Corri de volta para a mesa, com o pânico a subir-me pela garganta.
"Pedro, o meu avô... ele caiu. Tenho de ir para o hospital."
O Pedro levantou-se imediatamente, a preocupação no seu rosto. "Claro, vamos."
Mas a Dona Helena pousou o garfo com um ruído seco.
"Pedro, senta-te."
A sua voz era baixa, mas carregada de autoridade. O Pedro hesitou, olhando de mim para a mãe.
"Mãe, o avô da Sofia está no hospital. É uma emergência."
"E o nosso jantar não é?" ela retorquiu, com os olhos fixos em mim. "Depois de três anos, finalmente concordo em conhecer esta rapariga, e ela vai fugir por causa de um velho que provavelmente só tropeçou num tapete? Que falta de respeito."
Fiquei chocada. As palavras dela eram cruéis.
"Dona Helena, ele é a minha única família. Ele criou-me."
"E o meu filho está a tentar fazer de ti família," disse ela, apontando para o Pedro. "Tens de escolher as tuas prioridades, menina. Queres um futuro com o meu filho ou queres passar a vida a cuidar de um idoso?"
Olhei para o Pedro, implorando com os olhos.
"Mãe, isso não é justo."
"A vida não é justa, Pedro. Ela tem de provar que merece estar nesta família. Ficar é a prova."
O Pedro olhou para mim, o seu rosto uma máscara de agonia. "Sofia... talvez... talvez possas ligar ao hospital? Só para ver se é mesmo grave?"
A sugestão dele partiu-me o coração.
Ele estava a pedir-me para escolher.
Senti um arrepio. A náusea da manhã voltou com força.
"Eu tenho de ir," disse eu, com a voz firme. "Ele precisa de mim."
Virei-me e saí do restaurante, sem olhar para trás. Não ouvi o Pedro a seguir-me.
Chamei um táxi, as lágrimas a escorrerem-me pela cara.
No hospital, encontrei o meu avô numa maca num corredor. Estava pálido, com um grande penso na testa.
"Sofia, minha querida," sussurrou ele, a sua mão a tremer na minha. "Desculpa estragar a tua noite."
"Não digas isso, avô. Eu estou aqui."
O médico disse que ele tinha uma concussão e precisava de ficar em observação. Sentei-me ao lado dele, segurando a sua mão, ignorando as dezenas de chamadas perdidas do Pedro.
Naquela noite, no silêncio do hospital, tomei uma decisão.
Este bebé, o meu bebé, nunca conheceria uma família que me pedisse para abandonar a minha.