"Esta é a equipe de análise comportamental. Vocês são três. Compartilharão um sistema de monitoramento, embora seus relatórios sejam encaminhados diretamente para a gerência", disse a assistente, sem olhá-la nos olhos.
Lucía assentiu. Sua blusa branca de mangas compridas e gola alta estava impecavelmente passada. Ela usava calças de lã cinza-claro, justas, mas sóbrias, e saltos médios da mesma cor. Sua maquiagem era mínima, mas o suficiente para reforçar a impressão de solidez. Cada peça de roupa, cada linha de seu traje, comunicava uma mensagem: "Não me subestime. Não me toque."
Os três membros da equipe olharam para ela. Uma saudação formal, sem entusiasmo. Havia desconfiança em seus olhares, e um silêncio contido pairava no ar.
"Lucía Vega, nova supervisora de conformidade organizacional", anunciou a assistente. "Ela avaliará os protocolos e o clima geral. Vocês podem se reportar diretamente a ela quando necessário."
"Prazer em conhecê-la", murmurou uma mulher ruiva na casa dos cinquenta anos. Sua voz era educada, mas seus olhos eram frios.
"Prazer em conhecê-la", repetiu outra mulher mais jovem, com óculos de lentes grossas. Ele evitou encará-la.
"Prazer em conhecê-la", disse a terceira, ainda digitando.
Lucía os observou em silêncio por alguns segundos e então disse calmamente:
"Não estou aqui para interromper rotinas. Apenas para entendê-las. Nos veremos em breve para uma primeira rodada de entrevistas. Será individual, informal. Nada invasivo." A maneira como cada um deles retornou rapidamente às telas foi uma resposta clara: não estavam felizes com a chegada dela.
"Eles não confiam em ninguém, muito menos em alguém enviado de cima", disse a assistente baixinho enquanto retomavam a caminhada. "Você... os intimida."
Lucía não respondeu. Intimidação fazia parte do seu trabalho. Embora, por dentro, algo naquela reação a fizesse revirar o estômago. Eles não a temiam como a uma líder. Temiam-na como a um bisturi.
Na cafeteria executiva, o ambiente não era dos melhores. As grandes janelas ofereciam uma vista da cidade cinzenta, atravessada por filas intermináveis de trânsito. As mesas estavam ocupadas por pequenos grupos conversando em sussurros. Lucía serviu-se de um café preto. Não havia açúcar nem leite. Ela preferia assim. Quente, amargo, autêntico.
Ela escolheu uma mesa no fundo, sozinha, ao lado de uma coluna lisa de concreto. Enquanto bebia, um murmúrio a fez olhar. Em outra mesa, pelo menos duas pessoas a observavam. Quando ela cruzou o olhar com um deles, ele imediatamente baixou o olhar.
"Começou", pensou ela.
"Isto não é uma equipe. É um formigueiro disciplinado. Todos obedecem, não confiam. E eu simplesmente entrei como o pé que ameaça esmagar tudo. Recebi um papel de confiança, sim, mas não tenho aliados. Aqui, todos cuidam uns dos outros. E eu? Eu também cuido de mim mesma."
Um ruído sutil a fez olhar para cima. Bruno Ortega atravessava o refeitório. Vestia uma camisa azul-clara sem gravata, um paletó cinza-escuro e o mesmo andar firme que o caracterizava. Desta vez, porém, permitiu-se parar em frente à mesa dela.
"Já experimentou o café da empresa?", perguntou ele, com um tom neutro, mas com um toque de ironia.
"Bastante parecido com o ambiente geral", respondeu Lucía, tomando outro gole.
Bruno sentou-se sem pedir permissão. Lucía notou que ele não carregava a pasta. Apenas uma xícara na mão e uma pequena ruga na bainha da camisa, como se algo tivesse estragado seu dia.
"Ouvi dizer que você causou uma boa primeira impressão", comentou.
"Sério?"
"Não me entenda mal. Aqui, ser temido é um elogio."
Lucía olhou para ele sem sorrir. Havia algo em seu jeito de falar que parecia destinado a desarmá-la. Era... irritante.
"Não estou aqui para ser temido. Estou aqui para entender."
"Isso parece perigoso", respondeu ele, baixando a voz.
Houve um breve silêncio. Sons de pratos, passos e vozes distantes flutuavam ao redor, mas entre os dois, tudo se tornou denso.
"E você, Bruno? O que espera do meu papel?", perguntou Lucía, cruzando os braços.
Bruno sustentou o olhar dela. Não com desafio, mas com interesse silencioso.
"Espero que você não se quebre. Pessoas brilhantes não duram muito aqui."
Quando ele saiu, algo pairou no ar.
"Ele fala comigo como se me conhecesse. Como se tivesse adivinhado algo que eu nem quero admitir. Não estou fraca, mas estou cansada. E se ele também estiver? E se...?"
Ela se levantou, pousou a xícara vazia e voltou para o escritório. Lá fora, o céu começava a escurecer, embora o dia estivesse apenas começando.
Bruno retornou ao seu escritório no andar executivo. Fechou a porta com um leve clique e encostou-se nela, pela primeira vez em muito tempo sem a vontade de abrir o e-mail ou verificar as notificações.
Serviu-se de um copo d'água, mesmo sem sede. Caminhou até a janela sem olhar para a cidade. Em sua mente, a viu novamente. Sentada àquela mesa, com a coluna atrás dele como se a sustentasse. Ereta. Inacessível.
Lucía Vega.
Ela não era o tipo de mulher que se desejava facilmente. Era mais o tipo que se imaginava à distância, como um enigma inquietante. Havia algo em seu jeito de falar, em suas palavras comedidas, que o deixava mais alerta do que o normal.
Mas não era só isso.
Ele havia notado o modo como a blusa dela delineava seu pescoço esguio, a maneira como ela segurava a xícara na mão esquerda - com aquele gesto quase elegante que nada tinha a ver com os corredores de concreto. E em seus olhos escuros, havia um peso que não combinava com sua frieza.
"Eu não vim para esta empresa em busca de companhia. Muito menos de conforto. Mas há algo nela que rompe minhas defesas mais silenciosas. E isso... isso é perigoso pra caralho."
Ele tirou o paletó e o jogou na cadeira. Passou a mão pela nuca.
"Não é só a presença dela. É o jeito como ela anda. Como a voz dela consegue soar precisa sem ser cruel. Como você consegue perceber que ela está carregando algo, mesmo que ela nunca diga. Isso me intriga. Me desarma."
E por um momento, ele se permitiu imaginar como seria tocar a pele dela. Não no escritório. Não entre relatórios ou protocolos. Mas na intimidade de uma noite longa e honesta, onde máscaras não tinham lugar. Onde ela podia parar de se impor. E ele também.
Mas então ele balançou a cabeça, quase com raiva.
"Não", disse ele suavemente, como uma ordem.
Porque isso era proibido.
Porque sentir era perigoso.
E porque, naquele lugar, o desejo era a fraqueza mais custosa.
Ele sentou-se diante do monitor. A tela brilhava com seu reflexo. Ele ainda tinha o rosto de alguém que se recusava a pensar no que acabara de sentir.
Lucía Vega não era uma opção. Ela era um aviso.
E, no entanto, ele não conseguia parar de pensar nela.