Meu Marido Escolheu a Amante
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Capítulo 1

A água gelada subia pelas minhas pernas.

Eu estava presa na cave da nossa própria casa, a porta de madeira inchou com a humidade e não abria.

A tempestade lá fora rugia como um monstro.

A minha barriga de oito meses estava dura como uma pedra, o pânico a fazer o meu coração bater descontroladamente.

Peguei no telemóvel com os dedos a tremer. O ecrã mostrava vinte chamadas não atendidas para o Tiago, o meu marido.

Liguei outra vez.

Desta vez, ele atendeu. O barulho de vento e chuva do lado dele era quase tão alto como o meu.

"Eva? O que foi agora? Estou ocupado."

A voz dele era irritada, impaciente.

"Tiago, ajuda-me! Estou presa na cave, a água está a subir muito depressa!"

Gritei, a minha voz a falhar com o medo.

Houve uma pausa. Pude ouvir outra voz ao fundo, uma voz de mulher, a da Lia. A irmã dele.

"Tiago, querido, o meu pneu furou, estou aqui parada no meio do nada e o meu cão está a tremer de medo. Por favor, despacha-te."

A voz dela era chorosa, fraca.

O meu coração gelou. A estrada onde ela estava ficava a uma hora de distância, na direção oposta da nossa casa.

"Eva, ouve," a voz do Tiago voltou, dura e fria. "A Lia está com problemas. O pneu dela rebentou e ela está sozinha. Tu estás em casa, estás segura. Liga para os bombeiros se for assim tão mau. Tenho de ir."

"Não! Tiago, por favor!"

Eu implorei, as lágrimas a misturarem-se com a água suja que já me chegava à cintura. "O bebé... eu não me sinto bem!"

"Para de ser tão dramática, Eva. A Lia precisa mesmo de mim. Resolve isso."

Ele desligou.

O som do "tu-tu-tu" foi a coisa mais cruel que alguma vez ouvi.

Olhei para o meu telemóvel. Sem sinal. A tempestade tinha cortado tudo.

Eu estava sozinha.

Uma dor aguda atravessou a minha barriga, tão forte que me fez dobrar. Gritei, mas ninguém ouviu. A água continuava a subir, fria e implacável.

Eu e o meu filho estávamos a afundar-nos, e o pai dele tinha escolhido salvar a irmã por causa de um pneu furado.

            
            

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