No nono mês de gravidez, o cheiro de desinfetante no hospital era forte, e o médico me deu a notícia: cesariana de emergência.
Agarrei o meu telemóvel, os dedos a tremer, e liguei para o meu marido, Diogo.
Dezoito vezes foi o que precisei para que ele finalmente atendesse.
A sua voz, quando atendeu à décima nona tentativa, estava fria, distante. "Estou ocupado."
Expliquei a urgência do nosso filho, que estava em sofrimento agudo, no Hospital da Luz.
A resposta dele? "A Sofia torceu o tornozelo a descer as escadas, e o cão dela está doente."
A sua irmã, a Sofia, e o cão dela, tinham prioridade sobre o nosso filho que lutava pela vida.
Ele desligou, sem me dar tempo para reagir, deixando-me sozinha num corredor frio de hospital.
Naquele momento, enquanto as lágrimas silenciosas escorriam pelo formulário de consentimento, eu assinei o destino do meu filho, e também o meu.
Como podia o homem com quem me casei ser tão cego, tão cruelmente alheio à vida que crescia dentro de mim?
Para ele, eu era apenas "hormonal", o meu desespero, uma inconveniência.
Mas a verdade era clara: ele escolheu. E agora, eu também faria a minha escolha.
Depois da cirurgia, e ainda fraca, ouvi a voz dele a perguntar sobre o bebé, com a mesma casualidade com que se perguntaria sobre o tempo.
Foi então que as palavras saíram da minha boca, claras e firmes, decidindo o nosso futuro: "Vamos divorciar-nos."
Ele riu, chamou-me louca, egoísta.
Mas apenas uma chamada da irmã foi suficiente para mostrar a verdadeira prioridade dele, solidificando a minha liberdade.
Eu escolhi viver. Eu escolhi o meu filho.
E esta era apenas o começo da minha nova vida.