O Fio da Meada Quebrado
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Capítulo 3

O Pedro ficou a olhar para mim, a sua expressão a mudar de súplica para irritação.

"Estás a ser teimosa. Vais arrepender-te disto."

"O único arrependimento que tenho é ter casado contigo," respondi, fechando a mala com força.

Quando me virei para sair do quarto, ele agarrou-me no braço. O seu aperto era firme, possessivo.

"Tu não vais a lado nenhum. Esta é a tua casa."

"Larga-me, Pedro." A minha voz era um aviso.

"Não. Vais ficar aqui e vamos resolver isto como um casal."

"Não há nada para resolver." Puxei o meu braço com um movimento brusco. "Acabou."

Saí do apartamento sem olhar para trás. O som da porta a bater atrás de mim foi o ponto final no nosso casamento. Não tinha um plano, não tinha para onde ir, mas pela primeira vez em muito tempo, senti-me livre.

Fui para um hotel barato perto do hospital. Precisava de estar perto da minha mãe. Passei a noite em claro, a pensar no que faria a seguir. A primeira coisa na minha lista: encontrar um advogado.

Na manhã seguinte, liguei a um advogado especializado em divórcios que encontrei online. Marquei uma consulta para o mesmo dia. Precisava de agir rápido, antes que a família do Pedro tentasse tornar as coisas ainda mais difíceis.

O advogado, um homem chamado Dr. Almeida, ouviu a minha história com atenção, sem me interromper. Quando terminei, ele olhou para mim por cima dos seus óculos.

"Senhora Santos, o seu caso é claro. Abandono emocional e negligência. Podemos avançar com o pedido de divórcio imediatamente."

"É isso que eu quero," disse eu, sentindo um peso a sair dos meus ombros.

"O seu marido e a família dele parecem ser pessoas influentes," continuou o Dr. Almeida. "Eles provavelmente vão lutar. Vão tentar desacreditá-la, dizer que está emocionalmente instável."

"Eu sei. Estou preparada para isso."

"Ótimo. Preciso que me traga todos os documentos que tiver: certidão de casamento, registos de propriedade, extratos bancários. Tudo o que possa provar a vossa vida em comum."

Passei o resto do dia a reunir os papéis. Voltar ao apartamento estava fora de questão, mas eu tinha cópias de quase tudo guardadas num email. Enviei tudo para o Dr. Almeida.

À noite, fui visitar a minha mãe. Ela parecia um pouco melhor, a cor a voltar ao seu rosto.

"Então, filha? O que decidiste?" perguntou ela, a sua voz ainda fraca.

"Vou divorciar-me, mãe. Já falei com um advogado."

Ela suspirou, mas havia um brilho de orgulho nos seus olhos. "Fazes bem. Aquele homem não te merece. Nenhum deles te merece."

Ficámos em silêncio por um momento, a segurar as mãos uma da outra.

"Não te preocupes com o dinheiro," disse ela. "Nós damo um jeito. Sempre demos."

Naquele momento, o meu telemóvel tocou. Era um número desconhecido. Hesitei, mas atendi.

"Clara?" A voz do outro lado era suave, feminina. E familiar.

Era a Sofia.

"O que queres?" perguntei, a minha voz gelada.

"Eu... eu só queria dizer que lamento muito pelo que aconteceu. Pelo teu bebé."

"Lamentas?" Ri sem humor. "Não me parece."

"É verdade! Eu não sabia que estavas em perigo. O Pedro disse-me que estavas bem, que a tua mãe estava contigo no hospital."

"E tu acreditaste?"

"Eu... sim. Clara, por favor, não culpes o Pedro. Ele é um bom homem. Ele só estava a tentar ajudar."

"Ajudar-te a ti. Enquanto a mulher dele perdia o filho dele."

"Eu sei que parece mal," disse ela, a sua voz a tremer um pouco. "Mas eu estava em pânico. O meu gato... ele é tudo o que eu tenho."

"Então agora já sabes o que eu sinto," disse eu, e desliguei.

Não tinha paciência para as suas desculpas. Ela era tão culpada como o Pedro. Eles eram cúmplices na minha dor.

            
            

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