O escritório do Tiago era moderno e impessoal, todo em vidro e aço. Contrastava brutalmente com a confusão dentro de mim.
Ele ouviu-me atentamente, sem interrupções, enquanto eu recontava os eventos do acidente, desta vez com detalhes frios e precisos. O modelo do telemóvel da Sofia, a conversa que ela estava a ter, o exato momento em que os pneus guincharam no asfalto.
"Ela estava a falar com a nova namorada," disse eu, a memória a queimar-me. "A rir-se de uma piada qualquer. Eu disse 'Sofia, por favor, desliga'. Ela olhou para mim e revirou os olhos."
O Tiago anotava tudo num bloco de notas.
"A companhia telefónica terá os registos da chamada," disse ele. "Isso prova que ela estava ao telefone, mas não prova que foi a causa direta do acidente. Eles vão alegar que um animal atravessou a estrada, ou que havia óleo na pista."
"Não havia nada," insisti. "A estrada estava limpa. Estava um dia de sol. Ela simplesmente perdeu o controlo porque não estava a prestar atenção."
"Eu acredito em ti, Inês. Mas um júri precisa de mais do que a tua palavra. Precisamos de provas concretas."
Ele suspirou, pousando a caneta.
"Vamos começar com o divórcio. Isso é simples. Litigioso, mas simples. Vamos pedir tudo. A casa, pensão de alimentos, tudo a que tens direito."
"Eu não quero o dinheiro dele," cuspi. "Eu quero que ele sofra."
"A melhor maneira de o fazer sofrer é atingi-lo na carteira e no orgulho," disse o Tiago, com um pragmatismo frio. "Enquanto isso, vou começar a investigar o processo criminal contra a Sofia. Vou pedir os registos telefónicos e o relatório policial do acidente."
Saí do escritório dele a sentir-me um pouco mais forte. Ter um aliado fazia a diferença.
Quando liguei o meu telemóvel, havia dezenas de mensagens. Uma era um áudio do Pedro. A voz dele estava diferente. Suplicante.
"Inês, por favor, volta para casa. Eu... eu sinto a tua falta. Sinto a falta do Leo. Esta casa está tão vazia. Eu cometi um erro. Estava em pânico. Perdoa-me."
Por um momento, uma fração de segundo, o meu coração vacilou. A memória do homem que eu amava, do pai do meu filho, veio à tona.
Mas depois, outra mensagem chegou. Da Elvira.
"Se pensas que vais conseguir um cêntimo do meu filho com este divórcio, estás muito enganada. Contratámos o melhor advogado da cidade. Vais sair disto sem nada, sua oportunista."
E eu soube. O áudio do Pedro não era sincero. Era uma tática. Eles perceberam que eu estava a falar a sério e agora estavam a tentar manipular-me.
Apaguei o áudio. Bloqueei o número da Elvira.
A guerra tinha começado.