Eu estava a tremer, encostada à parede fria, a tentar processar a traição.
O meu telemóvel tocou. Era a minha sogra, Helena.
Recusei a chamada.
Dois minutos depois, ela ligou novamente. E outra vez.
Na quarta vez, atendi, pronta para gritar.
"Clara, o que é esta história de estares a pressionar o Leo por causa do dinheiro?" A sua voz era acusadora, sem um pingo de simpatia.
"Helena, o meu pai está a morrer. Ele precisa de uma cirurgia."
"Eu sei, o Leo contou-me. É uma pena o que aconteceu," ela disse, a sua voz desprovida de qualquer emoção. "Mas não podes ser egoísta. Esse dinheiro é para o futuro da Sofia. É um investimento na nossa família."
"O meu pai não é a vossa família?" perguntei, incrédula.
"Clara, tu és a nossa família. Mas o teu pai... é o teu pai. A Sofia é sangue do nosso sangue. O futuro dela é a nossa prioridade."
Eu não conseguia acreditar no que estava a ouvir.
Antes que eu pudesse responder, ouvi a voz de Sofia ao fundo, chorosa e mimada.
"Mãe, diz-lhe para parar! O Leo prometeu-me! Não é justo! Ela está a tentar arruinar a minha vida!"
Helena voltou ao telefone. "Estás a ouvir? Estás a fazer a tua cunhada chorar. Ela é tão sensível. Pensa no stress que lhe estás a causar."
Eu desliguei.
Não havia mais nada a dizer.
Eles não eram apenas egoístas, eram monstros.
Vinte minutos depois, eles apareceram. Leo, a sua mãe Helena, e a sua irmã Sofia.
Sofia tinha os olhos vermelhos, como se tivesse chorado o caminho todo. Helena tinha uma expressão dura no rosto.
Eles não vieram para oferecer apoio. Vieram para garantir que eu não ficava com o dinheiro deles.
"Clara," começou Helena, com um tom condescendente. "Nós entendemos a tua dor, mas tens de pensar com clareza. 300.000 é muito dinheiro para gastar numa cirurgia com poucas garantias. O teu pai já tem uma idade..."
"Ele tem sessenta e dois anos," interrompi, a minha voz gélida.
Sofia fungou. "O meu café vai gerar lucros. Eu posso ajudar-vos mais tarde, quando tiver sucesso. É um investimento melhor."
Eu olhei para os três. O meu marido, a minha sogra, a minha cunhada.
Três estranhos.
"O vosso dinheiro está seguro," eu disse, a minha voz calma de uma forma assustadora. "Eu não quero um cêntimo dele."
"Agora, por favor, saiam deste hospital. A vossa presença aqui está a contaminar o ar."