Capítulo 3

Beatriz, com um sorriso falso, convidou Sofia para a sua festa de aniversário.

"O Tiago disse que adorarias vir," disse ela, olhando de soslaio para Tiago.

Tiago anuiu rapidamente. "Claro que ela vai."

Sofia sentiu-se presa.

A festa era num dos clubes mais exclusivos de Lisboa.

Sofia, elegante como sempre, atraiu olhares.

Alguns homens aproximaram-se, elogiaram o seu trabalho, a sua inteligência.

Tiago observava de longe, o maxilar cerrado. Ciúme.

Mas não era ciúme por amor a ela, percebeu Sofia. Era ciúme de posse, o mesmo que sentiria por um objeto valioso.

Beatriz, percebendo a atenção que Sofia recebia e o desconforto de Tiago, decidiu provocar.

Aproximou-se de um empresário conhecido e quase o beijou, os olhos fixos em Tiago.

Tiago explodiu. Avançou, agarrou Beatriz pelo braço, afastando-a bruscamente do homem.

"O que pensas que estás a fazer?" sibilou ele.

Mais tarde, Sofia ouviu-os a discutir num canto mais reservado.

"Tens de me provar que me amas mais do que a ela," exigia Beatriz, a voz melosa mas firme. "Mais do que tudo."

Tiago parecia desesperado. "Eu faço qualquer coisa, Beatriz. Tu sabes."

"Então," disse Beatriz, com um brilho cruel nos olhos, "quero que faças uma tatuagem. Uma letra de fado que eu adoro. Aqui." Ela apontou para o antebraço dele, um local bem visível.

Para um fadista tradicional como Tiago, uma tatuagem tão exposta seria um escândalo, prejudicaria a sua imagem.

Sofia esperava que ele recusasse, que visse a loucura do pedido.

Mas Tiago, depois de um momento de hesitação, anuiu. "Eu faço."

No dia seguinte, ele apareceu com a tatuagem. Grande, vistosa, inegável.

Sofia olhou para aquilo, uma mistura de choque e resignação.

A obsessão dele por Beatriz era um abismo sem fundo. E ele estava a atirar-se de cabeça.