A voz do meu sogro era como um martelo, cada palavra batia na minha cabeça.
"A Sofia está a passar por um momento difícil. Ela precisa do irmão. E tu, em vez de apoiares, crias problemas? Que tipo de mulher és tu?"
"Eu..."
Tentei falar, mas ele não me deu oportunidade.
"O Miguel está a trabalhar dia e noite para te dar uma vida boa. E é assim que lhe agradeces? Com ameaças de divórcio? Se não estás satisfeita, a porta está aberta. Ninguém te está a obrigar a ficar."
Ele desligou.
Fiquei a olhar para o telemóvel, em silêncio. A humilhação era uma onda quente que me subia pelo rosto.
Então, para eles, eu era o problema. A minha dor não importava. A perda do meu filho era um "assunto pequeno".
Conduzi para casa. O apartamento que partilhava com o Miguel parecia frio e vazio. Cada canto lembrava-me dos planos que tínhamos feito para o bebé. O quarto pintado de azul, o berço montado, as pequenas roupas dobradas na gaveta.
Abri o guarda-roupa. As roupas do Miguel estavam perfeitamente arrumadas de um lado, as minhas do outro. Peguei numa mala de viagem e comecei a atirar as minhas coisas para dentro, sem cuidado. Vestidos, calças, sapatos.
Não queria ficar ali nem mais um minuto.
O meu telemóvel vibrou. Era uma mensagem da minha mãe.
"Filha, como estás? O teu pai está a perguntar por ti."
Respondi rapidamente.
"Estou a caminho de casa do pai. Fico aí uns tempos."
"Aconteceu alguma coisa com o Miguel?"
Não respondi. Ela saberia em breve.
Fechei a mala e arrastei-a até à porta. Olhei uma última vez para o apartamento. Parecia a casa de um estranho. A nossa fotografia de casamento na parede da sala parecia uma mentira. Nela, sorríamos, felizes. Que piada.
Saí e fechei a porta atrás de mim. O som do clique da fechadura foi definitivo. Era o fim.