Não sei quanto tempo passou. Perdi a noção de tudo, exceto do frio e do medo. A água chegou-me ao pescoço quando finalmente ouvi um barulho forte vindo de fora.
A janela do carro partiu-se e uns braços fortes agarraram-me. Eram os bombeiros.
"Calma, senhora. Vamos tirá-la daqui."
A última coisa de que me lembro é da luz forte das lanternas deles a encandear-me os olhos.
Acordei num quarto de hospital. O cheiro a desinfetante era intenso. Uma enfermeira estava a ajustar o soro ao meu lado.
A minha primeira reação foi levar a mão à barriga.
Estava lisa. Vazia.
O pânico voltou, mil vezes pior do que no túnel.
"O meu bebé...", sussurrei, a voz rouca. "Onde está o meu bebé?"
A enfermeira olhou para mim com uma expressão de pena. Uma pena que eu não queria ver.
"Lamento muito", disse ela suavemente. "Devido à hipotermia e ao choque, entrou em trabalho de parto prematuro. Fizemos tudo o que podíamos, mas... o bebé não sobreviveu."
As suas palavras pairaram no ar. Não sobreviveu.
O meu filho. O meu menino. Tinha desaparecido antes mesmo de eu poder ver o seu rosto.
Fiquei a olhar para o teto branco do quarto. Não chorei. Não gritei. Senti um vazio tão grande, tão profundo, que parecia ter engolido todos os outros sentimentos.
O meu filho estava morto porque o pai dele estava ocupado a salvar o cão de outra mulher.
Naquele momento, deitada naquela cama de hospital, fria e vazia, tomei uma decisão.
O meu casamento tinha acabado. Tinha morrido juntamente com o meu filho.
A minha mãe, Helena, entrou no quarto nesse momento. O seu rosto estava marcado pela preocupação. Ela tinha passado pela sua própria cirurgia cardíaca há apenas algumas semanas.
"Sofia, minha querida!"
Ela correu para o meu lado, agarrando a minha mão. As suas mãos estavam quentes.
"O Tiago... Onde está o Tiago?", perguntou ela, olhando à volta.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios.
"Não sei, mãe. Talvez ainda esteja a consolar a Clara."
A confusão no rosto da minha mãe era evidente. Antes que ela pudesse perguntar mais alguma coisa, a porta abriu-se novamente.
Era o Tiago.