Acordei com o cheiro a antisséptico e o som suave de um monitor cardíaco.
Uma luz branca e fria vinha do teto. Um hospital.
A minha mãe estava sentada numa cadeira ao lado da cama, o rosto inchado de tanto chorar.
Quando viu que eu estava acordada, agarrou a minha mão. A sua pele estava fria.
"Clara, minha querida..."
Olhei para a minha barriga.
Estava vazia. Plana.
O peso que carreguei durante oito meses tinha desaparecido. O movimento suave que me confortava tinha parado.
Um vazio oco abriu-se no meu peito, tão vasto e frio que me deixou sem ar.
As lágrimas vieram sem som, a escorrer pelos meus olhos, pelas minhas têmporas, a molhar o travesseiro.
Não era um choro ruidoso. Era o choro silencioso da perda absoluta.
O médico entrou. Era um homem mais velho, com olhos cansados.
Ele explicou. O stress, o choque, o frio. O meu corpo não aguentou.
Eles tiveram de fazer uma cirurgia de emergência para me salvar.
O bebé, um menino, já não tinha batimento cardíaco quando cheguei.
Um menino. Eu ia ter um menino.
Fechei os olhos. A imagem do seu rosto, que eu nunca veria, formou-se na minha mente.
A minha mãe chorava abertamente agora, os seus soluços a encher o silêncio do quarto.
Eu sentia-me estranhamente calma. Anestesiada.
Pedi o meu telemóvel. A minha mãe entregou-mo, hesitante.
"O que vais fazer, Clara?"
"Vou ligar ao Tiago," disse eu, a minha voz rouca e sem emoção. "Ele precisa de saber que o filho dele morreu."
Ela tentou protestar, dizer para eu esperar, para descansar.
Mas eu precisava de o fazer. Precisava de ouvir a voz dele.
Precisava que ele soubesse o que a sua escolha tinha custado.