"Como te sentes hoje, Bia?" perguntou o Pedro, com a voz cheia de preocupação.
"Um pouco melhor, obrigada a ti," respondeu ela, sorrindo-lhe docemente. "És tão bom para mim."
"Eu faria qualquer coisa por ti."
As suas palavras eram para ela, mas o seu olhar desafiador era para mim. Ele estava a provocar-me.
Eu terminei o meu café e levantei-me.
"Vou sair."
"Onde vais?" perguntou o Pedro, desconfiado.
"Resolver uns assuntos."
Peguei na minha mala e saí, sem olhar para trás.
O meu primeiro destino foi um escritório de advogados. Sentei-me em frente a uma mulher de ar sério chamada Dra. Almeida.
"Eu quero o divórcio," disse eu, sem rodeios.
Ela ouviu a minha história pacientemente, tomando notas. Sobre o Lucas, sobre a autoestrada, sobre a Beatriz.
Quando terminei, ela olhou para mim com simpatia.
"Sra. Costa, este é um caso complicado. O seu marido vai lutar."
"Eu sei. E eu vou lutar mais."
"Vamos começar a preparar os papéis. Precisaremos de provas da infidelidade emocional e da negligência dele."
"Eu consigo isso."
Saí do escritório a sentir-me um pouco mais leve. Tinha dado o primeiro passo.
A minha segunda paragem foi um banco. Fechei a nossa conta conjunta e abri uma nova, apenas em meu nome. Transferi metade do dinheiro. Era meu por direito.
Passei o resto do dia a tratar de assuntos. Cancelei os cartões de crédito conjuntos. Falei com um agente imobiliário sobre o valor da casa.
Quando voltei para casa, o Pedro estava à minha espera na sala de estar. A sua cara estava lívida.
"O que é que tu fizeste, Sofia?"
Ele tinha um extrato bancário na mão.
"Eu protegi o que é meu."
"Nosso! O dinheiro era nosso!"
"Quando foi a última vez que contribuíste para esta família de uma forma que não fosse financeira, Pedro? Quando foi a última vez que estiveste aqui para mim, ou para o teu filho?"
Ele ficou sem palavras.
"E onde estiveste o dia todo?"
"A tratar da minha vida. Já que tu estás tão ocupado a tratar da vida de outra pessoa."
A Beatriz apareceu, vinda do quarto.
"Pedro? O que se passa?"
"Nada, Bia. Volta para o quarto."
"Não," eu disse. "Fica, Beatriz. Isto também te diz respeito."
Ela olhou de mim para o Pedro, com os olhos arregalados.
"Eu pedi o divórcio," anunciei.
O rosto do Pedro endureceu.
"Tu não te vais divorciar de mim."
"Vê-me a fazê-lo."
"E a casa? Achas que te vou deixar ficar com a casa?"
"A casa está em nome dos dois. Metade é minha. E um juiz pode ter algo a dizer sobre um homem que expulsa a sua esposa enlutada para acolher a sua amante."
"Ela não é minha amante!" ele rugiu.
"Ainda não," disse eu, olhando diretamente para a Beatriz. "Mas é só uma questão de tempo, não é?"
A Beatriz começou a chorar. Lágrimas silenciosas a escorrer pelo seu rosto pálido.
"Eu não queria causar isto," soluçou ela. "Eu só... eu não tinha mais ninguém."
"Para com o teatro, Beatriz," eu disse, cansada. "Todos nós sabemos porque é que estás aqui."
O Pedro foi até ela e abraçou-a.
"Shh, está tudo bem. Não a ouças."
Ele olhou para mim por cima do ombro dela, com os olhos a arder de ódio.
"Tu vais arrepender-te disto, Sofia."
"O único arrependimento que tenho é ter-te amado."
Virei-me e fui para o nosso quarto. Fechei a porta e tranquei-a.
Ouvi-os a falar em voz baixa na sala de estar. A voz dele era zangada, a dela era suave e chorosa.
Sentei-me na cama e respirei fundo.
A batalha tinha começado. E eu estava pronta.