Dois dias depois, tive alta do hospital.
A minha amiga de infância, Clara, veio buscar-me. Ela abraçou-me com força à porta do hospital.
"Eu sinto muito, Eva. Tanto."
Eu encostei a minha cabeça ao seu ombro, sentindo-me grata pela sua presença.
"Obrigada por teres vindo, Clara."
"Sempre. Para onde queres ir? Não podes voltar para aquela casa."
Ela tinha razão. A casa que partilhei com o Miguel já não era o meu lar. Era apenas um lugar cheio de memórias dolorosas.
"Leva-me para o apartamento antigo do meu pai", pedi.
Era um lugar pequeno no centro da cidade, que estava vazio desde que o meu pai morreu. Era o único bem que ele me deixou, um lugar que o Miguel não podia tocar.
Quando chegámos, o apartamento estava poeirento e cheirava a mofo, mas era um refúgio.
Clara ajudou-me a limpar um pouco e encomendou comida.
Enquanto comíamos em silêncio, o meu telemóvel vibrou. Era uma mensagem de um número desconhecido.
Abri-a. Era uma fotografia.
Sofia, deitada numa cama de hospital, com o Miguel a segurar-lhe a mão. Ela sorria para a câmara, um sorriso vitorioso.
A legenda dizia: "Ele escolhe sempre quem ele ama de verdade."
O meu estômago revirou-se. A provocação era tão descarada, tão cruel.
Mostrei o telemóvel à Clara.
Ela ofegou, os seus olhos a arder de raiva.
"Que cabra! Ela tem a audácia de te enviar isto?"
"Ela quer que eu reaja. Quer que eu desista", disse eu, apagando a mensagem.
"E tu vais?", perguntou Clara, a sua voz preocupada.
Eu abanei a cabeça.
"Não. Ela acabou de me dar mais uma razão para lutar."
Lutei contra a vontade de chorar. Em vez disso, uma raiva fria e determinada começou a crescer dentro de mim.
Eles não me iam destruir.
Eu ia reerguer-me das cinzas da minha antiga vida.