Capítulo 4 O Preço da Aceitação

Valentina havia dado sua resposta, e as palavras ecoavam em sua mente como um som distante. "Eu aceito." A decisão estava tomada, embora dentro de si ainda lutasse com a montanha de emoções e dúvidas que ameaçavam arrastá-la. Alejandro Montenegro a olhou com a mesma expressão fria de sempre, mas havia algo em seu olhar que a inquietava profundamente. Era satisfação? Triunfo? Talvez fosse a mistura de ambas. Afinal, ela acabara de entrar em seu jogo, e de alguma forma, sabia que ele vinha esperando por isso.

O escritório de Alejandro continuava envolto em uma atmosfera tensa. A luz suave do abajur iluminava seus rostos, destacando as sombras sob seus olhos. Valentina olhou novamente para a carta, agora que seu destino estava selado, e o peso da decisão começou a cair sobre ela com mais intensidade.

- Muito bem - disse Alejandro, sua voz grave e tranquila, mas carregada de uma satisfação mal disfarçada -. Você não vai se arrepender disso. O que estou te oferecendo é mais do que uma simples aliança. É uma oportunidade única. Agora, tudo está em suas mãos.

Valentina assentiu lentamente, sem saber se naquele momento estava fazendo a escolha certa. Como havia chegado a isso? Tinha se passado tanto tempo desde que seus caminhos se separaram, mas de certa forma, sentia como se o ciclo estivesse se repetindo. Aceitar um contrato de casamento com ele não era apenas um ato de desespero. Era um ato de rendição. O fato de ele ter proposto aquilo como uma vingança mostrava que ainda havia muito que ela desconhecia sobre ele. Apesar de tudo o que havia acontecido, Alejandro ainda era aquele homem calculista e determinado, o mesmo que ela temeu e amou na juventude.

- Quando tudo isso começa? - perguntou Valentina, esforçando-se para manter a calma, apesar do nó que se formava em seu estômago.

Alejandro a encarou com uma expressão que poderia perfeitamente ser neutra, mas Valentina percebeu o brilho de controle que ele sempre mantinha. Era um homem que não deixava nada ao acaso, e agora ela havia se tornado mais uma peça de sua estratégia.

- Amanhã mesmo - respondeu ele, como se já tivesse planejado cada passo desde o momento em que decidiu fazer a proposta.

Valentina não disse nada. Suas mãos ainda tremiam, embora tentasse disfarçar. A ideia de se casar com Alejandro, de ter um filho com ele como parte do acordo, a horrorizava, mas também a atraía. Era o mesmo homem que ela havia amado com toda a alma, e o desejo, embora reprimido por tanto tempo, voltava à tona, agora com um tom completamente diferente. Agora ela não apenas o desejava, mas o temia. Temia o que significava ceder ao seu controle.

- Tenho que ir - disse Alejandro, interrompendo seus pensamentos. Levantou-se da escrivaninha e começou a caminhar em direção à porta, sua figura elegante e imponente. Antes de sair, virou-se para ela mais uma vez.

- Lembre-se, Valentina, nem tudo é o que parece. Este casamento é mais do que um contrato. E quando você me der o que preciso, não haverá volta. Você será minha do começo ao fim.

A frase foi dita com uma certeza absoluta, como se não houvesse espaço para dúvidas, e isso foi o que realmente a deixou sem palavras. Estaria ela disposta a se perder em um acordo que parecia tão... irreversível?

Quando a porta se fechou atrás dele, Valentina ficou sozinha no cômodo, as luzes do escritório projetando sombras longas sobre o piso de madeira polida. Deixou-se cair na cadeira diante da mesa de Alejandro, fechando os olhos e respirando fundo, tentando se acalmar.

- O que foi que eu fiz?

Não era apenas a empresa que a estava afundando, mas também as memórias que ainda guardava de sua relação com Alejandro. O desejo, a paixão, a conexão profunda que haviam compartilhado. Tudo isso agora estava envolto na fumaça da vingança, e Valentina não sabia se o que estava prestes a fazer a salvaria ou a destruiria ainda mais.

No dia seguinte, Valentina não foi ao seu escritório habitual. Em vez disso, sua mãe a encontrou na sala de estar da casa, sentada diante da janela, observando o sol desaparecer lentamente no horizonte. O ar estava fresco, mas ela não sentia nada. O silêncio da casa parecia pesado, como se o próprio lar estivesse aguardando uma resolução.

- Você fez a escolha certa? - perguntou sua mãe com delicadeza, sentando-se ao seu lado no sofá. Havia em seus olhos uma preocupação que Valentina não podia ignorar, mas também não sabia como aliviar.

Valentina não respondeu de imediato. As palavras de Alejandro ainda ecoavam em sua mente, cada uma carregada de uma ameaça velada. Sabia que não podia fugir do passado, mas essa verdade doía. O que mais a perturbava não era o contrato em si, mas o preço da aceitação.

Por fim, levantou o olhar para a mãe, que a observava com expectativa.

- Não sei o que fazer. Parte de mim quer acreditar que isso pode nos salvar, mas outra parte... outra parte sente que estou me vendendo. Que estou perdendo o pouco de dignidade que me resta.

A mãe de Valentina a abraçou com ternura, como se as palavras pudessem aliviar o peso que a filha carregava nos ombros.

- Talvez não se trate apenas de dignidade, filha. Talvez se trate de sobrevivência. Às vezes, a vida nos força a tomar decisões que não queremos, mas que são necessárias. E eu sei que você fez tudo o que pôde para salvar nossa família. O que Alejandro está te oferecendo pode ser a única saída.

Valentina assentiu, mas o nó no estômago não desapareceu. Naquela noite, não conseguiu dormir. Sempre que fechava os olhos, via o rosto de Alejandro, sua presença imponente, seu olhar fixo e decidido. Ele havia sido seu amor, mas também seu maior desafio. A luta interna entre o desejo de salvar a família e o medo de perder a si mesma a mantinha acordada, presa num ciclo de dúvidas.

No dia seguinte, a situação parecia ainda mais concreta. Valentina não tinha outra opção. Já havia aceitado, e agora era o momento de assumir as consequências dessa aceitação. Em seu escritório, na mesa onde tantas vezes planejou o futuro de sua família, assinou o contrato.

O peso da caneta ao assinar seu destino foi algo que jamais esqueceria. Com aquela assinatura, entregava-se por completo a Alejandro, e a partir daquele momento, sua vida já não lhe pertenceria.