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O ar na cafeteria ficou pesado, denso, quase irrespirável. Valeria sentiu as pernas tremerem, mas não podia se permitir demonstrar fraqueza. Não na frente dele.
Leonardo a observava com aquele olhar penetrante que parecia atravessá-la até a alma. Suas palavras ainda flutuavam no ar, ameaçadoras, como uma bomba prestes a explodir.
- Achou que eu nunca descobriria?
Valeria engoliu em seco.
- Não sei do que você está falando - respondeu, obrigando-se a manter a compostura.
Leonardo soltou uma risada baixa, sem humor.
- Não brinque comigo, Valeria. Não depois de todo esse tempo.
Ele se endireitou e colocou a mão no bolso do paletó, tirando o celular. Com alguns toques na tela, virou o aparelho para ela.
E lá estava Emiliano.
Uma foto nítida, tirada de longe. Seu filho, seu pequeno, brincando no parque sem saber que estava sendo observado.
O coração de Valeria parou.
O pânico correu por suas veias como um veneno letal.
- Como...? - sussurrou, sentindo o ar faltar.
Leonardo afastou o celular e a encarou.
- Realmente achou que poderia escondê-lo de mim para sempre?
O medo a paralisou. Ela nunca quis que isso acontecesse. Nunca quis que Emiliano crescesse sob a sombra dos Montenegro, cercado de frieza, negócios e ambições impiedosas.
O instinto materno se ativou imediatamente.
- Você não tem o direito de nos espionar - cuspiu, com a voz carregada de raiva e medo. - Não tem o direito de aparecer depois de cinco anos e exigir algo que nunca foi seu.
Os olhos de Leonardo brilharam de fúria.
- Que não é meu? - repetiu, dando um passo à frente. Seu tom era frio, perigoso. - Esqueceu que eu também sou o pai dele?
Valeria sentiu um calafrio percorrer sua espinha.
- Você não é - sussurrou. - Não de verdade. Você não estava lá quando ele nasceu, quando chorou pela primeira vez, quando deu seus primeiros passos. Você não sabe nada sobre ele.
Leonardo a encarou com intensidade, o maxilar travado.
- Porque você me roubou isso.
Ela fechou os olhos por um instante. Sim, ela tinha feito isso. E faria de novo, se fosse preciso.
- Não vou permitir que você o arraste para o seu mundo - disse com determinação. - Emiliano é uma criança feliz. Ele não precisa de você.
Leonardo sorriu, mas não era um sorriso caloroso. Era calculista, frio.
- Isso não é você quem decide.
O medo a atingiu como uma onda.
- O que você está dizendo?
Ele inclinou a cabeça, como se saboreasse o momento.
- Estou dizendo que meu filho tem o direito de me conhecer. De estar comigo. E eu não vou ficar de braços cruzados enquanto você decide por ele.
Valeria sentiu o chão sumir sob seus pés.
- Você não pode fazer isso - sussurrou. - Não pode simplesmente aparecer aqui e...
- Posso fazer o que quiser, Valeria - ele a interrompeu, com uma certeza absoluta. - E acredite, eu não vou parar até recuperar o que é meu.
O ar saiu dos seus pulmões.
Leonardo Montenegro não fazia promessas em vão.
E Valeria sabia disso melhor do que ninguém.
O som do relógio na parede parecia amplificado, como um lembrete implacável da passagem do tempo. Valeria não conseguia parar de sentir a angústia tomando conta dela, sufocando-a pouco a pouco. Sua mente girava em círculos, buscando respostas que não tinha, tentando encontrar uma forma de escapar do que parecia inevitável. Leonardo havia voltado, e sua ameaça era clara: "Não vou parar até recuperar o que é meu."
O que isso significava?
Valeria olhou para a mesa à sua frente, onde seu celular repousava sobre uma pilha de papéis. Cada mensagem que recebia parecia mais urgente do que a anterior. Ao seu redor, o barulho da cafeteria seguia seu curso normal, mas na mente dela tudo estava em silêncio, como se um muro invisível a isolasse da realidade.
Fechou os olhos por um momento e respirou fundo.
Não podia perder o controle. Não podia deixar Leonardo obrigá-la a recuar.
