Na noite em que fui dispensada do hospital, a chuva caía incessantemente, martelando contra o vidro do carro.
Meu marido, Diogo, segurava o volante com força.
"Eu já te disse, a culpa não foi minha, Inês. A Sofia estava doente, eu tinha que a levar ao hospital."
A Sofia. Sua ex-namorada.
A mulher por quem ele me abandonou no meio do trabalho de parto.
"Ela só tinha uma febre, Diogo."
Minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia.
"E eu estava a ter o nosso filho."
Ele bateu no volante, o som ecoando no espaço apertado do carro.
"Não dramatizes! Eu cheguei lá, não cheguei? O Tiago nasceu saudável. Qual é o problema?"
O problema era que o médico teve que tomar uma decisão sem ele. O problema era que eu assinei os papéis da cesariana de emergência sozinha, tremendo de dor e medo.
O problema era que, quando ele finalmente apareceu, horas depois, cheirava ao perfume dela.
"Vamos para casa da minha mãe", eu disse, olhando para a escuridão lá fora.
"O quê? Porquê? O quarto do bebé está pronto em nossa casa."
"Eu não quero ir para nossa casa. Leva-me para casa da minha mãe."
Ele suspirou, um som longo e irritado.
"Está bem, Inês. Como queiras. Sempre a fazer birra."
Ele não entendeu. Não era uma birra.
Era o fim.
Quando chegámos, a minha mãe, a Clara, já nos esperava à porta, com uma expressão preocupada. Ela pegou no porta-bebés com o Tiago a dormir e ignorou completamente o Diogo.
"Entra, filha. Estás pálida."
Diogo ficou parado na calçada, sem jeito.
"Bem, eu... vou buscar as coisas ao carro."
"Não precisas", eu disse, sem me virar. "Podes ir."
Ele ficou em silêncio por um momento. Eu podia senti-lo a olhar para as minhas costas.
"Inês, não sejas assim. Falamos amanhã."
Ele entrou no carro e foi-se embora. Não olhou para trás.
Eu não chorei. Senti apenas um vazio frio a espalhar-se pelo meu peito.
A cola que nos unia tinha-se partido. E eu não tinha forças para a tentar colar de novo.