Não era um grupo grande, apenas quatro pessoas. Eles saíram por uma porta que Lucía não havia notado antes, uma seção sem sinalização e sem câmeras visíveis. Caminharam com fluidez, quase em sincronia, como se soubessem exatamente para onde ir para não serem observados. Mas não contavam com ela.
Lucía não desviou o olhar. Ela fingiu ler um relatório no tablet, mas seu olhar os seguiu pelo canto do olho. Eram diferentes. Vestiam-se como todos os outros - ternos cinza, sapatos impecáveis -, mas havia algo em sua postura, em seu olhar. Não se falavam. Nem uma palavra. Nem um gesto.
Uma delas - uma mulher de cabelos negros e cacheados e um perfil esculpido como mármore - virou a cabeça ligeiramente. Por um instante, seus olhares se encontraram. Foi apenas um segundo. Mas foi o suficiente.
Lucía sentiu o peso daquele olhar como uma agulha. Não era hostil. Era... avaliativo. Como se estivesse sendo classificada.
Lucía:
"Eles não estão designados para este andar. Não pertencem a nenhuma equipe operacional visível. E, no entanto, agem com autoridade. Quem os protege? Quem precisa deles?"
Lucía sabia que, em uma corporação como a NCA, o poder nem sempre vinha com títulos visíveis. Às vezes, a verdadeira influência estava nas sombras: nos nomes que não eram pronunciados, nos cargos que não apareciam em nenhum organograma.
Ela se sentou novamente. Fingiu concentração. Mas, na realidade, seu corpo estava tenso, em alerta.
Horas depois, em seu apartamento estéril, enquanto jantava em frente a uma planilha do Excel que não precisava revisar, Lucía pensou neles novamente. Em sua sincronicidade. No leve movimento de cabeça da mulher. Na porta sem identificação.
"E se isso não for apenas uma corporação? E se outro tipo de lealdade também estiver em jogo aqui? Bruno saberia de alguma coisa. Ele conhece os corredores invisíveis. Ele deveria perguntar. Não. Ainda não. Não o suficiente."
Mas a dúvida havia sido plantada. E com ela, um novo tipo de perigo: o do conhecimento não solicitado.
Na manhã seguinte, Lucía fez um desvio deliberado. Ela passou pela porta por onde aqueles funcionários haviam saído. Parou por um segundo. Sem identidade, sem entrada para cartão. Apenas uma superfície lisa e preta.
Ela suspirou. Recomeçou a andar.
Enquanto isso, atrás de um vidro fumê por dentro, dois olhos a seguiam silenciosamente.
Quando Lucía retomou o passo, ainda com a mente presa à imagem daquela porta sem identificação, não percebeu imediatamente que estava sendo seguida por uma câmera invisível. Mas estava.
Em uma sala escura, preparada para o monitoramento silencioso de funcionários de interesse, duas figuras observavam em uma tela dividida em quadrantes. Um dos quadrantes mostrava o rosto de Lucía em alta resolução: olhar firme, mandíbula cerrada, passos calculados.
"Ela não está onde deveria estar", disse a mulher de cabelos negros, sem tirar os olhos do monitor.
"Ela também não está agindo como uma recém-chegada", respondeu seu acompanhante, um homem magro, com uma expressão ascética e uma voz sem inflexão.
Eram dois dos quatro que Lucía vira na tarde anterior. Agora estavam em outra fase: observar, registrar, mensurar. A conversa era esparsa, precisa, como um relatório escrito oralmente.
"Perfil?", perguntou ele.
"Psicóloga organizacional. Nível superior. Sem vínculos externos. Alto nível de autocontrole emocional. Assunto de interesse."
"Risco?"
"Potencial."
A mulher deslizou os dedos sobre a tela sensível ao toque do console. Ela deu um zoom no rosto de Lucía, congelado no exato momento em que olhara para a porta preta. Seus olhos diziam mais do que qualquer palavra poderia transmitir.
