele disse, a voz trêmula. - Eu preciso ver você.

Ela respondeu quase imediatamente.

- Marcos, você está bem? Onde está?

Ele podia ouvir a preocupação em sua voz, e isso o fez se sentir ainda mais frágil.

- Estou... estou indo até a igreja. Eu... preciso conversar com você.

A ligação se encerrou e Marcos caminhou até o local onde sabia que ela o aguardava. Sua mente estava um turbilhão de pensamentos conflitantes. Ele já sabia que não tinha mais escapatória. A vida que ele havia escolhido era insustentável, e ele estava pronto para tomar as rédeas do seu destino, mas não sem antes enfrentar o maior de todos os desafios: a redenção.

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Quando Marcos entrou na igreja, o silêncio parecia abraçá-lo, como se o lugar fosse um refúgio distante de toda a violência que ainda marcava o morro. Ele olhou em volta, vendo as velas acesas, o altar simples e, ao fundo, Sofia, ajoelhada em oração. Ela estava ali, fiel à sua missão, ainda acreditando que, apesar de tudo, ele poderia mudar.

O som suave de sua oração foi a primeira coisa que Marcos ouviu. Ela estava tão concentrada que não o viu entrar. Mas, quando ele se aproximou, ela se virou lentamente, e seus olhos se encontraram. O calor no peito de Marcos aumentou, mas também foi acompanhado por uma dor. Ele sabia que, de alguma forma, estava perdendo algo, ou talvez já tivesse perdido. No entanto, a esperança que havia em Sofia nunca desaparecera. Ela nunca o havia abandonado, nem mesmo quando tudo parecia perdido.

- Sofia, - disse ele, a voz mais baixa do que ele pretendia. - Eu... não sei o que fazer.

Ela se levantou, e seus olhos estavam serenos, mas havia uma suavidade em sua expressão que refletia a compreensão. Ela sabia que o homem que estava diante dela não era mais o mesmo. O peso do que ele carregava era visível, mas ela acreditava nele, como sempre acreditara.

- Marcos, - respondeu ela com calma. - Você não precisa saber tudo de uma vez. Não precisa carregar o mundo nos ombros. O que importa agora é que você reconhece o que precisa mudar. E isso já é um começo.

Ele a olhou profundamente, sentindo uma dor pungente em seu peito. Ele sabia que suas palavras não eram apenas para ele. Elas eram para o homem que ele estava se tornando, para a pessoa que ele desejava ser, mas que ainda não sabia como alcançar.

- Eu já fiz coisas que não têm perdão. Não sei se posso mudar, Sofia. Aquele homem... aquele homem que matou, que destruiu tantas vidas, ainda está dentro de mim. Eu não sei se consigo deixá-lo para trás.

Ela se aproximou dele, com os olhos brilhando de compaixão.

- O perdão não é sobre esquecer o que aconteceu, Marcos. É sobre reconhecer que, por mais que os erros tenham sido feitos, há sempre um caminho para a transformação. Deus não te pede para apagar o passado. Ele te pede para escolher um futuro diferente.

Ele fechou os olhos, sentindo o peso de suas palavras, e então, finalmente, se permitiu falar.

- Eu quero mudar, Sofia. Eu só... não sei como.

Ela colocou a mão suavemente em seu ombro.

- O primeiro passo é acreditar. E você já deu esse passo, Marcos. Você já viu o que está errado. Agora, só precisa se entregar à mudança. O resto virá com o tempo.

Marcos olhou para ela, seu olhar ainda cheio de dúvida, mas algo dentro dele havia começado a se quebrar. Pela primeira vez, ele sentiu uma leveza no coração. Ele não estava mais sozinho. Ele não precisava lutar contra seu passado sozinho. Ela estava ali, ao seu lado, e Deus também estava.

Enquanto os dois permaneciam em silêncio, o som de um trovão distante ecoou do lado de fora, como uma metáfora para a tempestade interna que ele ainda enfrentava. Mas, pela primeira vez, ele sentiu que, talvez, o sol realmente pudesse brilhar após a tempestade.

E assim, começou a jornada de Marcos. Não mais o Capitão, não mais o homem do morro, mas um homem que finalmente estava pronto para se encontrar - e, quem sabe, encontrar o perdão e a paz que tanto procurava.

                         

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