Refúgio em seus braços
img img Refúgio em seus braços img Capítulo 2 Um mundo à parte
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Capítulo 6 Sombras na Noite img
Capítulo 7 A Ilusão de Controle img
Capítulo 8 A Primeira Fissura img
Capítulo 9 Algo no Ar img
Capítulo 10 Um Momento de Fragilidade img
Capítulo 11 As Fendas no Muro img
Capítulo 12 Limites Embaçados img
Capítulo 13 Confronto img
Capítulo 14 Mudanças img
Capítulo 15 Seu lar img
Capítulo 16 Uma família img
Capítulo 17 Helena a havia escolhido img
Capítulo 18 À Contracorrente img
Capítulo 19 O peso do mundo nas suas mãos img
Capítulo 20 Tempestade no Topo img
Capítulo 21 Cimentos de Cristal img
Capítulo 22 Agora é a minha vez img
Capítulo 23 El Preço do Poder img
Capítulo 24 La guerra havia começado img
Capítulo 25 Encruzilhada de Fogo img
Capítulo 26 O Passado que Nos Persegue img
Capítulo 27 O abismo da verdade img
Capítulo 28 Verdades Inconfessáveis img
Capítulo 29 Sem escapatória img
Capítulo 30 Só entender img
Capítulo 31 Verdades que queimam img
Capítulo 32 O primeiro passo img
Capítulo 33 Sin Escapamento img
Capítulo 34 A traição que nos vai salvar img
Capítulo 35 La Jogada Inesperada img
Capítulo 36 Bajo a Tempestade img
Capítulo 37 Entre o Caos e a Verdade img
Capítulo 38 Sombras em Movimento img
Capítulo 39 El Olho do Inimigo img
Capítulo 40 La caça mal acabava de começar img
Capítulo 41 Caçadores na Escuridão img
Capítulo 42 O Preço da Lealdade img
Capítulo 43 Caçadores e Presas img
Capítulo 44 Rumo à Vingança img
Capítulo 45 O Preço da Vingança img
Capítulo 46 A Queda do Império img
Capítulo 47 Cinzas de um Império img
Capítulo 48 Rainha das Sombras img
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Capítulo 2 Um mundo à parte

O interior do carro era quente, silencioso e terrivelmente desconfortável. Não porque os assentos de couro preto não fossem confortáveis - na verdade, eram a coisa mais macia que Emma havia sentido em muito tempo -, mas porque o clima entre ela e Helena Laurent era tão tenso que parecia que se podia cortá-lo com uma faca.

Emma olhava pela janela, observando a cidade passar rapidamente diante de seus olhos. O carro seguia com fluidez, sem os solavancos que ela costumava enfrentar no transporte público. Ela nem sequer se lembrava da última vez que estivera dentro de um automóvel de luxo como aquele. Talvez nunca.

- Vai me dizer para onde está me levando ou pretende apenas me sequestrar? - perguntou finalmente, rompendo o silêncio.

- Não sou do tipo que faz coisas sem um propósito - respondeu Helena sem desviar os olhos do celular. - Se eu quisesse algo de você, já teria deixado isso claro.

Emma bufou.

- Isso não me tranquiliza muito.

Helena largou o celular no colo e a olhou de soslaio.

- Você não tem muitas opções, tem?

Emma apertou os dentes.

- Não.

- Então pare de agir como se tivesse e aceite a ajuda quando ela for oferecida.

Emma cruzou os braços e desviou o olhar, sentindo a raiva e o orgulho se misturarem em seu peito. Odiava o fato de Helena ter razão.

O carro parou em frente a um prédio que, à primeira vista, parecia mais um hotel cinco estrelas do que uma residência. As portas automáticas se abriram assim que Helena desceu, e um porteiro impecavelmente vestido a cumprimentou com uma leve inclinação de cabeça.

Emma desceu do carro com cautela, sentindo-se completamente deslocada. Suas roupas encharcadas contrastavam com o chão de mármore polido, com as enormes janelas e a iluminação cuidadosamente planejada para ressaltar a elegância do saguão.

- Você mora aqui? - perguntou, sentindo-se ainda menor em meio a tanto luxo.

- Sim - respondeu Helena, sem emoção. - Vamos.

Emma obrigou-se a mover as pernas, seguindo Helena pelo saguão até um elevador privativo. Um homem de terno - provavelmente um segurança - inclinou a cabeça assim que as viu.

- Senhora Laurent.

