Capítulo 4 Estranho perigo

PONTO DE VISTA DA EMMA:

"Não posso acreditar que Zach te traiu!", Carrie engasgou com uma raiva nítida.

"E eu não acredito que você transou com um cara qualquer no fundo de um bar", Tiff acrescentou.

Nesta manhã eu acordei dormindo dentro do meu carro. Eu nem sequer me lembrava de tê-lo dirigido. Ele estava parado dentro de em um estacionamento do Walmart, e eu nem sequer sabia que havia um Walmart por perto.

Verifiquei meu celular e vi dezenas de mensagens e chamadas perdidas de Tiff e Carrie. Liguei para as duas e decidimos nos encontrar em um restaurante próximo dali. Tiff passou a noite com o cara do bar que ela estava conversando ontem, o Steve, e Carrie ficou na casa da irmandade.

Assim que nos encontramos e depois que eu bebi uma caneca de café inteira, finalmente fui capaz de contar às minhas amigas tudo o que havia acontecido na noite passada. Ou, pelo menos as partes que eu conseguia me lembrar.

"Caramba, garota", Tiff parou por um momento e pensou antes de dizer: "Ei, me desculpe por não estar lá com você ontem à noite. Eu não sabia que tudo isso iria acontecer dessa maneira."

"Está tudo bem. Não é culpa de vocês."

"Como você está se sentindo agora?", Carrie me perguntou.

"Eu não sei. Ainda estou processando tudo o que aconteceu na noite passada."

Em apenas uma noite eu fui capaz de perder meu namorado e minha virgindade, exatamente nessa ordem. E tudo que aconteceu depois daquele copo de gim com tônica era como um borrão em minha mente. Eu só me lembrava de algumas partes do que tinha realmente acontecido, mas definitivamente sabia que eu havia transado.

Por exemplo, hoje quando eu acordei não estava usando calcinha. E não consegui encontrá-la mais. E, além disso, eu estava dolorida, muito dolorida. Minhas coxas estavam latejando como nunca.

"Quem era o cara, afinal? Como ele era?", minha amiga perguntou.

"Só um rapaz qualquer que conheci no bar. Ele era alto... lindo..."

"E como ele se chama?"

"Eu não faço ideia."

"Você não sabe?", ela perguntou, incrédula.

"É, o assunto nunca veio à tona..."

"Mas que droga", Tiff suspirou.

"Ele provavelmente é um estudante do Emory. A maioria das pessoas que estavam no bar ontem eram estudantes do Emory", Carrie pontuou.

"É, talvez."

"Você acha que vai conseguir vê-lo mais uma vez?"

"Acho que provavelmente não. Mas talvez seja melhor assim."

E então nós três ficamos em silêncio por alguns minutos. Tentando absorver tudo.

"Ele usou proteção, né?", Tiff perguntou o óbvio.

"Sim."

"E foi ruim? Você se arrepende do que aconteceu?", Carrie finalmente perguntou.

Pensei um pouco até que respondi: "Não. Para ser honesta, não foi uma experiência ruim... Eu não tenho certeza, mas acho que gozei mais de uma vez."

Minhas duas melhores amigas começaram a sorrir loucamente, esperando que eu continuasse a falar.

"Eu pensei que ia sangrar ou algo do tipo, mas não. No começo até doeu um pouco, mas depois ficou muito bom..."

"Sim, ficou", Tiff a Carrie disseram juntas e tocaram as mãos.

"Então, o que aconteceu depois que vocês dois... fizeram?", Careri me perguntou.

Esta era a parte que eu quase não consigo me lembrar de nada. Eu me lembro que que ele gozou e então se afastou. Em seguida, se livrou da camisinha e se ajeitou. Também consigo me lembrar que meus joelhos tremiam e minhas coxas estavam doendo. Minha cabeça girava muito e eu não conseguia entender o que ele estava me dizendo.

"Eu não queria conversar. Tudo que eu queria naquele momento era me deitar em uma cama. E pensando em me poupar do constrangimento, eu apenas saí correndo", eu disse a elas.

"Você saiu correndo?", as duas me olharam boquiabertas.

"Sim, eu não sabia mais o que deveria fazer. Eu só disse obrigada e fui embora."

"Você disse 'obrigada'?!", elas me perguntaram, incrédulas.

Os olhos das duas estavam bem arregalados e suas bocas abertas em choque.

"Isso é muito errado?", eu perguntei.

Tiff e Carrie estouraram em risadas. Elas estavam falando tão alto que as pessoas que estavam a nossa volta estavam olhando.

"Gente, qual é, eu acabei de ter o coração partido e vocês estão rindo de mim", repreendi minhas amigas, mas elas não pararam de rir.

"Sim, mas essa não é a única coisa que foi quebrada na noite passada", Tiff piscou e Carrie começou a gargalhar ainda mais alto.

