William abriu os olhos lentamente e franziu o cenho quando me viu. Ele se sentou na cama e levou a mão ao pescoço, onde eu o havia mordido na noite anterior.
- O que foi? - perguntei preocupada.
William me olhou confuso por um tempo antes de me responder.
- Por um momento pensei que havia sido um sonho... - ele falou em voz baixa - É melhor eu ir embora.
- Agora? Por quê? - eu quis saber.
William me encarou e eu pude ver certo medo em seu olhar, e também arrependimento.
- Eu não deveria... Nós não deveríamos...
Ergui as sobrancelhas, aguardando sua explicação.
- Eu preciso ir embora. - ele disse convicto, se levantando para pegar suas roupas do chão.
O dia já havia amanhecido e nós estávamos na minha casa.
Me sentei na cama e observei enquanto ele se vestia rapidamente, evitando olhar para mim.
Eu não estava entendendo qual era o problema dele. Depois de tudo o que havíamos feito, no riacho e na minha cama, ele agora agia como se eu o tivesse obrigado, ou algo parecido.
Mas se era isso o que ele queria, por mim não fazia diferença. Seria até melhor se ele me deixasse em paz.
...
Mais tarde eu fui até o quintal para ver o jardim.
Eu gostava de ver as flores e de cuidar delas, achava-as magnificas, assim como tudo naquele mundo enorme que eu antes desconhecia. Era muito interessante ver a forma como a natureza agia e reagia a certas coisas, isso me deixava curiosa e ao mesmo tempo admirada.
De repente eu ouvi o som de passos atrás de mim, mas não precisei me virar para saber quem era, pois reconheceria o cheiro dele em qualquer lugar.
William se aproximou devagar e parou a poucos passos de mim.
- Oi. - ele disse em voz baixa.
- O que você quer? - perguntei, ainda de costas.
- Nada. Eu só queria me desculpar por ter ido embora daquele jeito.
- Se desculpar? - perguntei confusa, ao me virar.
- É... Bom, eu tenho a impressão de que te deixei chateada.
- Ah, você tem? - debochei - Não se preocupe comigo, eu vou sobreviver.
William revirou os olhos e sorriu.
Ele parecia estranho, estava um pouco pálido, e havia alguma coisa errada, mas eu não sabia dizer o que era.
- Já que é assim... - ele disse - Eu posso te fazer um pedido?
- Depende... - respondi desconfiada - O que você quer?
- Quero que me morda de novo. - respondeu sério.
Me afastei, totalmente surpresa com o pedido dele.
- Isso pode ser perigoso. Eu posso matar você, sabia?
- Está preocupada comigo? - zombou ele com um meio sorriso.
Revirei os olhos mais uma vez.
Realmente não devia fazer diferença para mim se ele morreria ou não, mas por algum motivo eu o queria vivo, ao menos por um tempo.
William inclinou a cabeça, deixando o pescoço à mostra, e eu engoli em seco, me lembrando da fome que eu ainda sentia.
Me afastei um pouco e segurei sua mão, levando-a em direção à boca. Se eu ia fazer isso, então preferia fazer de maneira que não o machucasse tanto, mesmo sabendo que as feridas iriam se cicatrizar logo depois da mordida - o que sempre acontecia, e eu não sabia o porquê.
Encostei minha boca em seu pulso e percebi que ele ficou tenso. Engoli em seco mais uma vez e o mordi.
Percebi que daquela vez foi mais fácil, como se meus dentes estivessem mais afiados, e eu não precisei fazer muita força para perfurar a pele dele.
William soltou um gemido alto e apertou meu braço com sua mão livre, fechando seus olhos e inclinando a cabeça para trás, totalmente entregue a um prazer que por algum motivo eu o fazia sentir - fazia todos sentirem.
Eu não havia reparado muito na primeira vez que o mordi, mas havia algo de diferente no sangue dele, talvez por ele ser uma mutação.
Precisei reunir toda a minha força de vontade para me afastar antes de fazê-lo desmaiar.
Senti algo estranho acontecendo com o meu corpo, e me surpreendi ao olhar para minha mão e perceber que minhas unhas estavam mais encurvadas e com a língua senti que meus dentes estavam realmente mais afiados.
William olhou para mim com as sobrancelhas erguidas.
- O que aconteceu com a minha mão? - perguntei assustada.
- Acho que o meu DNA se misturou com o seu.
Não entendi nada.
- Isso é permanente?
- Acho que não.
Respirei fundo tentando pensar.
Talvez fosse apenas como quando eu mordia pessoas bêbadas e sentia tontura. Se fosse só por causa do sangue então se eu me alimentasse de outra pessoa minhas mãos voltariam ao normal, em teoria.
Olhei para William e percebi que, de certa forma, ele também estava diferente, mais vívido, apesar de ainda pálido.
Me perguntei quais seriam os efeitos da minha mordida nele, já que ele era o primeiro que eu havia deixado vivo.
William se aproximou mais e me puxou pela cintura.
- Acho que seria ótimo repetir a dose de ontem à noite, não acha?
Sorri de volta para ele e mordi o lábio em expectativa.
Eu tinha muitas perguntas em minha cabeça e muitas dúvidas sobre ele e o sobre eu mesma também, mas naquele momento eu me deixei levar pelos instintos, como fazia quase sempre, e guardei as perguntas para outro momento.