A Verdade Oculta do Meu Marido
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Capítulo 3

Passei a semana seguinte num nevoeiro.

Lia tratou de tudo. Falou com um advogado, começou o processo de divórcio e filtrou todas as chamadas e mensagens do Pedro e da família dele.

Eu mal comia, mal dormia. A maior parte do tempo, ficava sentada a olhar para a parede, a reviver o momento da queda, a dor, o sangue.

Um dia, Lia sentou-se à minha frente com uma expressão séria.

"Clara, precisas de sair de casa. Nem que seja só por uma hora."

"Não quero," murmurei.

"Não foi uma pergunta."

Ela puxou-me do sofá e obrigou-me a vestir.

Fomos a um café perto da casa dela. O sol lá fora parecia uma ofensa pessoal.

Enquanto mexia no meu café intocado, o meu olhar vagueou pela rua.

E então, eu vi-os.

Pedro e Sofia.

Estavam sentados num banco de jardim do outro lado da rua.

Ela estava a chorar, e ele tinha o braço à volta dela, a abraçá-la, a murmurar palavras de conforto no seu ouvido.

O meu corpo gelou.

Era uma cena de uma intimidade dolorosa.

Ele estava a fazer por ela exatamente o que devia ter feito por mim.

Ele estava a consolar a sua dor enquanto a minha me consumia sozinha.

Lia seguiu o meu olhar e soltou um palavrão.

"Vamos embora, Clara."

Mas eu não conseguia mexer-me. Estava paralisada pela visão.

Era a confirmação de tudo o que eu já sabia, mas ver com os meus próprios olhos era diferente.

Era como se o chão se abrisse debaixo de mim.

Pedro levantou a cabeça e o seu olhar cruzou com o meu através do vidro do café.

O pânico inundou o seu rosto. Ele afastou-se rapidamente de Sofia, como se tivesse sido apanhado a fazer algo de errado.

E tinha sido.

Levantei-me abruptamente, a cadeira a arrastar-se ruidosamente no chão.

Saí do café, Lia a chamar o meu nome atrás de mim.

Atravessei a rua, sem olhar para os carros.

Parei em frente a eles.

Sofia olhou para mim, os seus olhos vermelhos de choro, mas com um brilho de triunfo.

Pedro levantou-se, as mãos no ar como se se estivesse a render.

"Clara, não é o que parece. Eu juro."

"Não é o que parece?" a minha voz era perigosamente calma. "Parece que estás a consolar a tua namorada. Estou errada?"

"Ela não é minha namorada! O pai dela está muito doente, ela está a passar por um momento difícil!"

"E eu?" perguntei, a voz a subir um pouco. "Eu não passei por um momento difícil? Onde estava o meu consolo, Pedro? Onde estavas tu quando eu perdi o nosso filho?"

As pessoas na rua começaram a olhar. Eu não me importava.

"Eu errei, Clara! Eu sei! Mas eu amo-te!"

Sofia levantou-se. "Deixa-a, Pedro. Ela está apenas a ser dramática."

Virei-me para ela, um fogo a acender-se dentro de mim.

"Dramática? Eu perdi o meu filho. O que é que tu perdeste, Sofia? A oportunidade de ter o meu marido só para ti?"

Ela recuou, o seu rosto a contorcer-se de raiva.

"Tu não sabes nada sobre nós!"

"Eu sei o suficiente. Sei que és uma sombra que ele nunca conseguiu deixar para trás. Mas agora, eu estou a deixá-lo para ti. Ele é todo teu. Espero que sejam muito felizes."

Virei-me para Pedro uma última vez.

"Nunca mais me procures. Para ti, eu morri juntamente com o nosso filho."

Dei-lhes as costas e afastei-me, sem olhar para trás.

Lia alcançou-me e passou o braço pelos meus ombros.

Eu não chorei. Naquele momento, não havia lágrimas.

Apenas um deserto gelado onde o meu coração costumava estar.

            
            

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