Fui Ana, a Rainha do Fado, casada com Diogo, o Barão do Vinho.
Celebrados nas revistas de sociedade como "O Conto de Fadas Moderno" , eu era a sua musa, a alma de Lisboa unida ao poder do Douro.
Ele prometeu-me lealdade eterna, que a sua vida "começava e acabava comigo".
As suas palavras eram como um vinho do Porto vintage, ricas e complexas, um amor que eu, a fadista que cantava a dor dos outros, nunca pensei querer.
Mas o aroma desse vinho tornou-se vinagre.
O sorriso carismático de Diogo tornou-se uma máscara.
Comecei a ver.
Numa escapadela "romântica", os seus olhos fixos no telemóvel, um sorriso cúmplice para uma influenciadora digital, Sofia, que no Instagram bradava ter um "admirador secreto" com o username "VinhoAmor" - o perfil privado de Diogo.
O cheiro do perfume dela, uma picada invisível no meu coração.
A dor era física, uma nota de fado presa na garganta.
Ele chamava-me "pálida" e "cansada", propondo que eu "descansasse dos fados", tentando silenciar a minha alma.
Naquela noite, vi-o mentir novamente, a falsa "emergência na adega" levando-o direto para o aeroporto, para um voo para Faro, para Sofia.
As lágrimas escorriam-me pelo rosto enquanto assistia ao seu olhar faminto e possessivo no vídeo que ela publicara.
Mas o pior estava por vir.
Ouvi-o gabar-se aos amigos, com uma gargalhada presunçosa, que a "paixão vibrante" dela era "bem mais divertida do que um fado triste".
E depois, o golpe final: uma foto no meu telemóvel, enviada por ela, de um teste de gravidez com duas riscas.
"Parabéns, papá. O nosso 'vinho do amor' deu frutos."
Naquele abismo de humilhação e traição, a dor cessou.
A Ana fadista morreu, e uma nova mulher nasceu.
Numa chamada telefónica fria, um advogado confirmou a renúncia da minha cidadania portuguesa.
Sobre a mesa, um bilhete de avião apenas de ida, Lisboa para o Rio de Janeiro.
Não havia perdão, nem volta a dar.
A sua lealdade quebrada e a minha dignidade pisada forjaram uma determinação inabalável para desaparecer, para o apagar da minha vida, e para o fazer pagar por cada mentira.