Renascer das Cinzas: O Voo de Clara
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Renascer das Cinzas: O Voo de Clara

Gavin
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Introdução

O tremor parou, deixando-me presa nos escombros, grávida de oito meses.

O meu pai estava ao meu lado, ferido, mal conseguia respirar.

A minha única esperança era o meu marido, Leo, um bombeiro.

Ele estava lá fora, a salvar vidas. Ele ia salvar as nossas.

Liguei-lhe. A sua voz, cheia de pânico, prometeu que viria, disse que estava "a caminho."

Mas então, ouvi-a.

A voz de Sofia, a sua amiga de infância, no rádio do Leo.

"Estou presa. No ginásio. A minha perna... acho que está partida."

O seu tom de voz mudou, a urgência dedicada a ela.

"Clara, a central está a redirecionar-me. Há mais vítimas. Outra equipa vai até aí."

Mentira. Eu ouvi tudo. Não era a central. Era a Sofia.

Ele desligou.

O ecrã do meu telemóvel ficou escuro. A minha ligação ao mundo foi cortada.

O meu pai morreu ali, nos meus braços, antes da ajuda chegar.

E o meu bebé, com oito meses, protestou contra a traição do pai com uma cãibra violenta, partindo o meu ventre.

Dias depois, no hospital, Leo apareceu.

Com a farda impecável. Nem uma partícula de pó.

Ele ufanava-se de salvar Sofia, cujo único "ferimento grave" era um tornozelo partido.

"O teu pai? Morto. O bebé? Foi-se."

Ele recuou, chocado. "Isso não é justo! Eu sou um socorrista!"

A sua mãe entrou, Inês, e imediatamente tomou o seu partido.

"O meu filho é um herói! Estás a acusá-lo?"

O meu coração não aguentou tanta hipocrisia.

Ele escolheu-a. Ele sempre a escolheu.

Enquanto eu perdia a minha família e o meu futuro, eles celebravam as suas "vitórias" e me julgavam.

"Ela é uma menina frágil", disse a Inês, "Tu sempre foste a forte."

Eu era apenas conveniente.

Como se atreviam a exigir que eu entendesse? Que eu aceitasse a minha aniquilação como uma decisão "heroica"?

Mas eu não era mais a "Clara conveniente".

"Quero que saiam," disse eu.

"Vamos divorciar-nos."

O lençol liso sobre o meu ventre vazio foi a minha última gota.

Peguei no telemóvel, o ecrã rachado, e liguei para uma advogada de divórcios.

Eu ia aprender a andar de novo. Sozinha. E vingar-me.

            
            

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