Uma semana depois, estava a tentar voltar a uma rotina normal. Fui ao supermercado, tentando focar-me na banalidade de escolher fruta e legumes.
Foi então que a vi.
Sofia.
Estava no corredor dos lacticínios, a olhar para os iogurtes. Parecia perfeitamente saudável. Não havia ligaduras nos pulsos. Usava uma t-shirt de manga curta, e a sua pele estava imaculada.
Ela sorria para o seu telemóvel.
O meu sangue gelou. A mulher que supostamente tinha tentado morrer, que tinha destruído o meu casamento, estava a escolher iogurtes como se nada fosse.
A raiva subiu-me pela garganta, quente e amarga.
Marchei na direção dela. Parei o meu carrinho de compras ao lado do dela, com um ruído seco.
Ela levantou a cabeça, e os seus olhos arregalaram-se em reconhecimento. O sorriso desapareceu.
"Clara."
"Sofia. Pareces bem. Para alguém que tentou suicidar-se."
As minhas palavras saíram frias e cortantes.
Ela engoliu em seco. Olhou para os lados, nervosa.
"Eu... eu estou melhor."
"Aposto que estás. Especialmente agora que tens o Pedro a cuidar de ti."
Ela teve a audácia de parecer ofendida.
"Isso não é justo. Eu estava realmente mal."
"Mal? Ou apenas manipuladora? Diz-me, os teus pulsos, doeu muito quando fingiste cortá-los?"
Inclinei-me para a frente, a minha voz um sussurro perigoso.
Ela recuou um passo, esbarrando no frigorífico dos iogurtes.
"Eu não fingi! Eu estava em desespero!"
"Desespero? Ou apenas não suportavas a ideia de ele ser feliz com outra pessoa? Não suportavas a ideia de perder o controlo sobre ele?"
Os olhos dela encheram-se de lágrimas. Lágrimas de crocodilo.
"Tu não sabes nada sobre a minha dor."
"Eu sei tudo sobre a dor que tu me causaste. Destruíste o meu dia mais feliz. E porquê? Porque és egoísta e cruel."
Uma mulher mais velha que passava olhou para nós, chocada. Não me importei.
Sofia começou a chorar a sério, soluços a abalar o seu corpo.
"Deixa-me em paz."
"Eu vou deixar-te em paz. Mas quero que saibas uma coisa. Ele pode ter corrido para ti desta vez. Mas um homem que abandona uma mulher no altar, eventualmente, também te abandonará a ti. Pessoas como o Pedro não salvam ninguém. Eles apenas procuram a próxima pessoa para os fazer sentir importantes."
Virei-lhe as costas e empurrei o meu carrinho, deixando-a a chorar no corredor dos lacticínios.
Não senti satisfação. Apenas um cansaço profundo.