- Ninguém sobe sem minha autorização - foi tudo o que Helena disse antes de apertar o botão do elevador.

Emma engoliu em seco quando as portas se fecharam e o elevador começou a subir. O silêncio era esmagador, e a sensação de estar presa no mundo de Helena se tornou ainda mais forte.

- Você deveria me dizer o que espera de mim - disse Emma, olhando-a com desconfiança. - Não acho que gente como você faça algo por bondade.

Helena a observou com calma antes de responder:

- Não espero nada de você, Emma.

A maneira como pronunciou seu nome a fez estremecer.

- Então, por que está fazendo isso?

- Porque posso.

A resposta foi tão simples e direta que Emma ficou sem palavras.

Quando as portas do elevador se abriram, Emma sentiu que entrava em outro mundo. A cobertura de Helena Laurent era imensa, com enormes janelas que ofereciam uma vista panorâmica da cidade iluminada. Tudo no lugar exalava elegância e controle: os móveis minimalistas, os tapetes impecáveis, a decoração sóbria e caríssima.

Emma sentiu um nó na garganta. Nunca tinha estado em um lugar como aquele. Nunca tinha sentido tanta distância entre a sua realidade e a de outra pessoa.

Helena tirou o casaco e o pendurou num cabideiro antes de se virar para ela.

- Pode tomar um banho, se quiser. Há roupas limpas no quarto de hóspedes.

Emma franziu a testa.

- Quarto de hóspedes?

- Esperava dormir no sofá? - Helena arqueou uma sobrancelha. - Não sou tão cruel.

Emma não soube o que responder. No seu mundo, até mesmo um sofá seria um luxo.

- Faça o que quiser. - Helena caminhou até o que parecia ser seu escritório. - Só não faça barulho. Estou trabalhando.

Emma ficou parada no meio da sala, sentindo seu cérebro tentar processar a situação. Havia passado de dormir na rua para estar na cobertura da mulher mais poderosa do país em poucas horas.

Não fazia sentido.

Não podia confiar em Helena.

Mas, ao ver seu reflexo numa das janelas - suas roupas encharcadas, sua pele pálida, seu cabelo emaranhado e sua expressão exausta -, soube que não podia recusar o que estava sendo oferecido.

Pela primeira vez em muito tempo, teria uma cama.

Com passos cautelosos, dirigiu-se ao quarto de hóspedes.

O banho foi quase um choque sensorial. A água quente relaxou seus músculos tensos, e o sabonete perfumado a envolveu num aroma ao qual não estava acostumada. Demorou-se, deixando que o calor a envolvesse por completo, tentando ignorar a sensação de que estava invadindo um espaço que não lhe pertencia.

Quando saiu do banho, encontrou uma muda de roupa dobrada sobre a cama: uma calça confortável e uma blusa limpa. Nada ostensivo, mas muito melhor do que o que ela tinha.

Olhou-se no espelho do banheiro.

Pela primeira vez em meses, seu reflexo não parecia o de uma estranha.

Helena terminou de revisar os relatórios em seu computador e esfregou as têmporas com cansaço. Levantou-se da escrivaninha com a intenção de servir-se de um uísque, mas parou de repente ao ver Emma na sala.

A mulher já não tinha aquele ar de desespero e sujeira que a envolvera antes. Seu cabelo ainda úmido caía sobre os ombros, e a roupa limpa lhe dava outra aparência. Mas o que realmente surpreendeu Helena foi a expressão em seu rosto.

Emma estava de pé junto à janela, com as mãos sobre o ventre, olhando para as luzes da cidade com algo que parecia saudade.

Helena cruzou os braços.

- Em que está pensando?

Emma se sobressaltou levemente e a olhou com cautela.

- Que isso não é real - disse em voz baixa. - Amanhã volto para a rua.

Helena apoiou-se no batente da porta.

- Quem disse que você precisa voltar?

Emma semicerrrou os olhos.

- Não entendo o que você quer de mim.

Helena suspirou, dando alguns passos à frente.

- Nada, Emma. Eu não quero nada de você.

Emma soltou uma risada amarga.

- Isso não existe no seu mundo.

- Talvez não - admitiu Helena. - Mas desta vez é verdade.

O silêncio se instalou entre elas.

Emma sentiu a incerteza tomar conta de si. Não podia confiar em Helena, mas algo na forma como ela a olhava, na segurança com que falava, a fazia pensar que talvez... apenas talvez... ela não estivesse mentindo.

E essa ideia era ainda mais assustadora.

            
            

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