- Nem precisa pedir, esses caras se ferraram por conta própria. Te ligo se tiver mais alguma novidade.
- Prometo te recompensar depois!
- Minhas férias estão chegando mês que vem e ...
- Depois passe aqui para pegar as chaves é toda sua!
- Você mesmo está oferecendo certo!
- Não vou dizer pela segunda vez!
- Até mais chefe! Te vejo em breve.
Damião era apaixonado também por barcos e a alegria dele é se aventurar nas férias no meu Iate. Diferente do que todos achavam que eu amava apenas as alturas devido ter meu próprio avião e a agência, era no mar que eu realmente me carregava.
Já fazia um bom tempo que também não tirava umas férias para aproveitar tranquilamente, talvez fosse o fato de não ter companhia que
me desanima, pois por mais que houvesse muitas pessoas ao meu redor, um vazio ainda me incomodava, e olhando para dentro de mim agora , acho que finalmente estou descobrindo o que esse sentimento representava: A vontade de amar alguém incondicionalmente.
E acho que Alice é definitivamente essa outra parte que me faltava.
Dois dias depois, finalmente o final de semana chega e é hora de ajudar Alice a preparar as malas.
Pego em meu escritório particular em casa o contrato que pessoalmente entregarei a Paulo.
Sigo até a casa de Hilda, que ao chegar me recebe logo com uma xícara de café na qual não pude recusar.
- Então você é o tal homem que quer comprar Alice!
- Desculpe senhor Paulo, mas minha intenção nunca foi comprar sua filha. - Digo a ele calmamente enquanto me encara sentado no outro sofá da pequena sala.
- Que diferença tem você de Franco, quando usa dinheiro para segurar uma moça e a fazer ser escrava de seus desejos!
- Primeiramente eu nunca faria de Alice uma escrava, segundo nunca levantaria a mão para ela na tentativa de a fazer ceder algo, e por último, o que ofereci a ela não é para comprá-la, mas mostrar que eu realmente me preocupo com seus interesses. Peço que não me leve a mal senhor Paulo, mas considerando suas últimas ações, deveria dar uma chance para me conhecer melhor antes de me julgar.
- Está querendo tocar na minha ferida, rapaz?
- Estou apenas tentando dizer que pode confiar sua filha a mim e não irá se decepcionar. Peço que leia o contrato com consideração, o que estou oferecendo vai garantir que você e seus filhos possam ter uma vida melhor e esquecer que um dia por conta de uma escolha errada perdeu aquilo de mais precioso pra vocês.
Entrego o contrato em suas mãos e ele fica em silêncio por um longo tempo.
- Só o que temos que fazer é ir para este lugar e cuidar desta residência?
- Isso mesmo, em troca, além do seu salário, Bianca e Renato, irão estudar na melhor escola de Riverdale sem nenhum custo. Na residência está um automóvel disponível para uso de vocês, além disso, assim como qualquer outro trabalho, em suas férias, vocês receberam um vale viagem, é uma ótima oportunidade para conhecerem lugares maravilhosos disponíveis através da minha agência.
- Está me oferecendo tudo isso apenas porque Alice aceitou morar com você?
- Exatamente. Eu só quero que ela também recomece, mais ao meu lado.
- E porque temos que ir para esta cidade e não ficarmos todos aqui?
- Está casa foi dos meus avós paternos antes de faleceram e tenho muitas memórias maravilhosas nela. Eu fui o único da família que não quis se desfazer dela quando meu pai e tios decidiram vender e repartir a herança, então anonimamente a comprei e até hoje escondo isso de todos, para que não usem de desculpa para desfrutar do lugar novamente depois de se desfazerem dela.
- Sei como se sente, nossas melhores lembranças também estavam na nossa casa. A mesma que eu...
- Se pode sentir isso, aceite esta oferta sem pensar que Alice estará fazendo um sacrifício. Garanto que assim como sei que o senhor manterá a minha casa bem cuidada, eu farei o mesmo por sua filha.
Paulo respira fundo e fecha os olhos por um segundo, depois abre e fala aumentando um pouco mais a voz:
- Alice!
No instante depois Alice aparece com o olhar tímido e se coloca a frente dele em silêncio.
- Você tem certeza de que quer fazer isso? Basta dizer não, que coloco esse homem para fora e nunca mais deixo que chegue perto de você. É isso mesmo que decidiu?
- Sim, estou fazendo isso por livre e espontânea vontade. Eu confio em Carston, não se preocupe, vou ficar bem.
Os dois se encaram e vendo como permanecem em silêncio, tinha certeza de que os dois confirmavam o que sentiam.
Paulo em seguida pede a caneta e Alice tira do bolso rapidamente, entregando a ele sorrindo.
- Nem pra disfarçar que já estava com ela de prontidão! - Paulo diz enquanto assina o contrato apoiando na própria perna.
- Sinto muito! - Alice diz baixo para ele, mas suficiente para que eu consiga escutar.
Paulo me entrega a folha e assim que eu pego continua segurando firme.
- Posso ter concordado, mas basta uma ligação dela para você se arrepender miseravelmente de machucá-la.
- Isso nunca vai acontecer, tem minha palavra.
- Que tal mais um café? - Hilda aparece de repente com a bandeja de xícaras na mão.
Depois da terceira prefiro me despedir ou eu certamente passaria a noite acordado por conta de tanta cafeína.
- Obrigado por ter vindo, por não desistir de nós...de mim!
- Mesmo que seu padrasto não assinasse o acordo eu encontraria outra maneira de você poder ficar mais próximo de mim.
- Senhor Carson...
- Pra você apenas Carson Alice, sei que é força do hábito ,mas sei que logo vai se acostumar.
- Também espero que sim!
- Preciso ir, nos vemos amanhã na minha casa para sua primeira aula extra!
- Claro, não poderia estar mais animada!
Abro um tímido sorriso, depois eu abaixo a cabeça e com as mãos no bolso da calça social vou me direcionando para a porta do meu carro estacionado em frente a casa, quando Alice me chama da porta me pedindo para esperar um instante.
Entra em casa e segundos depois volta correndo até mim.
- Ia quase esquecendo de te entregar isso! - Abre uma das mãos em minha frente mostrando um pequeno chaveiro com um pé de all star, igual ao que usava.
- Está me dando seu sapatinho de cristal " Cinderela " ?
- Já que não tivemos um baile, acho justo fazê-lo encontrar por mim mesma. Só escolha não colocar ele no pé errado!
- Nem que todos os pés reais cheguem a mim!
- Boa noite Se...Carson!
- Boa noite Alice!
Pego o chaveiro o segurando com força e entro no carro.
Permaneço por alguns instantes olhando para a janela até ver Alice entrar e fechar completamente a porta.
Olho mais uma vez para a pequena peça e sinto meu coração irradiar felicidade.
Era um gesto simples , mas marcava o início da história que estávamos prestes a escrever juntos.