"Para ser honesta, Em, eu nem sequer sabia que você tinha isso dentro de você", Carrie disse entre risadas, "mas, ei, eu estou muito feliz que você se divertiu e manteve seus modos", Tiff e Carrie continuaram a dar risada de mim. Eu simplesmente rolei meus olhos para elas e continuei comendo meus ovos e torradas de café da manhã.

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Voltamos para casa depois do café. Eu me troquei e agora usava um moletom confortável que eu havia trazido na mala. Carrie estava dirigindo enquanto eu dormia durante todo o caminho. Tiff me acordou uma vez para me dizer que Zach estava procurando por mim, e ele estava ligando sem parar nos celulares da Tiff e da Carrie. Eu disse a ela para bloqueá-lo e então eu voltei a dormir.

Mamãe e papai já estavam em casa quando cheguei. Como era sábado, eles não precisavam ir para o trabalho. Eles me perguntaram sobre o que aconteceu na noite passada e eu disse que estava tudo bem. Claro, eles não tinham ideia de que fomos para Atlanta. Eu disse a eles que iria dormir na casa de Carrie e que faríamos uma festa do pijama de aniversário.

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Os próximos dias passaram rápido demais. Eu passei todos esses dias escutando músicas tristes e ignorando todas as ligações e mensagens de texto de Zach. Eu fiquei dentro do meu quarto quase todos os dias enquanto chorava muito, porque ele havia mesmo me magoado. O que ele fez comigo naquela noite é algo completamente irreparável. E o que fiz depois, encerrou totalmente o capítulo da nossa história.

Às vezes eu ficava surpresa quando pensava no que fiz com aquele estranho no bar. Eu me perguntei se algum dia eu voltaria a ver o rapaz. Eu me perguntei se ele ficava pensando em mim da mesma forma que eu estava pensando nele.

Enquanto isso, Tiff e Carrie ficavam tentando me tirar de casa a todo custo. Alguns dias elas até tiveram sucesso, mas na maioria das vezes, falharam em sua missão. Mas estava tudo bem porque elas finalmente conseguiram entender que eu só precisava de tempo.

Infelizmente, o tempo era realmente algo essencial. A escola recomeçaria amanhã e, mais cedo ou mais tarde, eu teria mesmo que sair do meu quarto.

'Pelo menos agora eu tenho um carro e não preciso mais pegar o ônibus para ir até a escola', pensei comigo mesma, tentando me motivar para amanhã.

Normalmente eu não me importava de ir para a escola. Na verdade eu até gostava de algumas das aulas, como inglês, artes, espanhol... E até educação física. Eu era muito social e ativa, para falar a verdade. Eu fazia parte da equipe de natação e havia acabado de descobrir que neste ano eu faria parte da equipe de torcida. Eu também tinha duas melhores amigas incríveis, então a lista de vantagens era interminável.

Mas com tudo o que havia acontecido com Zach, eu acabei perdendo meu espírito de luta. Durante alguns dias me perguntei se a culpa era minha. Talvez eu não tenha tratado Zach bem o suficiente. Talvez eu devesse ter transado com ele desde o início. Mas, quanto mais eu pensava sobre esse assunto, mais nada daquilo fazia sentido.

Eu o amei de todo o coração, mas ele escolheu me trair. Não era minha culpa.

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"Você está certa. Não foi sua culpa", Carrie afirmou.

Tiff, Carrie e eu estávamos indo em direção a sala de aula. Eu estava contando a elas o que estava sentindo na noite anterior e fiquei feliz por elas concordarem comigo.

"Ele era um idiota, de qualquer forma. Você merece alguém muito melhor", Tiff acrescentou.

Nós fomos em direção a sala de aula e nos sentamos em nossos lugares de sempre. Eu disse um oi para algumas pessoas e quando elas perguntaram como minhas férias de verão haviam sido, eu apenas sorri e disse que foram ótimas.

O namorado de Carrie, Mark, entrou na sala apenas momentos depois de termos nos sentado e imediatamente sentou-se ao lado de Carrie. Eles se entreolharam com grandes olhos arregalados e apaixonados, e eu não pude deixar de ficar com um pouco de inveja daquilo.

"Ei, você", Mark disse para Carrie.

"Olá, senhor presidente do Corpo Estudantil", ela respondeu.

Eles se aproximaram um do outro rapidamente e começaram a se beijar. Tiff e eu esperamos um pouco e trocamos um olhar esquisito.

"Ehem", Tiff limpou a garganta e os dois se interromperam, parecendo um pouco envergonhados.

"Então, quais as disciplinas que vocês escolheram para esse ano?", Mark perguntou para nós.

"Eu vou fazer aulas de teatro. Você sabe o quanto eu adoro drama", Tiff respondeu.

"Emma e eu vamos fazer aula de arte." Carrie finalmente respondeu a Mark enquanto eu concordava com a cabeça.

