No dia seguinte, contactei uma advogada, a Dra. Campos. Ela era conhecida por ser implacável. Expliquei-lhe a situação. O casamento, a perda do bebé, a negligência do Miguel, o abuso verbal do sogro.
"Temos um caso forte," disse a Dra. Campos, depois de me ouvir atentamente. "Especialmente com o histórico de negligência emocional. Vamos pedir uma divisão justa dos bens e uma compensação."
"Eu não quero o dinheiro deles," disse eu, com firmeza. "Só quero sair disto o mais rápido possível."
"Eu entendo, Ana. Mas não se trata do dinheiro. Trata-se de justiça. Eles não podem simplesmente descartá-la depois de tudo o que passou."
Concordei, relutantemente. Ela tinha razão.
A Dra. Campos enviou a notificação de divórcio para o Miguel. A resposta não demorou.
O meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido. Atendi.
"Ana? Sou eu, Sofia."
A voz dela era hesitante.
"O que queres?"
"Eu... eu soube do divórcio. O Miguel está furioso. O meu pai também."
"Isso não é problema meu."
"Por favor, Ana. Pensa melhor. Vocês os dois... vocês amavam-se. Não deixes que um mal-entendido destrua tudo."
"Um mal-entendido?" Ri, sem humor. "O teu irmão deixou-me sozinha depois de eu perder o nosso filho para ir cuidar do teu braço partido e do teu cão. Isso não é um mal-entendido, Sofia. É uma escolha."
Houve silêncio do outro lado.
"Eu não sabia... sobre o bebé. Ele não me disse que era tão grave."
"Claro que não disse. Porque para ele, não era grave. Nada que me diga respeito é grave."
"Ana, eu sinto muito..."
"Guarda as tuas desculpas, Sofia. É tarde demais."
Desliguei. Senti-me exausta. Cada conversa com eles era como reabrir a ferida.
Mais tarde, nesse dia, recebi uma mensagem do Miguel.
"Tu vais arrepender-te disto, Ana. Vais ver. Eu vou fazer da tua vida um inferno."
Não respondi. Apenas apaguei a mensagem e bloqueei o número dele novamente. As ameaças dele já não me assustavam.