A Fúria de uma Mãe: Vingança e Recomeço
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Capítulo 1

O meu filho, Lucas, teria feito cinco anos hoje.

Eu tinha comprado um bolo de chocolate, o seu favorito, e o coloquei na mesa da sala de estar.

O meu marido, Pedro, entrou em casa, viu o bolo e o seu rosto ficou sombrio.

"Sofia, o que é isto?"

A sua voz era fria, sem qualquer emoção.

"É o aniversário do Lucas."

Eu respondi calmamente, acendendo as cinco velas, uma a uma.

"Ele já morreu há cinco anos. Já chega."

Ele atirou a sua pasta para o sofá, o som ecoou na sala silenciosa.

"Ele não morreu, Pedro. Ele está aqui."

Eu apontei para o meu coração.

"Ele está sempre aqui."

Pedro riu, um som amargo e cheio de desprezo.

"Estás louca. Completamente louca."

Ele caminhou até à mesa, olhou para o bolo e depois para mim.

"A Beatriz vai voltar a morar connosco amanhã."

O meu corpo ficou rígido. A chama das velas tremeluziu.

Beatriz. A sua ex-namorada. A mulher que ele nunca esqueceu.

A mulher que, há cinco anos, me ligou no meio da noite, a chorar e a dizer que estava a morrer, fazendo com que o Pedro me deixasse sozinha na autoestrada com o nosso filho a arder em febre.

"Ela está doente," ele continuou, evitando o meu olhar. "Precisa de alguém para cuidar dela."

"E eu?" a minha voz saiu como um sussurro. "E o nosso filho, o que teria sido dele?"

"Não fales do passado!" ele gritou, a sua fúria a explodir de repente. "A Beatriz estava sozinha! Tu tinhas o Lucas contigo! Eu não podia deixá-la morrer!"

Sozinha? Ela tinha toda a sua família. Eu só tinha o Pedro.

O nosso carro tinha avariado numa autoestrada deserta. O Lucas estava a arder em febre nos meus braços, a sua respiração fraca. Eu liguei ao Pedro, a implorar que voltasse.

Mas a Beatriz tinha ligado primeiro.

"Eu volto para te buscar, prometo," ele disse ao telefone, mas a sua voz já estava distante. "Só preciso de ver como a Beatriz está."

Ele nunca mais voltou.

Eu esperei horas. Tentei chamar uma ambulância, mas não havia sinal. Tive de caminhar quilómetros com o meu filho nos braços até encontrar ajuda.

Quando finalmente chegámos ao hospital, já era tarde demais.

Sépsis. O médico disse que se tivéssemos chegado uma hora antes, o Lucas poderia ter sobrevivido.

Uma hora. O tempo que o Pedro levou para ir confortar a sua ex-namorada.

Agora, ele queria trazê-la para a nossa casa. A casa que eu e o Lucas deveríamos ter partilhado com ele.

Eu olhei para as chamas das velas.

"Não."

"O quê?"

"Ela não vai entrar nesta casa."

Pedro olhou para mim, chocado, como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.

"Sofia, não sejas egoísta. Ela não tem para onde ir."

"Isso não é problema meu."

"Tu mudaste," ele disse, com a voz cheia de deceção. "Costumavas ser tão compreensiva."

Eu sorri, um sorriso sem alegria.

"A mulher que tu conhecias morreu naquela autoestrada, juntamente com o filho dela."

Peguei na faca do bolo. Com um movimento rápido, cortei uma fatia e coloquei-a num prato.

"Feliz aniversário, meu amor," sussurrei para o ar.

Pedro observou-me, a sua raiva a misturar-se com confusão. Ele não me entendia. Ele nunca entendeu.

Para ele, o Lucas era uma memória dolorosa que ele queria enterrar. Para mim, ele era tudo o que me restava.

E a Beatriz era a mulher que tinha tirado tudo de mim.

Ele abriu a boca para dizer algo mais, mas o seu telemóvel tocou. Ele olhou para o ecrã e o seu rosto suavizou-se instantaneamente.

"Bia? Sim, sou eu. Está tudo bem? Não te preocupes, amanhã estarei aí para te ir buscar."

Ele saiu da sala, a sua voz a tornar-se um murmúrio reconfortante.

Eu fiquei sozinha com o bolo e as memórias.

Amanhã.

Amanhã, a guerra começaria.

            
            

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