Passado um fim de semana, estávamos numa Pousada no Douro. Era suposto ser mais uma escapadela romântica, mais material para as revistas.
Diogo sentou-se à minha frente na varanda, com vista para as vinhas. O sol de outono dourava as encostas. Ele deveria estar a olhar para mim, mas os seus olhos estavam fixos no telemóvel.
Ele sorria para o ecrã, um sorriso diferente daquele que me dava. Um sorriso cúmplice, secreto.
"O trabalho não para, meu amor," disse ele, sem levantar a cabeça. "Coisas da nova linha de vinhos."
Inclinei-me ligeiramente, como se fosse ajeitar a toalha de mesa. Consegui ver o ecrã por uma fração de segundo. Instagram.
Ele estava a ver as stories de uma influenciadora digital, Sofia. Eu sabia quem ela era. O Diogo tinha-a contratado como embaixadora da tal nova linha de vinhos. Uma rapariga do Algarve, vistosa, com um bronzeado permanente e um sorriso que parecia fabricado.
Na story, Sofia estava num iate, de biquíni. A música pulsava. Ela levantava uma taça de champanhe para a câmara.
"A vida é boa quando se tem um admirador secreto que sabe tratar de uma mulher!"
Ela riu e virou a câmara para uma caixa de vinho aberta sobre a mesa. Era o nosso vinho. Uma colheita vintage da adega privada de Diogo.
Uma amiga dela perguntou, a rir: "Quem é esse admirador secreto tão generoso, Sofia?"
Sofia piscou o olho para a câmara. "Não posso dizer o nome dele, mas posso dizer que ele é o rei do vinho. E o nome de utilizador dele é 'VinhoAmor'."
O meu sangue gelou. "VinhoAmor". Era o nome de utilizador privado de Diogo, o que ele usava para as coisas que não queria que a sua família ou o público vissem.
Ele olhou para mim, finalmente. "Estás pálida, Ana. Sentes-te bem?"
A minha dor era uma nota de fado presa na garganta. Forcei um sorriso. "Apenas um pouco de frio."
Ele levantou-se, todo solicitude, e colocou o seu casaco sobre os meus ombros. O cheiro do perfume dela ainda estava lá, fraco, mas presente. Era uma tortura.