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O tempo já não obedecia os antigos ciclos. Havia um rumor vibrando nas constelações, como um segredo à beira de se tornar grito. Nayla sabia - sentia no peito - que os dias de liberdade estavam terminando.
Tudo ao redor apertava. A vigilância de Lunara se tornara quase sufocante. Nayla tinha guardiãs à porta, olhos nas sombras, e passos vigiados por espelhos de energia. Ainda assim, naquela noite, a lua se ocultou em névoa, e ela aproveitou a brecha como quem respira antes de mergulhar.
Elios também sentia o peso do fim. Solaris havia redobrado as cerimônias e proibições. Seus próprios irmãos, agora, pareciam desconfiar. Mas ele não hesitou. A pulsação do coração o guiava, mais forte que qualquer sol.
Eles haviam combinado silenciosamente: se um dia tudo ruísse, encontrariam-se no Templo das Estrelas Mortas - um lugar onde as antigas luzes repousavam, um santuário abandonado entre dia e noite, esquecido até pelas leis.
Nayla chegou primeiro. O templo era silencioso, envolto em uma névoa prateada que flutuava como véu sobre as ruínas de luz e pedra. As paredes de cristal negro refletiam lembranças apagadas de antigas paixões, e o ar era denso, carregado de história.
Elios chegou pouco depois. Sua silhueta atravessou o salão em passos rápidos, até que seus olhos encontraram os dela - e o mundo parou.
- Você veio - ela disse, a voz baixa como uma prece.
- Sempre virei - ele respondeu, aproximando-se até o calor de seus corpos se tocarem, mesmo sem contato.
Ficaram ali, frente a frente, por longos segundos. Havia urgência, mas também reverência. As mãos dele tocaram o rosto dela com cuidado, como se Nayla fosse feita de luz que pudesse se dispersar. Ela segurou sua cintura, trazendo-o para mais perto, encostando a testa na dele.
- Esta noite é a última - sussurrou.
- Ou a primeira de um novo céu - respondeu.
E então, se beijaram.
- Eu te esperei por vidas - disse ele, com a voz rouca.
- E eu voltaria por você em todas elas - respondeu Nayla.
- Você é minha luz e minha sombra - sussurrou Nayla, segurando o rosto dele
- Eu não me arrependo de nada - disse ela.
- Nem eu. Só queria mais tempo.
- Talvez nos encontremos de novo, em outra vida.
- Ou em outro céu.
Eles se vestiram em silêncio, entre olhares, toques furtivos e sorrisos tristes. Quando estavam prontos para partir, uma luz repentina cortou o salão do templo. Branca, fria, como um raio de juízo.
Uma figura surgiu - envolta em um manto de estrelas mortas. Era Lyara, uma estrela errante, que havia sido exilada há eras por desafiar a Ordem Solar. Seus olhos cintilavam em tons violáceos, e sua presença preenchia todo o templo.
- Então é verdade - disse Lyara, sua voz ecoando em todas as direções. - Luz e sombra novamente... unidas por paixão.
Nayla e Elios se entreolharam, as mãos se entrelaçando instintivamente.
- Não estamos fazendo mal a ninguém - disse Nayla, firme.
- O amor nunca é mal - completou Elios.
- Talvez não... mas é perigoso - murmurou Lyara, se aproximando. - Já vi isso acontecer antes. E sei o que virá depois. O céu não perdoa rupturas. Ele reage.
- Então nos deixe fugir - disse Nayla. - Deixe que desapareçamos.
Lyara os encarou por longos segundos. Depois, suspirou.
- Eu deveria alertar Lunara. Ou Solaris. Mas talvez... talvez vocês sejam a brecha que o céu precisa.
Ela se afastou, e antes de desaparecer, deixou um aviso:
- Corram. Rápido. Porque da próxima vez... pode não ser alguém como eu que os encontre.
E sumiu em uma rajada de poeira cósmica.
Sozinhos de novo, Nayla e Elios sentiram o peso do destino sobre os ombros.
- Ela os viu - sussurrou Nayla.
- E não contou.
- Por enquanto.
- Precisamos ir - disse Elios. - Para longe. Onde não haja luz nem trevas. Só nós.
Ela assentiu, os olhos marejados.
- Vamos criar o céu novo.
E, juntos, partiram do templo, fugindo sob o véu da noite. Mas sabiam: as estrelas começavam a se mover. E a caçada havia começado.