A Escolha de Isabel
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Capítulo 2

Saí do hospital e o ar frio da noite atingiu-me. O cheiro a chuva e a terra molhada enchia o ar.

A minha casa já não parecia um lar. Estava vazia, silenciosa. O quarto do Leo estava exatamente como ele o tinha deixado. Os seus carrinhos de brincar estavam alinhados no chão, o seu pijama estava dobrado na cama.

Sentei-me no chão, o coração a doer. Peguei num dos seus desenhos. Um boneco de palitos a segurar a mão de outros dois. "Mamã, Papá, Leo."

Uma lágrima caiu no papel, manchando a tinta.

A porta abriu-se de repente. A Isabel entrou, o rosto uma máscara de fúria.

"O que pensas que estás a fazer?" ela sibilou.

"Estou no quarto do nosso filho," respondi calmamente.

"Nosso filho? Tu abandonaste-o! Vens aqui para te fazeres de vítima?"

"Eu não o abandonei, Isabel. Tu sim."

Ela riu, um som feio. "Eu salvei o meu irmão! Isso é algo que tu nunca entenderias. Tu não tens família."

Era verdade. Os meus pais morreram quando eu era jovem. Eu não tinha ninguém. A família dela era tudo o que eu conhecia.

"Eles nunca gostaram de mim, pois não?" perguntei, mais para mim mesmo do que para ela.

"Claro que não," ela cuspiu. "És fraco. Sempre foste. O meu pai tinha razão sobre ti."

Ela caminhou até ao armário do Leo e começou a tirar as roupas dele, a atirá-las para um saco do lixo.

"O que estás a fazer?" gritei, levantando-me.

"A limpar. A livrar-me destas coisas. Não podemos viver no passado."

"Pára!" Agarrei-lhe no braço. "Não tens o direito."

Ela arrancou o braço do meu alcance. "Eu tenho todo o direito! Eu sou a mãe dele!"

"Uma mãe que o deixou morrer!"

O estalo do seu tapa ecoou no quarto silencioso. A minha bochecha ardeu.

"Nunca mais digas isso," ela ameaçou, os olhos a brilhar. "A culpa não foi minha. Foi um acidente."

"Continua a dizer isso a ti mesma," eu disse, a minha voz a tremer de raiva. "Talvez um dia acredites."

Virei-me e saí do quarto. Saí de casa. Eu não podia ficar ali mais um segundo.

Enquanto eu caminhava pela rua escura, o meu telemóvel tocou. Era o meu advogado, o Sr. Costa.

"Afonso? Tenho os papéis do divórcio prontos. Onde queres que nos encontremos?"

"Encontra-me no meu escritório," respondi. "Vou para lá agora."

Havia trabalho a fazer.

            
            

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