Levantou-se da cadeira e caminhou até a janela, olhando para a cidade de Puebla, que se estendia diante dela com sua paisagem tranquila, quase idílica. Naquele momento, o ruído da rua, o burburinho da vida cotidiana, se misturava com a presença de Leonardo, um lembrete constante do que estava por vir. O retorno do homem que havia deixado uma marca em sua vida de uma maneira que ela jamais imaginou ser possível.
E então havia Emiliano.
Emiliano.
O menino que nem sequer sabia o que estava acontecendo, alheio a todo o caos que se desenrolava ao seu redor. Aquele pequeno com seu sorriso encantador, tão parecido com Leonardo, mas tão seu ao mesmo tempo. Valeria fechou os punhos.
Não podia permitir que nada acontecesse a ele.
Mesmo que seu coração dissesse que a batalha não seria apenas difícil, mas perigosa. Leonardo Montenegro não era um homem que aceitava perder, muito menos quando se tratava de algo que ele considerava seu. E Emiliano... Emiliano era seu filho.
A porta da cafeteria se abriu e o som familiar do sino a fez se virar. Sofia, que estava na parte de trás organizando alguns papéis, entrou com uma expressão séria.
- Valeria... precisamos conversar.
Valeria a olhou com olhos cansados, mal conseguindo esconder a preocupação que a consumia.
- O que foi, Sofia?
Sofia caminhou até ela e se sentou em frente, sem a energia de sempre.
- O que aconteceu com Leonardo... não vai ser fácil. Ele não é um homem que se contenta com pouco. Você sabe o que está em jogo?
Valeria assentiu lentamente, embora o peso das palavras de Sofia fosse maior do que nunca.
- Eu sei. Sei que ele não vai parar até conseguir o que quer. Mas eu não posso deixar que ele leve o Emiliano. Eu não posso.
Sofia a olhou com compreensão, mas também com certa tristeza.
- Valeria, eu te apoio em tudo, mas... tem algo que você precisa considerar. Leonardo não é apenas um homem poderoso, ele é... implacável. Ele tem os recursos, as conexões, e se decidir, vai destruir tudo.
Valeria sentiu o nó na garganta apertar ainda mais.
- Eu não sei, Sofia. Eu só quero que Emiliano cresça em paz, longe desse... desse mundo. Mas se Leonardo se colocar no nosso caminho, eu não sei o que fazer.
Sofia ficou em silêncio por um momento, como se escolhesse bem as palavras.
- Há algo que talvez você não tenha considerado. Se Leonardo está aqui, é porque ele está decidido a recuperar o filho - não apenas emocionalmente. Valeria, os Montenegro não são apenas um sobrenome. Eles têm o poder de destruir qualquer um que cruze o caminho deles. Isso inclui você, Emiliano... tudo o que você construiu.
As palavras de Sofia ecoaram na mente de Valeria como um alerta. O que isso significava para sua vida e a de Emiliano? Estava preparada para enfrentar a força avassaladora dos Montenegro? Conseguiria proteger seu filho daquele mundo implacável?
Sofia a olhou com o mesmo rosto sério.
- Se você decidir lutar, terá que dar tudo de si. Não vai ser fácil, Valeria. O que vem pela frente pode destruir tudo.
Valeria respirou fundo. Voltou-se para a janela, como se buscasse uma resposta na imensidão da cidade. Estava com medo. Um medo profundo que a paralisava. Mas também havia uma força dentro dela, uma força que vinha do amor que sentia por Emiliano.
Não deixaria Leonardo arrastá-lo para seu mundo.
Olhou novamente para Sofia, com uma determinação que queimava em seus olhos.
- Eu vou lutar. Pelo Emiliano. Não posso deixar que ele entre na vida dele. Não agora.
Sofia a observou em silêncio e assentiu devagar.
- Então se prepare. Porque o que vem aí vai ser muito maior do que você imagina.
Valeria cerrou os dentes. O caminho seria longo e certamente difícil, mas ela não iria desistir. Não importava o quão poderoso fosse Leonardo Montenegro. Emiliano era seu filho, e ela o protegeria com tudo o que tivesse.
De repente, sentiu-se mais forte, mais determinada.
Não seria fácil, mas Valeria estava disposta a enfrentar o mundo inteiro, se fosse preciso.