No dia seguinte, a minha sogra, a Dona Isabel, veio visitar-me.
Ela não veio sozinha. O Tiago estava com ela, a esconder-se atrás das suas costas como uma criança pequena.
A Dona Isabel colocou uma cesta de frutas na mesa de cabeceira, o seu rosto uma máscara de falsa preocupação.
"Ana, querida, como te sentes?"
Não respondi. Apenas olhei para o Tiago.
Ele não conseguia encontrar o meu olhar. Os seus olhos estavam fixos no chão.
"Tiago, pede desculpa à tua cunhada," disse a Dona Isabel, empurrando-o para a frente.
Ele murmurou algo ininteligível.
"Fala mais alto," ordenou ela.
"Desculpa," disse ele, a sua voz mal audível.
A sua desculpa era tão vazia quanto a preocupação da sua mãe.
"Ele não teve a intenção, Ana. Sabes como ele é. É apenas um rapaz," continuou a Dona Isabel, a sua voz a suavizar para um tom suplicante.
"Leo disse-me que falaste em divórcio. Não podes estar a falar a sério. Pensa na nossa família."
"Eu pensei na vossa família," respondi, a minha voz firme. "É por isso que quero o divórcio."
A sua expressão mudou. A máscara caiu, revelando o seu verdadeiro rosto.
"És tão ingrata. Depois de tudo o que fizemos por ti. Acolhemos-te. E é assim que nos retribuis?"
"Acolheram-me? Eu trabalho, pago a minha parte das contas. Eu cozinho, eu limpo. O que é que vocês fizeram por mim, exceto esperar que eu cuidasse do vosso filho problemático?"
A Dona Isabel ficou sem fôlego, ofendida.
"Como te atreves! O Tiago não é um problema! Ele é apenas... enérgico!"
Olhei para o Tiago, que ainda estava a olhar para os seus sapatos. Enérgico. Que bela maneira de descrever um pirómano.
"Quero que saiam," eu disse calmamente.
"Não podes expulsar-nos! Somos família!" gritou ela.
"Não. Não somos. Saiam agora, ou eu chamo a segurança."
A Dona Isabel olhou para mim com puro ódio nos olhos. Ela agarrou no braço do Tiago e arrastou-o para fora do quarto, a bater a porta atrás de si.
Senti um alívio imenso.
Mais tarde naquele dia, o Leo voltou.
Ele parecia cansado e derrotado.
"A mãe ligou-me. Ela estava a chorar."
"Bom," eu disse.
Ele suspirou. "Ana, por favor. Vamos resolver isto. Eu falo com o Tiago. Vou garantir que ele se comporte."
"Já disseste isso antes. Muitas vezes. Nada muda, Leo. Porque tu não o deixas mudar. Tu e a tua mãe estão sempre a protegê-lo das consequências das suas ações."
"Ele é o meu único irmão!"
"E eu sou a tua esposa! Ou pelo menos era."
Ele passou as mãos pelo cabelo, frustrado.
"O que queres de mim, Ana? Queres que eu o mande para a prisão?"
"Eu quero que admitas que ele fez algo de errado. Quero que pares de o desculpar. Quero que me ponhas em primeiro lugar, pelo menos uma vez."
Ele ficou em silêncio.
O seu silêncio foi a resposta mais alta de todas.
Ele nunca me colocaria em primeiro lugar. O seu irmão, a sua mãe, eles seriam sempre a sua prioridade.
Eu era apenas uma adição conveniente à sua vida.
"Vou contactar um advogado," eu disse.
O Leo olhou para mim, os seus olhos a suplicar. "Ana, não faças isto."
"Já está feito, Leo."
Virei o meu rosto para a janela, a recusar-me a olhar para ele.
A cidade lá fora continuava a sua vida, indiferente ao meu pequeno mundo a desmoronar-se.
Ou talvez, a ser reconstruído.