O Sol Que Não Brilhava Para Mim
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Capítulo 1

No dia em que meu irmão mais novo, Leo, foi enterrado, o sol brilhava intensamente, um contraste cruel com a escuridão em meu coração.

Eu tinha acabado de chegar do funeral, ainda vestindo o terno preto que parecia sufocar-me.

Minha mãe, Clara, não estava lá, ela se recusou a ir.

Em vez disso, ela estava no hospital, ao lado de Miguel, o filho do meu padrasto, Ricardo.

Peguei meu celular e liguei para minha mãe.

Eu precisava ouvir a voz dela, precisava de algum conforto, mesmo sabendo que era inútil.

"Mãe, o Leo..."

Antes que eu pudesse terminar, a voz dela me cortou, fria e distante.

"Estou ocupada, Pedro. O Miguel está com febre alta, o Ricardo está muito preocupado."

"Ele só tem febre," eu disse, a voz tremendo. "O Leo está morto."

Houve um silêncio do outro lado da linha, um silêncio pesado que dizia tudo.

Então, ouvi a voz do meu padrasto ao fundo, ansiosa.

"Clara, o médico está aqui! Venha rápido!"

"Preciso desligar," minha mãe disse apressadamente. "Conversamos depois."

E ela desligou.

Fiquei olhando para o celular, o silêncio da casa ecoando o vazio dentro de mim.

Leo tinha apenas dezoito anos. Ele tinha um futuro.

Ele morreu num acidente de carro, um acidente que poderia ter sido evitado.

Ele me ligou naquela noite, desesperado.

"Pedro, o carro quebrou no meio da estrada, está chovendo muito, estou com medo."

Eu estava prestes a sair quando minha mãe me parou.

"O Miguel precisa de você," ela disse, o rosto pálido de preocupação. "Ele torceu o tornozelo jogando futebol, não consegue andar. Leve-o ao hospital, por favor."

"Mãe, o Leo está preso na estrada, é perigoso," eu argumentei.

"Chame um guincho para ele! O Miguel está com dor! Ele é seu irmão!"

"O Leo também é seu filho!" gritei, a frustração crescendo.

No final, eu cedi. Levei Miguel ao hospital.

Enquanto o médico enfaixava o tornozelo dele, tentei ligar para o Leo várias vezes.

Nenhuma resposta.

Uma hora depois, a polícia me ligou.

Um caminhão desgovernado. Morte instantânea.

Agora, meu irmão estava enterrado, e minha mãe estava cuidando do filho do homem que destruiu nossa família.

Olhei ao redor do quarto do Leo, suas coisas ainda espalhadas. Um pôster de banda na parede, um livro aberto na escrivaninha.

Tudo como ele deixou.

Mas ele nunca mais voltaria.

A dor era uma pressão constante no meu peito.

Eu não chorei no funeral, eu não conseguia.

Era como se todas as minhas emoções estivessem congeladas, presas sob uma camada de gelo.

A porta se abriu e minha mãe entrou, seguida por Ricardo.

Ela não olhou para mim.

Seus olhos foram direto para a foto do Leo na minha mão.

"Por que você não estava no funeral?" eu perguntei, a voz rouca.

"O Miguel precisava de mim," ela respondeu, sem emoção.

Ricardo colocou a mão no ombro dela, um gesto de conforto.

"Pedro, sua mãe já está sofrendo o suficiente. Não torne as coisas mais difíceis."

"Difíceis?" Eu ri, um som amargo e oco. "Meu irmão está morto. E vocês estavam no hospital por causa de um tornozelo torcido e uma febre."

"Não fale assim!" minha mãe finalmente olhou para mim, os olhos faiscando de raiva. "Você não entende."

"Ah, eu entendo," eu disse, levantando-me. "Eu entendo perfeitamente. Desde que este homem entrou em nossas vidas, o Leo e eu deixamos de importar. Somos apenas um fardo."

"Isso não é verdade!"

"Não é? Onde você estava quando o Leo precisava de você? Onde você estava quando eu precisei de você?"

As palavras saíram, carregadas de anos de ressentimento.

"Ele era seu filho. E você o trocou por eles."

            
            

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