"Ah, vocês sabiam que temos um novo professor de arte?", Mark perguntou.

"O que aconteceu com o senhor Dawson?", perguntei a ele.

"Ele se aposentou. Finalmente", Mark respondeu.

"E quem é o novo professor?", a namorada dele perguntou.

"O nome dele é senhor Hayes. Eu o vi agora há pouco no escritório do diretor. Ele parecia um bom professor. Mas ele também é um pouco... jovem."

"Comparado ao senhor Dawson? Eu espero que sim", Carrie disse enquanto eles riam.

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Eu não prestava muita atenção na sala de aula ou nas minhas próximas aulas, e até mesmo estava meio desligada durante o almoço. Eu mal toquei no meu lanche. Eu absolutamente não tinha vontade de fazer nada. E assim que chegou a hora da aula de arte, fiquei aliviada.

Aquela era a minha última aula do dia. Eu mal podia esperar para que esse dia terminasse, então eu poderia ir para casa e ouvir mais da minha banda favorita.

"Então você tem aula de torcida hoje?", Carrie me perguntou enquanto caminhávamos para dentro da sala de arte e sentávamos nas cadeiras do meio.

"Eu acho que vou desistir. Não estou me sentindo alguém muito... torcedora", suspirei.

O sinal tocou enquanto mais alunos entravam na sala. Como nosso professor novo ainda não havia chegado, Carrie e eu decidimos conversar durante mais alguns minutos.

"Em, eu sei que tudo isso é difícil para você, mas sou sua amiga, então vou ter que dizer isso. Por favor, não jogue sua vida fora por causa de um idiota como Zach. Ficar isolada no seu quarto o dia todo só vai fazer você se sentir ainda pior com o passar do tempo. Fale comigo ou com a Tiff. Estamos aqui para te ajudar. E não deixe que nada do que aconteceu atrapalhe o futuro brilhante que você tem pela frente. Você merece sair por aí e ser feliz."

Tudo o que Carrie havia dito era realmente verdade. Era só mais difícil fazer do que falar. Então, eu sorri para ela e a abracei.

"Obrigada, não sei o que faria sem vocês", respondi.

"Sempre que precisar." Carrie sorriu de volta enquanto nos afastávamos do abraço.

"Boa tarde a todos."

Assim que ouvimos o professor nos dando boa tarde, Carrie e eu viramos nossas cabeças para a frente da sala para encontrar a figura dele ali na frente. Ele estava de costas para nós, de frente para o quadro. Vendo sua silhueta de costas, notei que ele era alto e musculoso, mas ainda assim, magro. Ele usava uma camisa justa de mangas compridas que deixava sua forma desenhada, e uma calça preta.

Ele pegou uma caneta e começou a escrever seu nome no quadro.

SR. IAN HAYES

Sua mão direita estava esticada enquanto ele escrevia seu nome, e consegui ver uma tatuagem escondida pela camisa, em seu punho.

Isso parecia bastante familiar...

"Bem-vindo ao AP Studio Art", ele disse com voz baixa e calma.

Eu sinto que já ouvi essa voz alguma vez antes.

O senhor Hayes se virou para encarar a nossa turma. Eu imediatamente engasguei quando vi seu rosto. Era o rosto que me assombrava durante a noite. O rosto que ficava surgindo em minha mente toda vez que tento esquecer o que havia acontecido naquela noite. Meu coração disparou tão rápido que eu estava tendo ondas de calor que iam e vinham.

"Caramba, ele é bem gostoso", Carrie sussurrou para mim com a voz baixa.

Eu simplesmente não consegui responder. E apenas continuei olhando para ele em silêncio. Seus olhos percorreram a sala toda até que se encontram com os meus. Seus olhos se arregalaram instantaneamente quando ele se lembrou de algo.

Ele então olhou para mim com uma expressão que não consegui decifrar. Confusão? Felicidade? Intriga?

Independente do sentimento que ele experimentava naquele momento, o professor rapidamente balançou a cabeça e recuperou a compostura. E então, pegou um pedaço de papel em sua mesa e começou a ler em voz alta.

"Vou começar com a lista de chamada", sua voz disse de novo.

Ele então começou a chamar pelos nomes das pessoas e elas respondiam a ele. Ele parecia muito calmo e indiferente; o que me fez pensar se eu estava imaginando coisas.

"Emma Sinclair", sua voz interrompeu meus pensamentos como uma faca afiada.

"Aqui", resmunguei e levantei minha mão um pouco.

Ele olhou para mim, sorrindo. Na verdade, seu sorriso era leve. Olhamos um para o outro durante mais alguns segundos antes que ele voltasse para a sua lista de chamada e continuasse a chamar outros nomes.

Puta... merda. Vezes um milhão.

- - - - Continua. - - - -