O Vazio do Altar
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Capítulo 4

Uma semana depois, estava a tentar voltar a uma rotina normal. Fui ao supermercado, tentando focar-me na banalidade de escolher fruta e legumes.

Foi então que a vi.

Sofia.

Estava no corredor dos lacticínios, a olhar para os iogurtes. Parecia perfeitamente saudável. Não havia ligaduras nos pulsos. Usava uma t-shirt de manga curta, e a sua pele estava imaculada.

Ela sorria para o seu telemóvel.

O meu sangue gelou. A mulher que supostamente tinha tentado morrer, que tinha destruído o meu casamento, estava a escolher iogurtes como se nada fosse.

A raiva subiu-me pela garganta, quente e amarga.

Marchei na direção dela. Parei o meu carrinho de compras ao lado do dela, com um ruído seco.

Ela levantou a cabeça, e os seus olhos arregalaram-se em reconhecimento. O sorriso desapareceu.

"Clara."

"Sofia. Pareces bem. Para alguém que tentou suicidar-se."

As minhas palavras saíram frias e cortantes.

Ela engoliu em seco. Olhou para os lados, nervosa.

"Eu... eu estou melhor."

"Aposto que estás. Especialmente agora que tens o Pedro a cuidar de ti."

Ela teve a audácia de parecer ofendida.

"Isso não é justo. Eu estava realmente mal."

"Mal? Ou apenas manipuladora? Diz-me, os teus pulsos, doeu muito quando fingiste cortá-los?"

Inclinei-me para a frente, a minha voz um sussurro perigoso.

Ela recuou um passo, esbarrando no frigorífico dos iogurtes.

"Eu não fingi! Eu estava em desespero!"

"Desespero? Ou apenas não suportavas a ideia de ele ser feliz com outra pessoa? Não suportavas a ideia de perder o controlo sobre ele?"

Os olhos dela encheram-se de lágrimas. Lágrimas de crocodilo.

"Tu não sabes nada sobre a minha dor."

"Eu sei tudo sobre a dor que tu me causaste. Destruíste o meu dia mais feliz. E porquê? Porque és egoísta e cruel."

Uma mulher mais velha que passava olhou para nós, chocada. Não me importei.

Sofia começou a chorar a sério, soluços a abalar o seu corpo.

"Deixa-me em paz."

"Eu vou deixar-te em paz. Mas quero que saibas uma coisa. Ele pode ter corrido para ti desta vez. Mas um homem que abandona uma mulher no altar, eventualmente, também te abandonará a ti. Pessoas como o Pedro não salvam ninguém. Eles apenas procuram a próxima pessoa para os fazer sentir importantes."

Virei-lhe as costas e empurrei o meu carrinho, deixando-a a chorar no corredor dos lacticínios.

Não senti satisfação. Apenas um cansaço profundo.

                         

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