A Verdade Oculta do Meu Marido
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Capítulo 1

Quando a chamada do meu marido, Pedro, finalmente chegou, eu já tinha perdido o nosso filho.

A enfermeira acabara de me ajudar a sentar na cama do hospital, o seu rosto cheio de uma pena que eu não conseguia processar.

O quarto estava silencioso, apenas o som fraco dos monitores e o cheiro de desinfetante.

Lá fora, a vida continuava, mas a minha tinha parado.

Agarrei o telemóvel com as mãos a tremer, a tela a iluminar o rosto pálido de Pedro.

Ele parecia exausto, com o cabelo desgrenhado e olheiras profundas.

"Clara, desculpa. A bateria do meu telemóvel acabou. Só agora consegui um carregador emprestado. Como está o bebé? Está tudo bem?"

A sua voz estava cheia de uma preocupação que chegou tarde demais.

Olhei para a minha barriga agora vazia, um espaço oco onde antes havia vida e esperança.

As lágrimas que eu tinha segurado por horas finalmente começaram a cair, silenciosas e quentes.

"Pedro," a minha voz saiu rouca, um sussurro partido. "Nós perdemos o bebé."

O silêncio do outro lado da linha foi mais pesado do que qualquer grito.

Podia imaginá-lo a parar, o mundo dele a desfazer-se como o meu se tinha desfeito.

"O quê? Como... como assim? O que aconteceu?"

"Eu caí nas escadas," disse eu, a voz monótona. "Liguei-te tantas vezes. Mandei dezenas de mensagens. Onde estavas?"

Ele hesitou. Essa pequena pausa continha um universo de respostas que eu temia.

"Eu estava com a Sofia. O pai dela teve um ataque cardíaco. Ela estava em pânico, não tinha mais ninguém. Levei-o para o hospital, esperei com ela. Clara, eu juro, não vi as tuas chamadas."

Sofia. A sua ex-namorada. A mulher que ele jurou ser apenas uma amiga.

"O pai dela está bem?" perguntei, a calma na minha voz a assustar-me a mim mesma.

"Sim, os médicos estabilizaram-no. Ele está fora de perigo agora. Mas a Sofia estava um farrapo. Eu não a podia deixar sozinha."

Claro que não podia.

Ele não podia deixar a sua ex-namorada sozinha, mas podia deixar a sua esposa grávida, que carregava o seu filho, sem resposta durante horas de agonia.

"Entendo," disse eu. E eu entendia. Entendia tudo com uma clareza dolorosa. "Acho que devemos divorciar-nos, Pedro."

"Divórcio? Clara, estás a brincar? Nós acabámos de perder o nosso filho! Precisamos de nos apoiar um ao outro agora, não de nos separarmos!"

A sua voz subiu, cheia de pânico e incredulidade.

"Apoiar um ao outro?" repeti, uma risada amarga a escapar dos meus lábios. "Onde estavas quando eu precisei de apoio? Onde estavas quando o nosso filho precisava de ti?"

"Eu já te disse! O pai da Sofia..."

"Para com a Sofia!" gritei, a minha calma a estilhaçar-se. "O nosso filho morreu, Pedro! E tu estavas a consolar outra mulher!"

"Não é assim! Tu não entendes a situação!"

"Não, Pedro. És tu que não entendes. Acabou. Quando eu sair daqui, vou a casa buscar as minhas coisas."

Desliguei a chamada antes que ele pudesse responder.

Atirei o telemóvel para o lado da cama, o corpo a tremer com soluços que não produziam som.

O nosso bebé. O nosso tão desejado bebé.

Tínhamos tentado por dois anos. Dois anos de consultas médicas, tratamentos, esperanças e desilusões.

Quando finalmente consegui engravidar, chorámos de alegria. Ele beijou a minha barriga todas as noites, falou com o nosso filho, fez planos para o futuro.

E agora, tudo se tinha transformado em pó.

E a razão era a sombra que sempre pairou sobre o nosso casamento. Sofia.

Ele nunca a tinha esquecido de verdade. E eu, na minha estupidez, acreditei que o nosso amor e o nosso filho seriam suficientes para a apagar para sempre.

Estava enganada.

            
            

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