O meu nome é Sofia.
Quando o meu noivo, Pedro, me ligou, eu estava sentada no chão frio da casa de banho, com o teste de gravidez positivo na minha mão trémula.
Ele estava eufórico.
"Sofia, a minha mãe finalmente concordou em encontrar-se contigo! É hoje à noite! Veste o teu melhor vestido, ela é muito exigente com a aparência."
A sua voz estava cheia de uma alegria que não consegui partilhar.
Olhei para o teste de gravidez. O nosso bebé.
"Pedro, tenho algo importante para te dizer..."
"Diz-me mais tarde, amor. Tenho de ir buscar a minha mãe ao aeroporto. Não te atrases!"
Ele desligou antes que eu pudesse dizer a palavra "grávida".
A mãe dele, a Dona Helena, a matriarca da rica família Andrade, nunca me tinha aprovado. Para ela, eu era apenas uma órfã sem nome nem fortuna.
Durante três anos, o Pedro lutou por nós. Agora, ela finalmente tinha cedido. Este jantar era a minha única oportunidade.
Engoli as minhas notícias, guardei o teste e escolhi o vestido mais conservador que tinha.
O jantar foi no restaurante mais caro da cidade. Sentei-me direita, com as mãos nos joelhos, sentindo o olhar frio da Dona Helena a avaliar-me.
"Então, tu és a Sofia," disse ela, sem qualquer emoção.
"Sim, Dona Helena. É um prazer conhecê-la."
"O prazer é todo meu," respondeu ela, com um tom que dizia o contrário.
O Pedro tentou aliviar a tensão, falando sobre o nosso futuro, os nossos planos. Eu sorria quando era suposto, mas o meu estômago estava a dar nós.
No meio do prato principal, o meu telemóvel vibrou. Era um número desconhecido. Ignorei.
Vibrou outra vez. E outra.
Dona Helena franziu a testa. "Não vais atender? Deve ser importante."
A sua voz era cortante. Pedi desculpa e levantei-me para ir à casa de banho.
Assim que atendi, a voz de uma mulher soou, frenética.
"É a Sofia? Sou a vizinha do seu avô, do Lar de Idosos Sol Dourado. Ele caiu. Bateu com a cabeça. A ambulância está a caminho do Hospital da Luz."
O meu mundo parou.
O meu avô. A única família que eu tinha.