Tarde Demais, Sr. Manipulador
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Capítulo 2

Sofia amava Ricardo desde os tempos de escola em Coimbra.

Doze anos.

Sacrificou uma bolsa de estudos em Florença, uma promissora carreira como pintora, tudo por ele.

Para ser sua assistente, sua sombra, a pessoa que resolvia tudo.

Agora, em Lisboa, ele era o empresário de sucesso. Ela, a "pau mandado".

O apartamento na Avenida da Liberdade, a joia exclusiva.

Não eram para ela.

Eram para Isabella.

Sofia já suspeitava do envolvimento deles há meses.

A forma como Isabella a olhava, com um misto de pena e triunfo.

Os presentes caros que Isabella começara a exibir.

A confirmação final viera por acidente.

Uma chamada de Ricardo com um amigo, que ela ouviu sem querer.

"Aquela Sofia é uma criada gratuita, uma burra apaixonada. Vou usá-la até ao dia do casamento com a Isabella. Ela vai continuar a acreditar que sou eu o noivo dela."

A voz dele, cheia de escárnio, ainda ecoava nos seus ouvidos.

O coração de Sofia partiu-se em mil pedaços.

Mas, no meio da dor, surgiu uma nova determinação.

Acabou.

Ela ia deixar de ser o capacho de Ricardo.

Ele voltou para casa nessa noite, o apartamento que partilhavam, embora ela pagasse a maior parte das contas com o seu parco salário e os biscates de pintura que fazia às escondidas.

Sofia não o esperava à porta com o jantar pronto, como sempre.

"Sofia? Onde está o meu jantar?"

Ela estava no pequeno quarto que usava como atelier improvisado, a limpar os pincéis.

"Não fiz jantar."

A voz dela saiu fria, distante.

Ricardo franziu o sobrolho.

"Não fizeste? Porquê? Estás doente?"

"Não. Simplesmente não fiz."

Ele aproximou-se, irritado.

"O que se passa contigo? Tive um dia longo. Podes ao menos ir buscar-me um copo de água e preparar a minha roupa para amanhã?"

Sofia pousou o pincel.

"A água está na cozinha. A tua roupa está no armário. Podes tratar disso tu mesmo."

Ricardo olhou-a, incrédulo.

"Mas que raio te deu? Estás chateada por alguma coisa?"

Sofia deu de ombros.

"Estou cansada, Ricardo. Só isso."

Mais tarde, ouviu-o ao telefone outra vez, desta vez no quarto, a falar com Isabella, a voz melosa e apaixonada.

"Sim, meu amor. A entrevista saiu ótima. Todos pensam que é a Sofia, coitada. Mal sabem eles que a minha rainha és tu."

Ele riu.

"A 'promessa'? Foi só para a imprensa. Para dar um toque romântico. A Sofia? É um cãozinho que lambe as botas, posso manipulá-la como quiser. Vou continuar a usá-la até ao último dia. Ela é demasiado burra para perceber."

Cada palavra era uma facada.

Mas, estranhamente, a dor trazia clareza.

Ela tinha de sair dali.

Tinha de se salvar.

            
            

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