Adeus, Segunda Opção
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Capítulo 4

A vida continuou. Lentamente, o nó no meu estômago começou a desapertar.

Passei os meus fins de semana com a minha mãe e a minha avó. Comecei a fazer caminhadas. Redecorei o apartamento da avó, dando-lhe um toque mais meu.

Léo continuou a ligar. A frequência diminuiu, mas não parou. Eram chamadas bêbadas a meio da noite, cheias de súplicas e acusações.

"Tu desististe de nós."

"Eu odeio-te por me fazeres sentir assim."

"Eu sinto a tua falta."

Eu nunca atendi. Apenas lia as transcrições do correio de voz na manhã seguinte com uma sensação de distância.

Cerca de um mês depois, recebi um e-mail do meu antigo senhorio.

Dizia que Léo não tinha pago a renda e que, se o pagamento não fosse feito em 48 horas, iniciariam o processo de despejo.

O meu nome ainda estava no contrato de arrendamento.

Senti uma picada de pânico. A minha estabilidade financeira, que eu tinha trabalhado tanto para construir, estava em risco por causa da sua negligência.

Liguei-lhe. Foi a primeira vez em semanas.

Ele atendeu ao primeiro toque.

"Inês?" A sua voz estava cheia de esperança.

"Léo, recebi um e-mail do senhorio. Porque não pagaste a renda?"

Houve um silêncio.

"Eu... esqueci-me. As coisas têm andado uma confusão."

"Uma confusão?", repeti, incrédula. "Léo, isto é sério. Eles vão despejar-te. E o meu nome está no contrato."

"Eu sei, eu sei. Eu pago amanhã, prometo."

"Não. Eu vou pagar agora para evitar problemas. Mas tens de me transferir o dinheiro imediatamente. E tens de tratar de tirar o meu nome do contrato. Amanhã."

"Inês, espera. Podemos falar sobre isto? Podemos encontrar-nos?"

"Não há nada para falar. Resolve isto, Léo. Ou eu mesma vou falar com o senhorio para iniciar o processo de rescisão e vou cobrar-te por todos os custos."

Desliguei.

Senti-me exausta. Parecia que, mesmo separados, ele ainda conseguia arrastar-me para o seu caos.

Paguei a renda online, o meu estômago a revirar-se com o ressentimento.

No dia seguinte, ele transferiu o dinheiro. Sem nenhuma mensagem.

Duas semanas depois, recebi a confirmação de que o meu nome tinha sido removido do contrato de arrendamento. Senti um alívio imenso. Era como cortar a última corda que me prendia a ele.

Nesse mesmo dia, o meu chefe chamou-me ao seu escritório.

"Inês, tenho uma oportunidade para ti. Um projeto em Lisboa. Um boutique hotel. É um grande passo, muita responsabilidade."

Os meus olhos arregalaram-se. Era o tipo de projeto com que eu sonhava.

"Mas terias de te mudar para lá por pelo menos um ano."

Lisboa. Longe daqui. Longe das memórias, longe do Léo, da Bia, de tudo.

Um novo começo.

"Eu aceito," disse eu, sem hesitar.

A decisão pareceu a mais fácil e correta que tomei em muito tempo.

Quando contei à minha mãe e à minha avó, elas ficaram tristes por eu ir para longe, mas felizes pela minha oportunidade.

"Vai, querida," disse a minha avó. "Constrói algo bonito para ti."

A ironia era que eu ia construir um hotel, mas o que eu realmente precisava de construir era uma nova vida.

Comecei os preparativos para a mudança. Era uma lufada de ar fresco.

Uma noite, enquanto encaixotava os últimos livros, o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido.

Hesitei, mas atendi.

"Inês?"

Era a voz de Sofia, a mãe do Léo. O seu tom era completamente diferente. Não era zangado, mas... desesperado.

"O Léo está no hospital. Ele teve um acidente de carro."

                         

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