"Ela já viu algo", acrescentou.
"O que importa é o que ela faz com isso."
Silêncio.
Ambas sabiam que na NCA, olhar não era punido. Agir era punido. E Lucía, até então, apenas observara.
Mas havia um brilho em seus olhos que era inquietante. Não era medo. Era uma fome de entender.
E isso, em um lugar como aquele, poderia ser letal.
A tela retornou ao seu modo de vigilância passiva. No corredor, Lucía se afastou, sem perceber que sua imagem havia sido congelada, amplificada e discutida. Que ela já havia cruzado os limites sem querer.
Em seu escritório, Bruno Ortega olhou para o arquivo que acabara de chegar, marcado com um carimbo que normalmente não aparecia em sua caixa de entrada.
"Monitoramento Interno – Nível de Interesse 2: Lucía Vega."
Ele franziu a testa. Fechou o documento imediatamente.
Ele não abriu. Ainda não.
E, no entanto, algo se agitou dentro dele.
Lucía. Sob observação.
Sua primeira reação foi profissional. Fria.
A segunda... nem tanto.
Bruno Ortega permaneceu imóvel diante do monitor, como se o relatório recém-chegado não fosse um alerta, mas uma condenação. Na tela, seu nome apareceu como o principal destinatário do arquivo confidencial. O assunto: "Nível de Interesse 2 – Monitoramento Interno: L. Vega."
Ele não precisava abrir. Sabia exatamente o que continha.
Lucía havia cruzado a linha. Não oficialmente. Não diretamente. Mas foi o suficiente para alguém notá-la espreitando onde não deveria. Isso, na NCA, foi o suficiente para levantar suspeitas e citar um nome.
Um nome que agora, para ele, queimava em sua língua.
Ele passou a mão pelo queixo, como se pudesse apagar a expressão de preocupação. Mas a expressão permaneceu.
"Eu poderia avisá-la. Uma frase bastaria. Um gesto. Eu poderia dizer a ela para ter cuidado para onde olha... que nem tudo que parece inofensivo o é. Que há portas que, uma vez abertas, não podem ser fechadas."
Ele se imaginou dizendo isso. Em seu tom mais neutro, como se não fosse pessoal. Como se fosse apenas mais uma sugestão. Mas então ele pensou nela.
Em seu olhar penetrante. Em seu silêncio cortante. Em sua maneira de processar tudo como se nada pudesse atingi-la.
E ele hesitou.
"Como Lucía reagiria? Ela se fecharia ainda mais? Ela se defenderia? Ela me veria como um emissário de controle? Como uma ameaça? Ou pior... como alguém fraco?"
Ele não podia permitir isso. Não naquele lugar. Não com ela.
O vínculo entre eles era tão incipiente, tão frágil, que um movimento em falso o desfaria. Eles ainda não confiavam um no outro. Ainda estavam presos no equilíbrio precário entre o respeito profissional e uma tensão que nenhum dos dois conseguia nomear.
Bruno se levantou da cadeira e foi até a janela. As luzes da cidade pareciam distantes, borradas. Lá de cima, tudo era estranho. Tudo, menos ela.
"E se ela já souber? E se ela não precisar de proteção? E se avisá-la a distanciar mais de mim do que o silêncio?"
Ele suspirou. Decepcionado consigo mesmo.
Ele havia tomado decisões difíceis na vida. Ele havia se calado sobre verdades, encoberto crises, executado ordens que o esvaziaram por dentro. Mas esta - esta pequena decisão de não dizer nada - parecia mais suja do que muitas outras.
Não porque Lucía precisasse.
Mas porque, pela primeira vez em anos, ele queria ser mais do que funcional. Mais do que obediente.
E, ainda assim, ele se sentou novamente, fechou o arquivo sem marcá-lo como lido e deixou a máquina seguir seu curso.
Ele não a notou.
Não naquele dia.
Mas, ao desligar o monitor, soube que havia cruzado sua própria linha invisível.