O meu coração afundou-se.
Eu sabia que o Leo não estava preso no trânsito.
Ele estava com a Sofia, a sua ex-namorada.
Peguei no meu telemóvel com as mãos a tremer. A minha barriga, antes redonda e cheia de vida, estava agora vazia, uma dor oca que ecoava por todo o meu ser.
O nosso bebé, que esperei com tanto amor, tinha-se ido.
Disquei o número do Leo. Chamou, chamou, e quando estava prestes a desistir, ele atendeu.
A sua voz soava distante e irritada.
"Eva? O que se passa? Estou muito ocupado agora, não posso falar."
Ao fundo, ouvi a voz suave e chorosa da Sofia.
"Leo, o meu pé dói tanto... e o Pompom está tão assustado, não para de tremer."
Pompom era o seu cão.
A voz do meu sogro, o Sr. Matias, soou a seguir, cheia de uma preocupação que ele nunca me mostrou.
"Não te preocupes, Sofia. O Leo está aqui. Ele vai cuidar de tudo. Já chamei um amigo veterinário para o Pompom."
Uma risada amarga escapou-me.
"Ocupado, Leo? Ocupado a consolar a tua ex-namorada enquanto a tua mulher perde o vosso filho?"
Houve um silêncio do outro lado, pesado e culpado.
"Eva, não é o que parece," ele finalmente disse, a sua voz agora mais baixa. "A Sofia estava presa, a casa dela inundou. Eu tinha de a ajudar. Tu estavas no hospital, segura."
Segura? Eu estava a sangrar, o nosso filho estava a morrer, e ele achava que eu estava segura?
"Leo," eu disse, a minha voz fria e sem emoção. "Quero o divórcio."
A raiva explodiu do outro lado da linha.
"Divórcio? Estás a brincar comigo? Por causa disto? A Sofia estava em perigo de vida! Não tens um pingo de compaixão? Depois de tudo o que ela passou?"
Tudo o que ela passou? E eu? E o nosso filho?
"Ela não tinha mais ninguém, Eva! Eu era a única pessoa a quem ela podia recorrer!"
As lágrimas que eu segurava com força ameaçaram cair, mas eu recusei-me a deixá-las sair.
"Então fica com ela. Fica com a tua preciosa Sofia e o seu cão. Mas eu e tu, acabámos."
Desliguei antes que ele pudesse responder.
Tentei ligar novamente, só para descobrir que ele me tinha bloqueado.
Claro que tinha.
O telemóvel escorregou da minha mão e caiu no chão com um baque surdo.
Ele tinha razão sobre uma coisa. Se o nosso bebé ainda estivesse aqui, eu talvez hesitasse. Teria lutado por uma família completa, por ele.
Mas agora, não havia mais nada para lutar. A única coisa que nos unia tinha sido arrancada de mim.
Ficar com o Leo agora seria apenas um lembrete constante da minha perda, da sua traição.
E a desculpa dele era tão fraca. A casa da Sofia ficava no Restelo, a quilómetros de distância da zona da inundação na Baixa. Ele não foi "ajudá-la no caminho". Ele escolheu ir para lá.
Ele escolheu-a a ela em vez de mim. Em vez do nosso filho.
Enquanto eu estava perdida nos meus pensamentos, o meu telemóvel tocou. Era o meu pai.
Hesitei, mas atendi. Talvez ele me oferecesse algum conforto.
Enganei-me.
"Eva! O que é esta história de divórcio? A mãe do Leo acabou de me ligar, em pânico! Como podes ser tão egoísta? O Leo estava a ajudar uma alma em apuros! Foi isso que te ensinei? A ser tão insensível?"
A sua voz era dura, cheia de desapontamento.
"Pai, eu perdi o bebé."
A minha voz era um sussurro.
Houve uma pausa. Por um momento, pensei ter ouvido um pingo de tristeza.
"Eu sei, e lamento por isso. Mas isso não é desculpa para agires de forma irracional. O casamento é um compromisso. Tu e o Leo vão superar isto. Agora, liga à mãe dele e pede desculpa por a teres preocupado."
E com isso, ele também desligou.
Fiquei a olhar para o telemóvel, sentindo-me completamente sozinha no mundo.
Ninguém estava do meu lado.
Para eles, eu era a vilã. A mulher irracional e insensível.
E a Sofia? Ela era a vítima. A pobre e indefesa Sofia.
Uma raiva fria começou a crescer dentro de mim, substituindo a dor.
Se eles queriam uma vilã, então eu seria uma.
Eu ia conseguir o meu divórcio. E ia certificar-me de que o Leo pagava por cada lágrima que eu derramei, por cada pedaço do meu coração que ele partiu.
Esta era a minha promessa.