A minha mãe afastou o telemóvel do ouvido, o seu rosto endureceu.
"Sofia, a minha mãe está no hospital porque o teu filho a deixou à espera durante horas."
A voz de Sofia não vacilou.
"Isso é um acidente! A Bia estava a passar mal! A Inês está a ser egoísta e dramática. Ela sabe o quão sensível a Bia é. Ela está a usar a avó para manipular o Léo!"
A minha mãe respirou fundo.
"Não vou discutir isto contigo agora, Sofia. Tenho de cuidar da minha mãe."
Ela desligou a chamada sem esperar por uma resposta.
Olhou para mim, os seus olhos cheios de uma raiva contida.
"Não ligues, querida. Ela está a defender o filho dela."
"Ela sempre o faz," murmurei.
Sofia nunca gostou muito de mim. Ela achava que eu não era boa o suficiente para o seu "menino de ouro". E ela adorava a Bia. Mesmo depois de eles terem acabado, ela continuava a convidá-la para jantares de família.
Entrei no quarto. A minha avó estava deitada na cama, pálida, mas com os olhos abertos.
Ela sorriu quando me viu.
"Querida."
Sentei-me ao lado dela e peguei na sua mão. Estava fria.
"Desculpa, avó. Por tudo isto."
Ela abanou a cabeça lentamente.
"Não peças desculpa. Onde está aquele rapaz?"
"Ele não vem, avó."
Os seus olhos lúcidos fixaram-se nos meus. Ela não precisava de mais explicações.
"Bom," ela disse, a sua voz fraca mas firme. "Um homem que não aparece não merece a cadeira vazia."
A simplicidade das suas palavras acertou-me em cheio.
Ela apertou a minha mão.
"Tu mereces alguém que chegue a tempo."
Fiquei com ela até ela adormecer. A minha mãe ficou para passar a noite.
Quando saí do hospital, já era madrugada. O ar estava frio.
Liguei o meu telemóvel e vi dezenas de mensagens e chamadas perdidas do Léo.
"Inês, por favor, fala comigo."
"Não podes fazer isto."
"Eu amo-te. Foi um erro estúpido."
"A Bia já está melhor. Ela sente muito pelo que aconteceu."
Apaguei tudo sem ler o resto.
No dia seguinte, fui ao nosso apartamento para fazer as minhas malas. Esperava que ele não estivesse lá.
Mas ele estava. Sentado no sofá, no escuro.
Quando acendi a luz, vi o seu rosto. Estava abatido, com olheiras profundas.
"Inês."
Ele levantou-se.
"Vim buscar as minhas coisas," eu disse, evitando o seu olhar.
Fui para o quarto e comecei a tirar as minhas roupas do armário.
Ele seguiu-me e ficou à porta.
"Não vás. Podemos resolver isto."
"Não, não podemos, Léo. Isto não é sobre hoje. É sobre sempre."
Continuei a dobrar as minhas camisolas, a minha voz calma e metódica.
"É sobre todas as vezes que cancelaste os nossos planos porque a Bia precisava de ti. É sobre o aniversário que passaste com ela porque o gato dela morreu. É sobre a nossa viagem de fim de semana que tiveste de encurtar porque ela se sentiu sozinha."
Ele passou a mão pelo cabelo, frustrado.
"Isso não é justo! Ela é como uma irmã para mim! Ela não tem família aqui!"
"Eu era a tua noiva. Eu devia ser a tua família."
Fechei a mala com um clique alto. O som pareceu definitivo.
"Por favor, Inês. Dá-me mais uma oportunidade. Eu vou mudar. Vou estabelecer limites com a Bia."
Olhei para ele. Ele parecia desesperado. E por um segundo, hesitei. Cinco anos é muito tempo.
Mas depois lembrei-me da minha avó, pálida na cama do hospital.
"É tarde demais, Léo."
Passei por ele e saí do quarto.
Quando estava na porta da frente, ele disse uma última coisa.
"Ela tentou suicidar-se uma vez, Inês. Depois de eu acabar com ela. Eu prometi que nunca mais a abandonaria."
Parei. Virei-me e olhei para ele.
Então era isso. Uma promessa. Uma promessa feita a outra mulher que definia a nossa relação.
"Então cumpre a tua promessa," eu disse. "Mas não podes ter as duas coisas. Não me podes ter a mim."
Saí e fechei a porta. Desta vez, para sempre.