O Preço do Abandono: Quando o Amor Se Desfaz
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Capítulo 2

A voz da Laura era como um martelo a bater na minha cabeça já dorida.

"Onde está o Pedro?" perguntei, a minha voz fria.

"O Pedro está a cuidar da irmã dele, claro! Onde mais estaria? A Cláudia teve um ataque por causa do teu telefonema egoísta! O médico disse que ela precisa de descanso absoluto!"

Ela fez uma pausa, e eu podia quase imaginá-la a abanar a cabeça em desaprovação.

"Sofia, eu sei que estás chateada com o acidente, mas não podes ser tão egoísta. A família tem de se manter unida nestes momentos. O Pedro está a fazer o que qualquer bom irmão faria."

Família. Ela continuava a usar essa palavra.

"O meu pai está em coma," disse eu, cada palavra a sair com dificuldade. "Eu abortei. Estávamos na Autoestrada A1."

Houve um breve silêncio do outro lado.

"Oh, meu Deus. Isso é terrível," disse a Laura, mas o seu tom carecia de qualquer calor genuíno. "Mas tu sabes como a saúde da Cláudia é frágil. O choque de saber disto tudo de uma vez... seria demais para ela. O Pedro fez bem em protegê-la."

Proteger a Cláudia. E eu? Eu era apenas um dano colateral.

"Eu entendo," disse eu, a minha voz desprovida de emoção. "Cuidem bem da Cláudia."

Desliguei o telefone antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.

Olhei para o meu pai. O monitor cardíaco ao lado da sua cama emitia um bip constante e rítmico, o único som que me mantinha sã.

Ele era tudo o que me restava.

As horas passaram lentamente. Nenhuma chamada do Pedro. Nenhuma mensagem.

No dia seguinte, uma enfermeira entrou para verificar os meus sinais vitais.

"A sua família já foi notificada?" perguntou ela gentilmente.

"Sim," menti.

"Você precisa de descansar. Passou por muito," disse ela, com os olhos cheios de pena.

Assenti, incapaz de falar.

Mais tarde naquele dia, o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido.

Atendi com hesitação.

"Sofia? Sou eu, o Tiago."

Tiago. O melhor amigo do Pedro. A minha mente ficou em branco por um segundo.

"O Pedro pediu-me para te ligar. Ele... ele está muito preocupado, mas não pode mesmo sair de ao pé da Cláudia."

Preocupado? Se ele estivesse preocupado, teria ligado ele mesmo.

"Obrigada por ligares, Tiago," disse eu, a minha voz monótona.

"Olha, Sofia, eu sei que isto parece mau," continuou ele, "mas a Cláudia é realmente muito frágil. O Pedro cresceu sempre a protegê-la. É um instinto para ele."

"Eu sei," respondi.

"Ele ama-te, Sofia. Ele está apenas dividido. Ele disse que assim que a Cláudia estiver estável, ele vai ter contigo."

"Não é preciso," disse eu. "Diz-lhe para não se preocupar. Eu estou bem."

Menti de novo. Mentir estava a tornar-se fácil.

"Sofia..."

"Tenho de ir, Tiago. A enfermeira está aqui."

Desliguei.

Sentei-me na cama, a olhar para a parede branca. O Pedro não viria. Ele tinha feito a sua escolha. Ele escolheu a irmã que ele precisava de proteger em vez da noiva que o tinha desiludido ao perder o seu filho.

A decisão estava tomada. Não por mim, mas por ele.

Eu só tinha de a aceitar.

O meu luto pelo meu filho estava misturado com uma nova sensação: um vazio frio onde antes havia amor.

Não havia mais lágrimas para chorar. Apenas um silêncio oco e a certeza de que estava sozinha.

            
            

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