Quando saí do hospital, o sol já se punha, mas o que mais pesado estava era o meu coração vazio.
Há uma semana, a cadeirinha do nosso bebé estava ali, pronta.
Agora, o espaço parecia um abismo, e o meu bebé, que tanto sonhámos, tinha desaparecido.
Liguei para o meu marido, Miguel, o pai que eu queria para o nosso filho.
Ele atendeu com raiva: "O que foi agora? Já não te disse que estou ocupado?"
A voz de Sofia, a minha cunhada, ecoou clara: "Miguel, Pai, muito obrigada. Se não fossem vocês, não sei o que seria de mim e do Faísca."
Miguel tinha deixado a mulher que acabara de perder o filho para "ajudar" a irmã com um braço partido e o seu cão.
Ele nem sequer se importou com a minha dor ou com o nosso filho.
Pior, acusou-me de egoísmo e desligou o telefone na minha cara, bloqueando-me.
A sua família, o meu sogro, ligou-me apenas para me repreender e humilhar, chamando a perda do meu filho um "assunto pequeno".
Será que a minha dor não importava?
Será que tudo o que eu sentia era apenas "drama" para eles?
Porque é que eu era tratada como uma intrusa, como se a minha vida não valesse nada?
O meu pai, acabado de fazer uma cirurgia cardíaca, foi a gota de água. Eu não podia mais.
Peguei na mala. Era o fim. Eu ia divorciar-me e recomeçar a minha vida.
Mas o Miguel e o meu sogro, João Andrade, não me deixariam ir tão facilmente.
Eles iriam lutar com todas as armas, sem saber que estavam prestes a libertar uma fúria que eles próprios tinham criado.