Dois dias depois, recebi alta do hospital.
Ninguém da família do Leo veio buscar-me. Nem o meu próprio pai.
Tive de chamar um táxi para casa.
A casa estava silenciosa e vazia, exatamente como eu a tinha deixado.
Mas agora, o silêncio parecia esmagador.
Fui diretamente para o nosso quarto e comecei a fazer as minhas malas.
Dobrei as minhas roupas com movimentos mecânicos, os meus pensamentos focados num único objetivo: sair.
Enquanto esvaziava a minha gaveta da mesinha de cabeceira, os meus dedos tocaram num pequeno álbum de fotos.
Abri-o. Eram as ecografias do nosso bebé.
A primeira, apenas um pequeno ponto. A última, há apenas duas semanas, mostrava um perfil perfeito.
Uma onda de dor atingiu-me com tanta força que tive de me sentar na cama.
Foi nesse momento que o Leo entrou.
Ele parecia cansado, com olheiras debaixo dos olhos. Mas quando viu as malas abertas na cama, a sua expressão endureceu.
"O que estás a fazer?"
"O que te parece?" respondi, a minha voz desprovida de emoção. "Estou a ir-me embora."
Ele suspirou, um som longo e exasperado, como se eu fosse uma criança a fazer uma birra.
"Eva, já não falámos sobre isto? Estás a ser dramática. Eu cometi um erro. Estava em pânico. A Sofia precisava de mim."
"E eu não?" perguntei, finalmente olhando para ele. "O nosso filho não precisava de ti?"
Ele desviou o olhar, incapaz de me encarar.
"Claro que precisavas. Mas tu estavas no hospital, com médicos. A Sofia estava sozinha."
"Ela não estava sozinha," eu disse, a minha voz a subir. "Ela tinha o teu pai. Ela tinha o cão dela. E o mais importante, ela tinha-te a ti."
Ele passou as mãos pelo cabelo, um gesto de frustração.
"Eva, por favor. Vamos ser razoáveis. Perder o bebé foi terrível. Para nós os dois. Mas o divórcio não o vai trazer de volta. Só vai piorar as coisas."
"Piorar as coisas para quem, Leo? Para ti?"
"Para nós! Para a nossa família! A minha mãe está doente de preocupação. O teu pai está desapontado contigo."
Ele aproximou-se, tentando pegar na minha mão, mas eu afastei-me.
"Não me toques."
A sua expressão mudou de frustração para raiva.
"Para de agir como uma mártir! Achas que és a única que está a sofrer? Eu também perdi um filho! Mas não estou a usar isso como desculpa para destruir a nossa vida!"
A crueldade das suas palavras deixou-me sem fôlego.
"Usar como desculpa?" repeti, incrédula. "Tu abandonaste-me! Deixaste-me passar pela pior experiência da minha vida sozinha para ires salvar a tua ex-namorada!"
"Eu não te abandonei! Eu fiz uma escolha difícil numa situação impossível!"
"Não," eu disse, levantando-me, a minha voz agora firme e clara. "Tu fizeste uma escolha fácil. Escolheste-a a ela. Sempre a escolheste a ela."
Peguei na minha mala e dirigi-me para a porta.
Ele bloqueou-me o caminho.
"Tu não vais a lado nenhum. Esta é a tua casa."
"Não é mais," eu disse, olhando-o nos olhos. "Amanhã, o meu advogado vai entrar em contacto contigo."
Tentei contorná-lo, mas ele agarrou-me o braço.
"Tu não me vais fazer isto, Eva. Eu não vou permitir."
"Larga-me, Leo."
"Nós vamos resolver isto. Como um casal."
A sua insistência, a sua recusa em aceitar a minha decisão, só alimentou a minha determinação.
"Não há nada para resolver," eu disse, puxando o meu braço com força. "Acabou."
Saí do quarto e bati a porta atrás de mim.
Ouvi-o gritar o meu nome, mas não parei.
Desci as escadas, saí pela porta da frente e não olhei para trás.