Um Novo Começo Sem Você
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Capítulo 2

Dois dias depois, recebi alta do hospital.

Ninguém da família do Leo veio buscar-me. Nem o meu próprio pai.

Tive de chamar um táxi para casa.

A casa estava silenciosa e vazia, exatamente como eu a tinha deixado.

Mas agora, o silêncio parecia esmagador.

Fui diretamente para o nosso quarto e comecei a fazer as minhas malas.

Dobrei as minhas roupas com movimentos mecânicos, os meus pensamentos focados num único objetivo: sair.

Enquanto esvaziava a minha gaveta da mesinha de cabeceira, os meus dedos tocaram num pequeno álbum de fotos.

Abri-o. Eram as ecografias do nosso bebé.

A primeira, apenas um pequeno ponto. A última, há apenas duas semanas, mostrava um perfil perfeito.

Uma onda de dor atingiu-me com tanta força que tive de me sentar na cama.

Foi nesse momento que o Leo entrou.

Ele parecia cansado, com olheiras debaixo dos olhos. Mas quando viu as malas abertas na cama, a sua expressão endureceu.

"O que estás a fazer?"

"O que te parece?" respondi, a minha voz desprovida de emoção. "Estou a ir-me embora."

Ele suspirou, um som longo e exasperado, como se eu fosse uma criança a fazer uma birra.

"Eva, já não falámos sobre isto? Estás a ser dramática. Eu cometi um erro. Estava em pânico. A Sofia precisava de mim."

"E eu não?" perguntei, finalmente olhando para ele. "O nosso filho não precisava de ti?"

Ele desviou o olhar, incapaz de me encarar.

"Claro que precisavas. Mas tu estavas no hospital, com médicos. A Sofia estava sozinha."

"Ela não estava sozinha," eu disse, a minha voz a subir. "Ela tinha o teu pai. Ela tinha o cão dela. E o mais importante, ela tinha-te a ti."

Ele passou as mãos pelo cabelo, um gesto de frustração.

"Eva, por favor. Vamos ser razoáveis. Perder o bebé foi terrível. Para nós os dois. Mas o divórcio não o vai trazer de volta. Só vai piorar as coisas."

"Piorar as coisas para quem, Leo? Para ti?"

"Para nós! Para a nossa família! A minha mãe está doente de preocupação. O teu pai está desapontado contigo."

Ele aproximou-se, tentando pegar na minha mão, mas eu afastei-me.

"Não me toques."

A sua expressão mudou de frustração para raiva.

"Para de agir como uma mártir! Achas que és a única que está a sofrer? Eu também perdi um filho! Mas não estou a usar isso como desculpa para destruir a nossa vida!"

A crueldade das suas palavras deixou-me sem fôlego.

"Usar como desculpa?" repeti, incrédula. "Tu abandonaste-me! Deixaste-me passar pela pior experiência da minha vida sozinha para ires salvar a tua ex-namorada!"

"Eu não te abandonei! Eu fiz uma escolha difícil numa situação impossível!"

"Não," eu disse, levantando-me, a minha voz agora firme e clara. "Tu fizeste uma escolha fácil. Escolheste-a a ela. Sempre a escolheste a ela."

Peguei na minha mala e dirigi-me para a porta.

Ele bloqueou-me o caminho.

"Tu não vais a lado nenhum. Esta é a tua casa."

"Não é mais," eu disse, olhando-o nos olhos. "Amanhã, o meu advogado vai entrar em contacto contigo."

Tentei contorná-lo, mas ele agarrou-me o braço.

"Tu não me vais fazer isto, Eva. Eu não vou permitir."

"Larga-me, Leo."

"Nós vamos resolver isto. Como um casal."

A sua insistência, a sua recusa em aceitar a minha decisão, só alimentou a minha determinação.

"Não há nada para resolver," eu disse, puxando o meu braço com força. "Acabou."

Saí do quarto e bati a porta atrás de mim.

Ouvi-o gritar o meu nome, mas não parei.

Desci as escadas, saí pela porta da frente e não olhei para trás.

            
            

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