No dia do meu casamento, o noivo, Pedro, desapareceu.
A igreja estava cheia de convidados, a música soava, mas o altar onde ele deveria estar, estava vazio.
Liguei para o telemóvel dele. Uma, duas, dez vezes. Ninguém atendeu.
O meu pai, furioso, agarrou no seu próprio telemóvel e gritou com o padrinho, o primo do Pedro.
"Onde é que ele se meteu? Diz-lhe para aparecer aqui agora mesmo ou eu acabo com ele!"
A minha mãe tentava acalmar os convidados, o seu sorriso forçado a tremer nos cantos. Eu fiquei ali, no meu vestido branco, a sentir-me a pessoa mais ridícula do mundo.
Finalmente, o telemóvel do meu pai tocou. Era a mãe do Pedro, a minha futura sogra, a Lúcia. A sua voz era um misto de pânico e raiva.
"Ele não pode casar! A Sofia tentou suicidar-se! Cortou os pulsos! Estamos no hospital com ela agora mesmo!"
Sofia. A ex-namorada dele. A mulher que ele jurou ter esquecido há muito tempo.
O meu mundo desabou. O barulho na igreja desapareceu, substituído por um zumbido nos meus ouvidos.
A minha mãe arrancou-me o telemóvel da mão.
"Lúcia, que raio estás a dizer? O que é que a Sofia tem a ver com o casamento do meu filho?"
Era a minha mãe, a falar com a mãe dele. O caos instalou-se.
"A Sofia está a morrer! Ela disse que não consegue viver sem o Pedro! Ele teve de ir, ele tinha de a salvar!"
Salvá-la. No dia do nosso casamento.
Eu ri, um som seco e amargo que fez a minha própria garganta doer.
"Mãe, vamos para casa."
"Mas, filha, e os convidados? E a nossa reputação?"
Olhei para ela, para o meu pai, para as caras confusas à minha volta.
"A reputação já foi destruída. Vamos embora."
Virei-me e saí da igreja, o meu vestido a arrastar-se pelo chão sujo. Não olhei para trás. Não havia nada para ver.
O casamento tinha acabado antes mesmo de começar.