Capítulo 2 2

Ela sorriu acenando para o pai e o futuro sogro, falou baixinho só para ele ouvir:

- Não vai mesmo, você não gosta de mulher.

Ele também sorriu:

- Como você vai saber? Se não é uma ainda? Já ficou mocinha? Nem deve ter seios ainda, isso é enchimento.

Ela se afastou indignada, o deixou falando sozinho, ficou trocando olhares curiosos o resto da festa, sem saber como se sentia referente à proposta. Sua amiga ficou eufórica com a beleza dele, começou a dar bons motivos para Soraya casar e se conformar com a sorte.

Ahmed comentou com o pai que a achou muito jovem. Ali sorriu com orgulho:

- E o que você queria? Uma noiva seca? Ela está terminando os estudos, vai ter tempo para se dedicar à família e, o melhor, você vai ensinar ela a ser boa esposa. Acabou de alcançar a maioridade, não tem muita coisa em casa. Vai se deslumbrar com a vida que vão ter, vou comprar uma casa bem grande, confortável e um carro para vocês.

Ahmed não disse mais nada, também ficou a olhando de longe, intrigado com o fingimento dela. Percebeu que no fundo tinham algo em comum: não seguirem os costumes como suas famílias gostariam.

Ficou achando que iria dar um jeito de não se casar, porque de fato a achou muito nova, não via como iria se interessar e ter uma vida com uma moça assim, já que ele era um homem feito, estudado e viajado.

Antes de irem embora, Ali insistiu para o filho ir se despedir da noiva. Estava falando como se estivesse tudo certo. Soraya estava no canto da sala, perto da mesa de doces. Latifa correu saindo de perto quando o viu vindo. Ahmed se aproximou para pegar um doce:

- Meu pai insistiu para eu me despedir, ele acha que você não sabe o quanto é feia. Talvez algum rapaz cegueta queira se casar com você. Quando crescer e tiver peitos. Tchau, feia!

Ela ficou sorrindo irritada:

- Desde que seja homem de verdade! Tchau, seu viad...

Silenciou porque passou alguém perto, foi embora refletindo sobre ele ser bonito, levou na brincadeira a implicância dele, achando que era charme. Antes de conversar com o pai, ouviu ele falando no celular, era sobre trabalho e dinheiro, deu para entender que estavam com problemas financeiros.

Iriam até mudar de casa, para uma menor. Said estava com problemas de saúde há meses e dificuldades financeiras. O casamento ia ajudar nisso e, querendo ou não, ele ia fazer Soraya casar.

Ela percebeu que não tinha opção, perguntou o que iria acontecer se o marido não fosse como deveria ser. Seu pai lhe chamou a atenção, como se ela fosse tola por pensar assim, acreditando em fofocas. Deixou claro que o bem-estar dele e da família dependia do casamento.

Ficou falando que ela ia ter uma boa casa, carro, estudos, deu a entender que o próximo casamento seria com um homem bem mais velho, divorciado, cheio de filhos para ela cuidar, a encheu de medo.

Ainda mentiu, dizendo que o noivo adorou ela e era meio doidinho como ela, porque cresceu no Brasil. Ela começou a ver tudo com outros olhos, disse que queria o conhecer melhor, achou que teria meses até estar pronta, que durante o noivado ia se aproximar, fazer amizade com Ahmed.

Ele não deu muita importância aos planos de seu pai. Alguns dias depois foram a uma reunião de trabalho. Ali falou cheio de orgulho que ia casar seu primogênito em alguns dias, até começou a convidar pessoas. Ao saírem de lá, foram para o apartamento de Ahmed. Ele o questionou, dizendo que não ia ficar com aquela menina tão nova, porque estava apaixonado por outra. Ali se irritou e perdeu a paciência:

- Com aquela mulher que se mostra para todos na rua, você não vai ficar. Eu investi muito para te fazer um bom homem, inteligente, estudado, honesto, para trabalhar nos negócios da família. Paixão dá e passa, mulher assim não serve para ter família. Ela é velha, não vai te dar muitos filhos, não segue a religião. Se vai insistir nessa aventura descompensada, tentando matar o seu pai de desgosto, vou te afastar de tudo. Quero que saia do apartamento, devolva o carro e na minha casa não entra mais. Seus irmãos vão saber que foi tomado por um gênio ruim enquanto virava as costas para sua família. É isso o que quer?

Ahmed disse que não, se calou, entregou alguns documentos ao pai e o acompanhou até a porta. Quando foram se despedir, Franciele saiu de shorts curto e a parte de cima do biquíni, ia para a piscina do prédio. Ali ficou horrorizado, falou alto:

- Eu tô no infernoooooooo! Você vai embora desse lugar comigo.

Voltou para dentro:

- Ela vai arder no mármore do inferno e te jogar junto.

Franciele achou graça, acenou e entrou no elevador. Ali ficou histérico de bravo, o fez ir ficar em sua casa, só para mantê-lo longe dela, aproveitou para apressar as coisas, convidou Said e a família para jantarem, era praticamente o noivado e os noivos nem sabiam.

Soraya não tinha muitas coisas comportadas e bonitas, colocou uma calça de alfaiataria nude, camisa social de seda rosa, se maquiou bem, olhos esfumados marrom com delineado preto bem marcado, batom nude, emprestou o véu de sua amiga e a sandália também, ficou ansiosa para ver Ahmed.

Ele nem sabia que ela iria lá, saiu escondido, foi ver Franciele. Ela estava brava e ameaçou terminar, tentou o manipular, quis transar no carro. Quando ele não quis fazer nada e se mostrou indiferente, ela se alterou, dizendo que ia vê-lo voltar correndo como um cachorro.

Fez toda uma cena desnecessária, despertando o lado ruim dele, orgulhoso e rancoroso. Ele concordou que iriam terminar então, ficou por isso, nem se despediram.

Ali não o viu sair. Quando sentiu sua falta, começou a ligar várias vezes. Ahmed ignorou. Quando chegou levou um xingo, disse que tinha ido colocar um ponto final naquilo. Seu pai entendeu e ficou radiante, crente que o filho faria a coisa certa.

O mandou se arrumar e ir receber a noiva. Said tinha ido falar de negócios também, iria receber dinheiro após o casamento. A esposa de Ali estava indisposta. Uma das filhas dele ficou na sala para receber Soraya e a chamou para ir ao quarto, porque só ficariam homens na sala.

Quando estavam indo, a menina foi chamada por uma criança chorando em um quarto, disse que ia ver e já voltava. Soraya ficou parada perto de uma área de luz, olhando o céu. Ahmed saiu do quarto fechando os botões da camisa, quando a viu, sorriu com maldade:

- Ooo feia! Meu quarto é ali, quer conhecer?

Ela sorriu com cinismo o olhando fixamente, só imaginando como ele era sem camisa:

- Vai me maquiar? Fazer as minhas unhas?

            
            

COPYRIGHT(©) 2022